Mundo de ficçãoIniciar sessãoMia
Entrei no 38º andar do arranha-céu com o coração disparado. O corredor era amplo, silencioso, com paredes de vidro que davam para a cidade inteira. Cada passo parecia ecoar dentro de mim, lembrando que eu, Mia, a garota que só tinha contas atrasadas e uma geladeira quase vazia, estava prestes a ter uma entrevista em um lugar que parecia de outro mundo. Fui recebida por uma mulher elegante, cabelo preso em coque, com olhar firme e sorriso quase tímido: — Você deve ser a Mia — disse ela, estendendo a mão. — Sou Andrea, do RH. Acompanharei sua entrevista hoje. — Prazer, Andrea — respondi, tentando não tremer enquanto apertava sua mão. — Obrigada por me receber. A entrevista correu melhor do que eu jamais poderia imaginar. Contei sobre minha experiência, minha disciplina, e até sobre os problemas que havia enfrentado. Andrea parecia genuinamente interessada, fazendo perguntas que me fizeram sentir capaz e valorizada. — Excelente — disse ela no final, sorrindo. — Você tem um perfil promissor. Acho que pode se encaixar muito bem auxiliando na assessoria da diretoria. — Sério? — murmurei, surpresa. — Então… eu teria a vaga? — Sim — respondeu Andrea. — Você começa amanhã e, além disso, terá um bônus de contratação no seu primeiro pagamento. Saí do prédio cambaleando de emoção, liguei imediatamente para Jana: — Jana… — comecei, minha voz tremendo. — Era tudo real! Consegui a entrevista, e… vou começar amanhã! E ainda tem bônus! — MIA! — Jana gritou do outro lado — EU SABIA! EU SABIA! Que homem mágico te mandou aí hein! — Hahaha… não é sobre homens mágicos — respondi, rindo. — Depois conto tudo com calma. Enquanto desligava, senti meu sapato prender em uma das juntas da calçada. Pronto o dia estava perfeitinho de mais pra não acontecer nada. Tentei puxar, mas escorreguei, quase caindo de cara no chão. — Ai, não… — murmurei, tentando me equilibrar. De repente, braços fortes me seguraram. — Calma — uma voz suave disse. — Estou aqui. Olhei para cima e lá estava Elijah. Meu coração disparou de novo, mesmo depois de todo o dia de emoções. — Você está bem? — perguntou, firme, mas com um leve sorriso. — Sim… obrigada — gaguejei, ainda segurando o tentando me equilibrar no sapato. — Euuu eu… só estava tentando tirar o sapato… eee a entrevista… correu muito bem! Ele sorriu, e me ajudou a desprender o sapato da calçada, naquele instante, senti algo diferente no ar. — Que bom — disse Elijah. — Então, que tal comemorarmos? Podemos tomar algo rápido ali perto. Meu cérebro quase travou. — Eu… eu não sei… — comecei, hesitando. — Não se preocupe — respondeu, com aquele jeito calmo que era impossível de recusar. — É por minha conta. Considere um brinde pelo seu primeiro dia de trabalho. Eu relutante, mas algo em seu olhar fez meu “não” se transformar em um “ok”. Caminhamos até um bar ali perto, discreto, com luz baixa e música suave. Sentamos em uma mesa no canto. Elijah pediu dois drinks, e enquanto esperávamos, o silêncio entre nós não era constrangedor — era carregado, elétrico. — Então… como se sente? — ele perguntou, olhos escuros fixos nos meus. — Surreal — admiti, mexendo no canudo do drink. — Tipo… eu não consigo acreditar que tudo isso é real. Ele sorriu de um jeito que me fez perder o fôlego. — Eu acredito — disse calmamente, inclinando-se um pouco na minha direção. — E… você merecia. Meu rosto esquentou. Olhei para baixo, fingindo mexer no copo, mas senti seu olhar percorrer cada detalhe. — Você sempre é assim… sincera, direta? — perguntou, de forma quase provocativa. — Depende do dia — respondi, tentando soar casual, mas sentindo a tensão aumentar entre nós. — Hoje… acho que não tenho escolha. Elijah riu baixinho, um som que fez meu coração acelerar. Aquele flerte sutil começou a crescer, como uma corrente elétrica que nos conectava. Cada gesto, cada olhar, cada sorriso tinha peso. — E amanhã? — ele perguntou, a voz um pouco mais grave. — Quando você não tiver mais que lutar pela sua sobrevivência, quando seu novo emprego der a segurança que você tanto busca... você ainda será tão direta? Senti o desafio em sua pergunta, uma espécie de convite. Nossos olhos se encontraram, e por um instante, o bar inteiro pareceu desaparecer. Eram só eu e Elijah, a intensidade dos seus olhos penetrando os meus. Era um convite para algo mais, eu podia sentir. — Talvez — murmurei, e meu coração estava tão acelerado que parecia querer sair pela boca. — Talvez eu seja ainda mais. Ele não desviou o olhar. Pelo contrário, seu sorriso se alargou, e seus olhos escuros brilhavam com uma satisfação que me fez engolir em seco. Aquele flerte era inacreditável. Ele tinha me arranjado uma entrevista em uma empresa gigantesca (eu ainda não fazia ideia de como ele tinha feito isso), e agora estava ali, me olhando como se eu fosse a coisa mais fascinante do mundo. — E isso seria bom? — ele sussurrou, a voz baixa, íntima, apenas para mim. Meu corpo inteiro respondeu com um arrepio. Aquele era Elijah, o homem que eu confundi com um agiota e que, milagrosamente, me salvou de um desastre. Eu não sabia se ele era um empresário comum, um gerente, ou apenas um cara bem-sucedido, mas ele tinha uma aura que tornava impossível não prestar atenção. — Acho que sim — eu respondi, a voz quase um sussurro também. — Seria… muito bom. Ele estava prestes a falar algo mais, e eu senti que o ambiente ia pegar fogo. A mão dele moveu-se lentamente sobre a mesa, e eu prendi a respiração quando seus dedos se aproximaram dos meus, buscando um toque. É agora, pensei. O primeiro toque de verdade, o momento em que a eletricidade vai… Minha mão, claro, estava segurando o copo do drink, e com o nervosismo da aproximação dele, eu dei um pequeno espasmo. O copo escapou. — Ai, meu Deus! — gritei. O líquido voou da minha mão, derramando-se diretamente sobre a mesa de madeira e, pior, em cima da camisa social impecável de Elijah. Era um desastre completo: cubos de gelo escorregando, a bebida de cor escura manchando rapidamente o tecido branco. Elijah congelou. O momento romântico explodiu em uma nuvem de constrangimento e pingos de bebida. — EU SINTO MUITO! — eu disse, pulando da cadeira e tentando inutilmente limpar o estrago com um guardanapo minúsculo. — Eu sou muito desastrada, eu juro, eu não fiz por querer! Ele piscou algumas vezes, e a expressão séria dele deu lugar a algo que eu não esperava. Ele não estava bravo. Ele estava… rindo. Era uma risada baixa, rouca, que ele tentava segurar, mas que era impossível não notar. — Você… — ele conseguiu dizer, sacudindo a cabeça, com os olhos brilhando de diversão enquanto a água escorria pela sua gravata. — Você é inacreditável, Mia. — Sinto muito, sério, eu sou um desastre ambulante! — Olhei para a mancha em sua camisa, sentindo minhas bochechas queimarem. — Me desculpa, eu estraguei nosso brinde! Ele finalmente pegou um guardanapo maior e tentou limpar a mancha, ainda sorrindo. — Não estragou. Apenas tornou o momento inesquecível. — Ele me olhou de novo, e o flerte, por incrível que pareça, não tinha sumido. Na verdade, estava até mais forte. — E já que você me deve uma lavanderia, acho que teremos que nos ver de novo. Eu sorri, aliviada e ao mesmo tempo completamente abobalhada pela forma como ele lidava com a situação. Aquele homem era diferente de tudo que eu já tinha conhecido. Um completo mistério... E agora, um mistério com uma mancha de bebida na camisa. — Eu aceito. — Eu ri, sentindo o caos familiar me abraçar. Elijah se levantou e ajeitou o paletó preto (que felizmente estava seco), me olhando de cima a baixo com aquele brilho nos olhos. — Boa noite, Mia. E parabéns pelo emprego. Eu senti o chão sumir. A noite tinha terminado de forma caótica, mas de alguma forma, perfeita. Eu tinha um emprego, um aluguel quase garantido, e a promessa de um próximo encontro com o homem mais lindo, misterioso e… manchado que eu já tinha conhecido.






