Mundo ficciónIniciar sesiónMia
Eu cheguei no apartamento tão cansada que nem sabia se queria chorar, dormir ou rir da própria tragédia. Mas antes que eu pudesse decidir, ouvi a voz de Jana vindo do quarto: — MIA! — ela apareceu na porta como um furacão de cabelo desgrenhado e pijama de coelhos — ME CONTA AGORA! O AGIOTA ERA BONITO? Eu pisquei. — Jana… — NÃO! — ela levantou a mão, dramática — Eu preciso dessa informação pra viver. O agiota tem dentes? Ele é careca? Ele cobra com martelo? — ela fez um gesto estranho com as mãos — Ou é tipo aqueles criminosos charmosos que cobram sorrindo? — Jana, você não vai acreditar — falei, jogando a bolsa no sofá. Ela arregalou os olhos. — Meu Deus. Você está com esse olhar de “aconteceu coisa grande”. MIA, VOCÊ VENDEU UM ÓRGÃO? — NÃO! — respondi, rindo apesar de mim — Mas sente-se. Ela se jogou no sofá, comendo batata frita de um pacote aberto, como se fosse assistir a uma novela. — Ok — ela bateu palmas — começa do começo. Quem era o agiota? Suspirei fundo. — Então… não era o agiota. — O quê? — Eu sentei na mesa errada. Ela jogou o pacote de batatas pro alto. — NÃO! — gritou — MIA! VOCÊ FOI IMPLORAR DINHEIRO PRA PESSOA ERRADA? — Sim… — MEU DEUS DO CÉU, ISSO SÓ ACONTECE COM A GENTE! — ela segurou a barriga de tanto rir — Quem era o cara? Ele ficou bravo? Chamou a polícia? Eu lembrei do olhar de Elijah. Intenso. Calmo. Perigosamente… curioso. — Não — murmurei. — Ele só me ouviu. — Como assim “ouviu”? — Jana cruzou os braços, desconfiada. — Ele deixou você despejar toda sua vida na mesa dele? — Sim. E… — meu rosto começou a esquentar — ele foi legal. Tipo… muito legal. Jana ficou com a boca aberta. — Não… — Sim. — NÃO — ela repetiu, mais escandalizada — Mia, você confundiu um estranho… LINDO, imagino… com um agiota, e ele ficou pra te ouvir??? Eu assenti. — Ele até disse que podia me ajudar a conseguir uma entrevista. Jana arregalou os olhos como se eu tivesse dito que Deus havia descido no restaurante e me oferecido um empréstimo no Pix. — DESDE QUANDO O UNIVERSO É BONZINHO COM VOCÊ? — ela questionou, apontando o dedo na minha cara — Tem algo errado aí. Eu respirei fundo. — Eu sei. Eu também acho. Mas… eu não senti nada esquisito nele. Ele parecia… verdadeiro. — Verdadeiro tipo “psicopata que sorri bonito”? — ela perguntou. Eu ri. — Verdadeiro tipo… alguém que realmente queria ajudar. Só isso. Jana me encarou por longos segundos, depois levantou o dedo novamente. — Talvez ele tenha gostado de você… — Jana… — TÔ SÓ FALANDO! Olha pra você! Franqueza pura, caos ambulante… muito atrativo pra homem misterioso de terno preto. — Ele não disse o que faz — confessei. — Só o nome. Jana suspirou dramaticamente. — Isso tá MUITO suspeito. — Eu sei… mas não senti perigo. Ela me analisou de cima a baixo. — Você vai na entrevista amanhã? — Vou. Jana respirou fundo. — Ok. Então eu te acompanho até a porta, caso seja tráfico de órgãos. — Jana! Ela deu de ombros. — Melhor prevenir. Eu ri mais do que deveria, mas a verdade é que meu peito carregava algo estranho. Medo… e esperança. Uma mistura perigosa. NO DIA SEGUINTE Eu acordei cedo, nervosa a ponto de derrubar a escova de dentes três vezes na pia. Vesti minha melhor roupa — que não era nada demais — amarrei o cabelo com cuidado e tentei parecer menos pobrezinha desesperada. Jana me acompanhou até o ponto de ônibus, analisando cada carro suspeito como se estivesse numa missão secreta. — Se ele te mandar entrar num beco, você corre — ela instruiu. — Jana, por favor… — Se ele disser “tenho um trabalho especial pra você”, você corre MAIS RÁPIDO. — Jana… O ônibus chegou e ela me abraçou como se fosse minha mãe mandando a filha para Hogwarts. — Se ele tiver cara de milionário, me liga! — ela gritou enquanto eu subia. O problema é que ele tinha. E eu não parei de pensar nisso o caminho inteiro. No ponto final, desci e olhei para o endereço que Elijah havia mandado na noite anterior. Eu olhei o papel. Olhei o prédio. Olhei o papel de novo. E quase desmaiei. Era um arranha-céu. Vidros espelhados. Seguranças na porta. Logotipo enorme no topo. Carros de luxo na entrada. Aquilo não era um escritório comum. Era o tipo de empresa onde CEOs milionários trabalhavam. Eu senti minhas pernas tremerem. — Isso não pode estar certo… — murmurei para mim mesma. — Ele deve ter mandado o endereço errado. Tem que ser engano. De novo. Isso é muito… alto nível. Mas o número no papel batia exatamente com o prédio enorme à minha frente. Eu respirei fundo. — Ok, Mia. Entra. Se não for aqui, os seguranças te chutam pra fora e você vai embora com dignidade. Caminhei até a porta. Os seguranças me olharam. Depois olharam o papel na minha mão. E então… Um deles sorriu e abriu caminho. — A senhorita Mia? — Sou eu… — Pode entrar. Estão esperando você no 38º andar. Meus joelhos quase dobraram. QUEM diabos era Elijah? E que tipo de entrevista era aquela? Eu entrei no elevador com o coração na garganta… Porque, naquele momento, tudo dentro de mim dizia que minha vida estava prestes a mudar. E não fazia ideia se estava pronta.






