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Família Valença

Com as instruções que o desconhecido passou Charlotte fez exatamente o que ele disse. E depois de ter caído no lameiro, xingando todo o lugar, ela aprendeu uma lição: nunca peça informações a um desconhecido de dentes tortos.

Seguiu para a direção oposta, a estrada era um pouco mais estreita e a terra estava úmida, causando lama e barro nos pneus do carro. Como se já não bastasse ela ter ido para a direção contrária antes, quando viu a grande cerca de madeira e a grande porteira olhou por fora da janela atrás de uma campainha. O que obviamente não teria, já que estamos falando de fazenda e não apartamento de luxo no centro da cidade. O enorme nome estava escrito com letras maiúsculas.

FAMÍA VALENÇA!

Ela quase, quase pegou uma caneta para acrescentar o LI que faltava no família mas se conteve.

Para a sua felicidade tinha encontrado o lugar, e para sua tristeza iria ter que dormir e acordar rodeada de galinhas.

Quando viu um sino grande perto da porteira, parecendo mais sino daquelas igrejas católicas antiga do nordeste ela abriu a porta do carro e desequilibrou exatamente onde não pensou que seria.

Caiu de bunda no enorme cocô que ela nunca viu maior e ambas as mãos ao lado do corpo, menos mal ou as unhas enormes e postiças iriam para o lixo, Charlotte fez cara de nojo quando viu o enorme morro parecendo um vulcão em erupção de moscas a sua frente.

Jesus que a salve, nunca pensou que iria para o inferno antes mesmo de morrer.

— Que nojo.— Xingou aos quatro cantos da terra, levantou olhando para os lados, menos mal que não tinha ninguém e se talvez houvesse vizinho, no mínimo ficaria a uns 30 km. E bufando tocou o sino desesperadamente enquanto chacoalha a sua bota rosa choque de salto fino, caríssima.

— Maldição! Era nova.— passou a bota por uma parte da grama verde perto da porteira afim de limpar um pouco.

Quando ela levantou o olhar viu um senhor de meia idade, cabelos negros sujo de terra,camisa xadrez surrada e calça jeans gastas, ela se sentiu aliviada, ele sorriu de forma gentil e Charlotte acenou com a mão entrando no carro. Anselmo abre a enorme porteira e ela passa com seu automóvel rosa pink.

— Obrigada, senhor.— Tendo certa dificuldade em passar pela estrada de barro ela acelerou mais forte.— Vamos Penélope. Não me deixe na mão agora.— Arrancou, o motor roncou e finalmente saiu do lugar.

Ela já avistara a grande casa da fazenda, os matos e alguns animais por ali. Acelerou mais fundo e o carro roncou quando atolou na lama. 

Em que momento aquela enorme poça de água e terra surgiu na sua frente?

— Cuidado querida, choveu a noite toda. — Ouviu a voz feminina falar. Ela olhou para o céu azul, o sol ainda raiando e queimando sua pele queria entender ainda o clima tempo de Minas Gerais. Dona Zuleika estava na porta da casa com um vestido simples azul, o cabelo preto numa trança longa e sorri docemente para ela.— Precisa de ajuda?

— Claro que sim. — Respondeu abrindo a porta do carro e ao pisar fora atolou na lama até metade da perna tendo sua novamente preciosa bota caríssima, suja de barro.

Ou seja, cocô de vaca e lama em sua bota favorita.

Ela choramingou se apoiando no carro para não perder o equilíbrio, Charlotte vai até o porta mala com dificuldade abrindo o mesmo e tirando sua mala de rodinhas cor de rosa.

Tendo dificuldade para andar ela tenta equilibrar apoiando um dos braços no carro.

Zuleika correu até o curral onde viu seu filho mais novo passando um pente largo em um dos cavalos. O animal tem o nome de Oda.

— Meu fio a visita chegou, vá ajudar a pobre moça. — O cavalo rinchou em protesto.

— Perainda mãe, num terminei aqui.

— Seja educado, Bento. Ela é filha do...— Ele suspira revirando os olhos e deixa o pente de lado. Conhecendo o velho discurso da mãe o caipira abanou uma das mãos.

— Já sei sô.— Passando as mãos na calça surrada ele vai em direção a entrada da fazenda, antes mesmo de ver a cena da donzela presa na lama e o carro atolado ele ver sua porquinha por ali e a pegou nos braços dando beijos em sua cabeça.

— Uai. — Resmungou avaliando o desastre cor de rosa a alguns metros. — Quer ajuda, madame?— Ela escutou a voz grossa e sentiu um arrepio na espinha, olhou para o dono da voz vendo o homem másculo, alto e forte, usando camisa surrada com alguns botões abertos e deixando o peitoral amostra, macacão jeans velho, barba já crescida e cabelo até o ombro num rabo de cavalo para trás, seus olhos são negros que a fez hipnotizar. O encanto passou no momento que ele tirou um palito dos dentes e jogou para o lado cospindo no chão. Então ela olhou para o porco nos braços dele.— Océ não vai conseguir sair assim não.

— Oi? — Ela piscou confusa olhando nada menos que 1,92 de altura fazendo ela erguer bem a cabeça para encara-lo.— Desculpa, mais não é océ que se fala não.

— O que océ disse?— Ele pareceu confuso o que fez ela bufar ainda atolada na lama.

— Vai continuar estragando a língua portuguesa ou vai me ajudar?— Bento arqueou uma sobrancelha para ela. Charlotte não está em seus dias melhores, a hemorróida começou a doer outra vez e uma necessidade de coçar veio a tona.

— Toda mulher de cidade grande é maleducada ou océ é a única?— Ele rebateu deixando a porquinha no chão e cruzou os braços nos peitorais fortes, os bíceps definidos nas mangas enrroladas da camisa.

— Bento, modos meu fio. — Dona Zuleika aproximou e deu um peteleco em sua cabeça.— Vá ajudá-la. — Bento riu internamente vendo o desespero de Charlotte de tentar sair da lama, apoiou as costas na parede ao lado e ficou observando ela, uma mulher não mais que 25 anos, um corpo bonito e com uma blusa que parecia ser de grife cara, de bota de salto fino carregando uma mala de rodinhas. O que mais lhe chamou a atenção fora seus grandes olhos verdes e o cabelo curto loiro com mechas cor de rosa. De que circo ela saiu?

— Vai ficar me olhando assim seu tarado?— Ela bufou e ele sorriu cínico.

— Não vemu todo dia mulher de cidade grande. — Charlotte corou desviando o olhar, Tales apareceu ao seu lado comparado a Bento seu cabelo é maior e sempre está sorrindo e suas feições são mais marcantes, Tales é o irmão mais velho e um pouco mais alto também.

— A moça faz muito barulho.— Tales disse brincalhão a olhando de baixo para cima e vendo o desastre de pura lama. — Quer ajuda moça?

— Sim, por favor. Acho que é o único educado aqui.— Ela lança um olhar afiado para Bento que continua a olhar com desdém. Tales rindo aproximou dela puxando sua mala com uma força que ela desconhece. Ele rapidamente a ajuda sair, a mesma suja de terra e lama agora se ver fedendo também.

— Que lugar é esse? Isso aqui não existe no mapa.— Ela resmunga olhando em volta, Zuleika sorriu.

— Venha que vou te mostrar seu quarto.

— Sim, preciso de um banho quente.— Ouvindo isso, Bento riu alto fazendo um som de porco com o nariz entupido, ela olhou feio para ele.— Do que está rindo seu ogro?

Ele não respondeu, e afasta para perto do cercado com Tales ao lado.

— Vamos ter que tirar esse carro da lama.

— Bubiça, deixa aí até que a lama seque.

— Ela é bonita. Tá na hora de ocê juntar as escovas, Bentinho. Já está ficando véi. — O irmão mais novo olhou para o mais velho. Nem morto que ele ia arrumar uma mulher dessas pra casar. Certeza não sabia nem fazer uma farofa com galinha.

— Ela é bonita e bem burrinha.— riu.— mulher de cidade grande. Ainda vem falar estranho e me corregir.— ele revirou os olhos voltando a ir para junto das vacas. 

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