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ROMAN MIKHAILOV

Droga. Digo não?

— Você me deve mais uma. — Murmurro entredentes.

— Isso é um sim? — Kai abre o sorriso com o meu aceno. — Ufa, que bom. Achei que teria que recitar pelo menos uns dez argumentos. Inclino a cabeça pensativo com o que eu acabei de aceitar.

— Não sei se isso vai dar certo…

— Vai, é só não… — Kai estrala os dedos parecendo procurar a palavra certa.

— Fazer sexo com ela? — pergunto e rapidamente minha memória volta a visão de seu corpo na roupa molhada daquele dia. Os mamilos endurecidos e pontiagudos sobre o sutiã e vestido, pareciam implorar pela minha atenção. Talvez eu devesse ter rasgado o vestido e puxado o sutiã para os lados com os dentes, e fechado minha boca em torno de seus seios.

— Ai, cara. Me refiro a isso. — Ele faz cara de vómito — nunca mais diga isso, fico enjoado só de imaginar. Mas de qualquer forma, sei que você não quebraria a regra dos manos.

Sinto uma pontada de culpa pela recente fantasia. O que diabos há de errado comigo? Kieza é a irmã de Kai, temos a regra dos manos. Irmã de amigo, é amigo também. Embora agora não seja exatamente o caso, porque eu e ela não somos amigos ou como amigos. Eu tenho prazer em gozar com sua inocência e irrita-lá.

— Roman. — Kai chama. Suspiro, subtilmente balançando a cabeça.

— Tudo bem, eu só vou cuidar dela. Não se preocupe. — Garanto.

Eu iria me arrepender disso. Eu sei, mas aqui estou eu, assinando minha vida por outra, pelo menos pelo próximo ano. Não costumo fazer muitas promessas, mas quando as faço, cumpro. Comprometi-me com eles. O que significava que se eu prometesse a Kai que cuidaria de Kieza, eu cuidaria dela, e não estou falando sobre uma verificação de texto a cada duas semanas. Ela estava sob minha proteção agora.

— Você é o melhor — Kai diz, seu sorriso de volta agora que eu concordei em assumir um papel que eu não deveria de forma alguma. Eu não sou um protetor. Eu sou um destruidor. — Eu vou te agradecer de volta… com café. Chocolate. Ou sei lá. Você já tem tudo. E eu te devo um grande favor no futuro.

Eu quase forço um sorriso. Antes que eu possa responder, meu telefone toca e me despeço — Volto logo. Eu tenho que atender isso.

— Não tenha pressa, cara. — Kai vai até os pais, e eu me afasto. Assim que entro no quintal, eu atendo a minha chamada.

— Дядько — Eu digo, usando o termo ucraniano para tio. — Roman. — A voz de meu tio soa rouca na linha, áspera e cansada pelo desgaste da vida. — Espero não estar interrompendo.

— Não. — Olho para a festa através da imensa janela de vidro. — O casamento ainda nem começou oficialmente.

Do lado de fora, a muita movimentação dos convidados.

— O relatório que pedi? — ele pergunta.

— Está pronto.

— E a localização?

— Confirmada. — Giro o anel no meu dedo mindinho. — Mas ainda estamos a investigar.

Do outro lado da linha, o silêncio pesa.

— Você está demorando, Roman. — Ele diz, num tom que mistura impaciência e advertência. — O sangue não espera.

Fecho os olhos por um momento. O sangue não espera. Ele adora repetir isso.

— Eu sei o que estou fazendo.

— Espero que saiba. Seu pai achava o mesmo.

A menção dele é uma lâmina fina que corta fundo.

— Não fale dele. — minha voz sai baixa, controlada.

— Parece que você está perdendo o foco e brincando de agir como um qualquer. — o tio ri sem humor. — A ruína que caiu sobre ele é o que você chama de legado.

— A ruína é minha agora. Eu decido o que faço com ela.

— Então faça algo, garoto. — Ele cospe a última palavra e encerra a chamada.

O silêncio volta, pesado.

Guardo o telefone no bolso, mas as palavras ecoam.

Meu pai. O homem que me ensinou a lutar por poder científico e acabou morto por ele.

Talvez o amor e a lealdade sejam apenas palavras que os fracos usam para justificar suas perdas. Mas eu ainda estou aqui, vivo, e isso deve significar algo.

Respiro fundo, endireito o paletó e volto para dentro.

O casamento começa e me vejo tendo que ficar de lado e dar as mãos com Kieza.

Kai sobe ao altar, logo em seguida Rue que se dispõe ao seu lado, e o som do violino preenche o ar. Enquanto a cerimônia acontece, fico observando. Não acredito em finais felizes. Mas há algo reconfortante em ver alguém tentando alcançá-lo, na verdade, tenho quase a certeza de que eles alcançaram.

Quando os votos terminam e os aplausos começam, olho para Kieza e só falta ela soluçar de tanto chorar. Ela estava mais do que feliz.

Ao anoitecer, as pessoas já estavam reunidas do outro lado do jardim, curtindo a festa. Rue, a noiva do meu melhor amigo, surge em um vestido leve, sorrindo como se o mundo fosse feito apenas de luz.

Kai não tira os olhos dela.

E então, por puro masoquismo, meus olhos a procuram.

Kieza.

A garota que eu prometi proteger. Ela está linda. E não daquele jeito óbvio, de mulher que sabe o próprio poder, mas de forma involuntária, quase distraída. O vestido azul se molda ao corpo pequeno, e quando o vento passa, leva um pouco do seu cabelo e o meu equilíbrio junto.

Ela sorri para uma das amigas, e por um instante, tudo ao redor parece ficar em câmera lenta. Pego-me pensando como seria fácil me perder nesse sorriso.

E o quanto isso seria perigoso.

Kieza vira o rosto e me encontra. Por um breve instante, nossos olhares se cruzam. Há surpresa nos olhos dela, talvez por eu estar olhando para ela.

Desvio primeiro, porque se continuar, ela vai pensar demais.

A festa continua. Risos, música, brindes. E eu bebo, porque é mais fácil lidar com a ideia de promessas quando há álcool envolvido.

Kai se aproxima mais tarde, já meio tonto de felicidade e champanhe.

— Cara… você vai cuidar dela, certo?

— Já te disse que sim. — respondo, quase sem emoção.

Ele sorri, satisfeito, como se isso resolvesse o mundo.

Quando ele se afasta, Kieza aparece novamente a minha vista a poucos metros, distraída, com um copo de suco na mão.

Ela tropeça levemente, num degrau ou no próprio salto e eu me movo antes que perceba.

Seguro o braço dela.

— Cuidado.

Ela me olha, surpresa, os olhos arregalados e a boca entreaberta.

— Eu estava bem.

— Claro que estava. — Ironizo.

Ela revira os olhos e se afasta, murmurando algo que não entendo.

Sinto o impulso de deixá-la ir. Mas há algo em vê-la assim — frágil, mas desafiadora — que me prende.

E pela primeira vez em muito tempo, algo dentro de mim se move.

Algo que eu não queria que existisse.

Mais tarde, já no meu quarto, tiro o paletó e sento na cama, o telefone vibrando outra vez.

Mensagem de número desconhecido:

“O homem que matou teu pai está muito mais perto. Estamos observando.”

Fico olhando a tela até que as letras comecem a se desfocar.

O passado não me deixa ir. E agora, há uma garota no meio disso tudo, uma garota que eu prometi proteger.

Mas talvez o verdadeiro perigo... seja eu.

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