O som ritmado dos saltos de Islanne ecoa pelos corredores do Grupo Schneider. Desde que Jonathan viajou para a filial nordestina, ela assumiu todas as responsabilidades da presidência e vice-presidência. A carga de trabalho a consome de tal forma que mal percebe o tempo passar. Quando Monica entra em sua sala com uma bandeja, trazendo dois pratos fumegantes, Islanne finalmente se dá conta de que já passou da hora do almoço.— Eu sabia que você ia esquecer de comer de novo — diz Monica, colocando a comida sobre a mesa.Islanne sorri cansada e faz um gesto para que sua secretária se sente ao seu lado.— Obrigada, Moni. Se não fosse você, eu desmaiaria aqui mesmo.Elas compartilham uma refeição tranquila, conversando sobre assuntos cotidianos, e comentam sobre a falta de Jonathan enquanto tomam um café após a refeição. Mas logo a rotina as chama de volta. Islanne se joga em reuniões exaustivas, assina contratos e resolve pendências inadiáveis. Quando finalmente volta à sua sala, sentind
Jonathan aperta os punhos sob a mesa de mármore enquanto assiste, com tédio e irritação, ao desfile de promessas vazias e palavras envenenadas que saem das bocas dos políticos à sua frente. O governador fala com pompa, os assessores assentem como marionetes bem treinadas, e alguns empresários cochicham entre si, claramente mais interessados em vantagens do que em desenvolvimento real. Mas Jonathan já conhece esse jogo. Sabe muito bem o que está por trás de cada aperto de mão suado e sorriso ensaiado. E ele está farto.— Chega. — Sua voz ressoa pela sala, cortando o burburinho como uma lâmina afiada. Todos se calam e o encaram, surpresos com sua interrupção. Jonathan se recosta na cadeira, encarando cada um dos presentes com olhos de aço. — Se essa reunião continuar nesse tom ridículo, vou encerrar a operação dessa filial agora mesmo.O governador pigarreia, tentando manter a compostura.— Ora, senhor Schneider, não precisa ser tão radical…— Preciso, sim. — Ele se inclina para frente
O silêncio o engole assim que cruza a porta de casa. Jonathan esperava encontrar luzes acesas, talvez o som baixo da televisão ou até mesmo os passos suaves de Marta pelo corredor. Mas nada. A mansão está mergulhada em uma quietude incômoda, quase cruel. Ele larga a mala no chão e solta um suspiro pesado. Por que diabos essa sensação de vazio o incomoda tanto?Ele sobe as escadas lentamente, como se esperasse que, a qualquer momento, Marta surgisse de algum canto. Mas a única coisa que encontra é o eco dos próprios passos. Passa pela cozinha e vê a louça lavada, a organização impecável, tudo feito por ela. Um pequeno sorriso puxa o canto de sua boca. Ela realmente cuidou de tudo.Ao chegar no corredor dos quartos, ele hesita diante da porta do quarto dela. A ideia de bater passa por sua mente, mas ele se controla. O que diria? Que queria vê-la? Que sentiu sua falta? Isso seria admitir demais, e ele não está pronto para isso.Ele se dirige ao próprio quarto, desfazendo os botões da cam
O dia de Jonathan se arrasta em um desgaste implacável. Reuniões intermináveis, decisões de alto impacto, contratos sendo fechados e outros tantos sendo desfeitos. Ele é um homem metódico, prático, disciplinado, mas algo dentro dele está fora de controle. A imagem de Marta surge em sua mente nos momentos mais inoportunos, perturbando sua concentração com lembranças e desejos que não deveria ter. Até mesmo durante uma conversa com sua irmã, Islanne, sobre investimentos em pesquisa, ele se pega distraído, tentando afastar o pensamento daquela mulher que não deveria ter importância alguma em sua vida.No final do expediente, exausto e inquieto, ele chama Mônica para um último briefing. A secretária lhe atualiza sobre os acontecimentos do dia, informando os relatórios pendentes e o andamento das operações. Jonathan ouve com atenção, mas sua mente continua presa em outro lugar. Quando a conversa termina, ele sai do escritório com uma decisão silenciosa: precisa espairecer, precisa aliviar
O envelope desliza suavemente pela mesa, interrompendo a observação cuidadosa de Marta. Ela ergue os olhos para Jonathan, que a observa com a expressão indecifrável de sempre.— Seu salário está depositado na conta. O cartão está dentro do envelope, junto com os detalhes. Tudo conforme o contrato, incluindo as horas extras e o adicional das refeições que você prepara para mim. Profissional, direto, sem brechas. Mas o ar entre eles parece carregado por algo que vai além de um simples acerto financeiro.Ela agradece com um sorriso tímido, mas ele já se distrai com o café e a tapioca que encontra sempre no mesmo lugar, preparados por ela. Come em silêncio, lança um olhar rápido na direção dela, depois desvia. Marta assente, sem conseguir esconder o brilho satisfeito nos olhos. Seu primeiro salário. Uma conquista que parecia impossível há pouco tempo.Jonathan termina o seu café da manhã, agradece a Marta. Ele se levanta, pronto para sair.— O que o senhor gostaria de comer na janta? —
Um mês depoisJonathan sente o peso do dia logo ao acordar, mas não sabe explicar o motivo. Algo dentro dele está inquieto. Como sempre, a xícara de café já o espera na mesa, preparada por Marta. Mas dessa vez, ele não come. Apenas toma um gole do café e sai sem dizer nada. A ausência de palavras parece criar um abismo entre eles, mas Marta não questiona. Apenas observa sua partida com um olhar que ele nunca percebe.Ele dirige sem rumo pela cidade, tentando organizar os próprios sentimentos, até que decide voltar para casa. Mas ao chegar, algo o surpreende. Marta não está lá. Ela nunca sai de casa. Onde diabos ela está?Sem conseguir ignorar a inquietação, vai até o escritório, tenta trabalhar, mas sua concentração é inútil. Levanta-se e vai até a cozinha. A garrafa de café ainda está lá. Ele se serve, sentindo a estranha ausência dela. Por onde anda, Marta?Horas depois, ao checar as câmeras do carro, vê que ele está em movimento. Com um clique, a imagem surge na tela, e ele a vê. M
3 meses depoisJonathan sente o corpo queimar de dentro para fora, ainda sente o gosto dela em sua boca, consegue ouvir o som dos seus gemidos, mesmo trancado em seu escritório, os olhos fixos na tela do computador, mas a mente vaga longe. Ele veio a evitando de todas as formas, passa direto, vira o rosto e nunca olha para a porta do quarto dela, evita ficar próximo a ela muito tempo, mas aprendeu a elogiar as refeições e isso tem feito bem a ela e a ele mesmo, ele imagina que assim evita repetir aquele oral que fez para ela, cena que ainda o castiga diariamente, quando sente o seu gosto na boca e ainda ouve os seus gemidos, o para piorar o castigo, nenhuma mulher com quem se aliviou conseguiu satisfazê-lo de verdade..Ele a viu rindo. Rindo com Eduardo, aceitando aquele maldito convite para o cinema e para mata-lo de raiva, ontem ouviu eles combinando de passar o final de semana juntos, na casa de Eduardo. A imagem da risada dela, leve, solta, enquanto aquele homem a olhava, não com
O desejo reprimido é como um incêndio subterrâneo. Queima em silêncio, invisível, até que algo o faça emergir e consumir tudo ao redor. Jonathan sente esse fogo dentro dele toda vez que olha para Marta. E tenta ignorar. Mas como ignorar algo que o persegue até nos sonhos?A rotina na mansão se mantém, ambos fingindo que nada existe além do que foi estabelecido desde o começo. Ele toma seu café da manhã, hoje com bolo caseiro e pão feitos por Marta. O aroma delicioso preenche a cozinha, mas não tanto quanto a presença dela, que o observa discretamente enquanto ele come. Jonathan sente o olhar sobre ele e se força a não encará-la. Engole o café e, ao sair, avisa:— Hoje não precisa fazer o jantar para mim. Vou sair, não tenho horário para voltar.Ela apenas assente com um pequeno sorriso, escondendo qualquer vestígio de desapontamento. A verdade é que Marta já se acostumou a esperar por ele, a servi-lo, a manter o ritmo da casa de acordo com a presença dele. E quando ele não está... alg