O Grupo Schneider acorda como uma fera adormecida: um organismo gigante, pulsando em silêncio entre aço e concreto.No ar da manhã, há uma eletricidade sutil, uma vibração que passa despercebida pelos distraídos... mas não por Dante Bittencourt.Ele sente.Ele sempre sente.Dante é um fantasma em trajes civis — discreto, mas impossível de ignorar para quem tem sensibilidade suficiente.Sua presença densa, calculada, é como a sombra que se projeta antes da tempestade.Onde Islanne Schneider vai, ele vai.Silencioso. Atento. Impecavelmente preciso.O novo guarda-costas da vice-presidente do Grupo Schneider é uma fortaleza de músculos, disciplina e olhar frio. Não fala mais do que o necessário. E observa, sempre observa.Para Islanne, isso é o maior combustível.A primeira investida do dia acontece em um corredor lateral do prédio administrativo. Ela sente sua presença antes mesmo de vê-lo, é como uma mudança sutil na temperatura do ar.— Você já pensou em usar sinos no pescoço? — dispar
A noite cai como um véu espesso sobre a mansão Schneider, silenciosa, imponente. Mas o fogo que arde lá dentro está longe de ser discreto.Ravi chega sem avisar.Não precisa.Islanne o sente antes mesmo de ouvir o ronco grave do motor. Ela já está com uma taça de vinho na mão, descalça, corpo envolto por um robe de seda preto que parece costurado na pele. Abre a porta antes que ele toque a campainha, os olhos incendiados.— Achei que não vinha. — a voz dela é baixa, quase um sussurro, mas carrega uma fome antiga.Ele apenas a agarra pela cintura, atravessa a porta com ela nos braços e a fecha com um chute seco. Em um estalo, a taça de vinho despenca no chão, estilhaçando-se num grito de cristal que ninguém ouve. O robe escorrega dos ombros dela como se o próprio tecido implorasse para tocá-la mais.Os lábios dele tomam os dela com brutalidade, um choque elétrico, um roubo e uma entrega. Islanne geme contra sua boca, agarrando-se ao pescoço dele como se fosse se afogar.Ravi a ergue do
O silêncio da madrugada se espalha pela mansão Schneider como uma névoa espessa e densa, abafando cada som, cada respiração. O mundo inteiro parece suspenso no tempo.No andar de cima, a porta do quarto entreaberta revela a visão que faz o sangue de Ravi ferver de novo.Islanne dorme de lado, nua sob lençóis amarrotados. Os cabelos se espalham pelo travesseiro como uma cascata sombria. Os lábios entreabertos, ainda inchados dos beijos desesperados que ele lhe deu. E aquele sorriso leve, saciado, como se tivesse sido conquistada... e perdida ao mesmo tempo.Ravi encosta na porta, cruzando os braços, absorvendo cada detalhe. A respiração dela, serena, quase inocente, contrasta brutalmente com a lembrança vívida dela se contorcendo sob ele, gemendo seu nome como uma súplica e uma maldição.Ele sorri de canto. Lento. Perigoso.Não há pressa.Islanne é veneno doce que vicia, corrompe, destrói, e ele quer cada gota desse tormento. Quer afundar até o pescoço na perdição que ela oferece.O so
O relógio digital pisca 18h12 quando Marta se despede de Monica com um sorriso suave nos lábios, ainda imersa no conforto de um dia produtivo. Há uma luz serena em seu olhar, a promessa de uma noite especial vibrando em seu peito.— Vou para casa preparar um jantar incrível pro Jonathan. — diz ela, abraçando a bolsa contra o corpo. — Hoje ele merece um carinho dobrado.Marta atravessa o estacionamento, onde as sombras já engolem os carros estacionados em uma penumbra quase sólida. O ar fresco da noite arrepia sua pele exposta e ela aperta a chave entre os dedos, um gesto instintivo de autoproteção.Mas a noite, essa velha traidora, fecha-se em volta dela com dentes invisíveis.Um estalo seco.Um puxão brutal.Um braço forte e agressivo se enrosca em volta de sua cintura, e o frio implacável do cano de uma arma se encaixa entre as suas costelas como uma sentença de morte.— Entra no carro. Agora, sua vadiia. — sibila o sequestrador contra o seu ouvido, a respiração dele quente e apodr
O som dos gritos ecoa pelo estacionamento como um trovão que rompe a calmaria traiçoeira da noite. Tudo acontece rápido, como o estouro de uma tempestade anunciada.— AGORA! — urra Eduardo, a voz rasgando o ar, carregada de pura fúria.Ele se lança como um míssil, rasgando a distância entre ele e o agressor. Agarra o braço do sequestrador com brutalidade, a arma voa de suas mãos, girando no ar como um pássaro ferido. Marta é empurrada brutalmente para longe, seu corpo rolando pelo chão áspero, um grito de dor escapando de sua garganta.Sem hesitar, Eduardo desfere um soco tão violento que o som do impacto reverbera, deixando o homem cambaleante. Antes que o agressor recupere o equilíbrio, Dante surge, preciso, letal. Um golpe seco atinge o pescoço. Outro, mais calculado, estilhaça o ombro. O sequestrador desaba, inconsciente, como uma marionete de cordas cortadas.No exato momento, Jonathan aparece. Um furacão de desespero e raiva atravessando o estacionamento.— MARTAAA!Seus olhos c
O corredor sombrio que leva até a sala de interrogatório parece se estender infinitamente. Cada passo de Jonathan é um anúncio de morte, um prenúncio de agonia. A porta de aço se fecha atrás dele com um estrondo ensurdecedor, isolando o local do mundo exterior. Lá dentro, o ar é pesado, úmido, e o cheiro metálico de sangue fresco domina tudo, misturado ao odor agridoce do medo.Na escuridão quase total, o homem amarrado à cadeira de metal luta contra as próprias amarras, inútil como um animal à beira do abate. O suor escorre em rios pela testa suja, misturando-se ao sangue que desce da testa cortada, pingando no chão de concreto. Seus olhos, arregalados de puro terror, vasculham as sombras em busca de misericórdia... mas encontram apenas o silêncio gélido da morte anunciada.De pé à frente dele, Eduardo é a personificação da ameaça silenciosa, braços cruzados, a expressão impassível como a de um carrasco antes da execução. Ao seu lado, Ravi ajusta lentamente as luvas pretas, como um c
O corredor do Grupo Schneider parece infinito. Cada passo de Jonathan ecoa pesado, um trovão abafado que vibra nas paredes revestidas de mármore frio. Ele sai da sala escura com as mãos ainda manchadas pelo horror que acabou de enfrentar e o sangue de um homem que ousou encostar em Marta. O sangue que agora gruda em sua pele como uma lembrança grotesca de que o mal existe, e que ele é capaz de combatê-lo... custe o que custar.Lá fora, o ar noturno é denso, pesado como um manto gélido que sufoca os seus pulmões. Mas, dentro do peito, o alívio arde, um alívio feroz, selvagem, primitivo, ela está viva. Ela respira. E o monstro... o monstro que ameaçou tudo o que Jonathan mais ama... jamais terá a chance de ferir outra pessoa.Atrás dele, um último grito agonizante ecoa da sala, rasgando o silêncio antes que Eduardo feche a porta com o pé, como se lacrasse o próprio inferno dentro daquela sala. A quietude que se instala é tumular, feita de medo, vingança e, paradoxalmente, de esperança.
O cheiro de sangue e desinfetante ainda impregna o ar, misturando-se ao frio cortante que vaza pelas paredes da enfermaria do Grupo Schneider. Cada passo de Jonathan ressoa pelo corredor como o bater de um coração aflito, e o mundo ao seu redor parece em suspensão, como se a qualquer momento pudesse desmoronar.Ele empurra a porta da enfermaria com uma força contida que denuncia o turbilhão dentro dele. No instante em que seus olhos encontram Marta deitada sobre a maca, seu peito se contrai num espasmo invisível. A respiração falha. Ali, tão pequena e frágil sob os lençóis brancos, ela parece uma versão quebrada da mulher forte que ele ama. A médica, de semblante sereno e firme, se adianta com o prontuário nas mãos, interrompendo seus pensamentos.— Senhor Schneider — começa ela, a voz calma — ela está estável. Já foi medicada, os exames estão normais. Em cerca de uma hora, poderá ir para casa.Jonathan avança dois passos, incapaz de se manter imóvel.— Tem certeza que não seria melh