CAPÍTULO 2 - MELISSA

Três horas depois, eu estava sentada diante do espelho no quarto de Mabel, irreconhecível. A maquiadora trabalhava havia mais de uma hora tentando disfarçar os estragos que o choro causara em meu rosto. Ela aplicava compressas geladas nos meus olhos inchados, usava corretivo em camadas para esconder as marcas vermelhas ao redor das pálpebras e espalhava uma base pesada para uniformizar minha pele manchada pelas lágrimas. Fazia todo o possível para realçar meus olhos verdes com sombras douradas que conseguiam diminuir o inchaço, antes de pintar meus lábios com um vermelho vibrante que Mabel costumava usar. Era um tom que eu jamais escolheria para mim.

Meus cabelos foram escovados e deixados soltos em ondas perfeitas que caíam pelos meus ombros, exatamente como minha irmã sempre usava para parecer mais sensual. Isso era completamente oposto ao meu estilo de rabo de cavalo simples ou cabelos presos discretamente.

O vestido de noiva era exatamente o que eu esperaria de Mabel: sensual e ousado, com um decote enorme nas costas que deixava minha pele nua desde a nuca até o cóccix. O tipo de roupa provocante que minha irmã usava para chamar atenção, e que eu evitaria a todo custo. Sempre preferi roupas simples e conservadoras, vestidos longos que cobrissem meu corpo adequadamente, cores neutras que não chamassem olhares curiosos. Mas agora eu estava envolta em metros de seda e renda que gritavam sensualidade e confiança.

— Pronto, ninguém vai notar que a senhora chorou — anunciou a maquiadora com satisfação profissional. Mas eu via nos meus olhos uma tristeza que nenhuma maquiagem conseguia esconder.

— Obrigada, você fez um trabalho maravilhoso — respondi com gentileza genuína, porque não era culpa dela a bagunça em que minha vida estava.

Quando a mulher saiu do quarto carregando seus materiais, fiquei sozinha diante do espelho e comecei a praticar desesperadamente como ser Mabel. Treinei seu sorriso confiante, a forma como ela inclinava levemente a cabeça quando flertava, como balançava os cabelos e seu jeito de falar. Repeti diversas vezes as frases que a ouvi dizer, mas tudo soava forçado e artificial saindo da minha boca.

O pânico tomou conta de mim quando pensei no que viria depois da cerimônia: a lua de mel. Perguntei-me se Leonardo continuaria sendo um homem frio e calculista até mesmo na cama. Como eu fingiria ser a mulher experiente e confiante que Mabel sempre fora, quando eu era virgem e mal beijara um homem adequadamente? Eu sabia que Mabel já havia dormido com Leonardo algumas vezes durante o noivado. Ela me contara em detalhes como ele era incrível na cama, dominante e habilidoso, como sabia exatamente como tocar uma mulher para deixá-la louca de desejo, mas mantendo sempre aquela frieza emocional.

Ela nunca se importara. Apesar de ter uma personalidade detestável, Leonardo era um homem com uma beleza masculina devastadora, capaz de atrair qualquer mulher que quisesse. Imaginei seu corpo escultural nu diante de mim: músculos definidos, ombros largos, aquele rosto masculino, capaz de tirar o fôlego de qualquer mulher. Como seria sentir suas mãos experientes percorrendo minha pele com a maestria que Mabel fazia questão de contar? Como ele reagiria quando descobrisse minha virgindade óbvia, minha inexperiência gritante, minha incapacidade de corresponder a algo que nunca vivera?

Leonardo podia ter a personalidade de um iceberg, mas fisicamente era um deus grego e, segundo Mabel, na cama ele se transformava numa força da natureza. Era intenso, possessivo, devastadoramente sensual, mas sempre sem entregar o coração. Ele era experiente e descobriria minha virgindade no primeiro toque hesitante, na primeira reação nervosa, no primeiro momento em que meu corpo reagisse de forma diferente do que ele esperava de uma Mabel que já conhecia intimamente. Mas havia algo que eu ainda não tinha considerado: como esconderia o sangue que anunciava a perda da minha virgindade?

— Leonardo vai saber que não sou ela no segundo em que me tocar. Como vou sustentar esta mentira? — murmurei para mim mesma, imaginando o escândalo e a humilhação que se seguiriam à descoberta.

Observei minha imagem no espelho e um pensamento aterrorizante tomou conta da minha mente: o que Leonardo faria quando descobrisse a verdade? Eu conhecia sua reputação de homem implacável nos negócios, alguém que destruía qualquer pessoa que tentasse enganá-lo ou prejudicá-lo. Sabia que descobrir que fora forçado a se casar com a irmã errada o deixaria numa fúria devastadora. Ele já me odiava antes disso; agora teria mais um incentivo. Poderia me processar por fraude, destruir minha vida e a de toda a minha família publicamente, contar para toda a sociedade como fomos capazes de tamanho engano, transformando-nos em um escândalo que mancharia nosso nome para sempre.

A imagem de Leonardo descobrindo a mentira na lua de mel, vendo a fúria gélida tomar conta daqueles olhos azuis, sentindo a força daquelas mãos me afastando com nojo e desprezo, fez-me tremer de terror absoluto. Ele era poderoso o suficiente para nos destruir completamente — financeiramente, socialmente e emocionalmente. Não teria nenhuma piedade de uma família que o humilhou dessa forma.

O medo dessa retaliação cruel me deu uma estranha determinação: eu precisava ser perfeita, precisava convencê-lo completamente de que era Mabel, precisava dar um jeito de esconder minha virgindade, porque a alternativa seria ser esmagada por sua vingança.

— Ele não pode descobrir. A partir de hoje, sou Mabel Oliveira e, em algumas horas, Mabel Salazar — declarei para meu reflexo, sentindo uma força desesperada nascer do próprio terror.

Três horas depois, eu estava na entrada da igreja. O vestido de noiva de Mabel ajustava-se perfeitamente ao meu corpo, o véu cobria parcialmente meu rosto maquiado para disfarçar meu choro recente. Minhas mãos tremiam segurando o buquê de rosas brancas enquanto eu ouvia a marcha nupcial ecoar no interior da igreja.

Meu pai agarrou meu braço com força desnecessária, sussurrando em meu ouvido como uma ameaça final:

— Lembre-se: você é Mabel agora. Uma palavra errada e destruímos você.

Minha mãe ajustou o véu com brutalidade, seus dedos gelados roçando minha face:

— Sorria. Leonardo não pode desconfiar de nada.

As grandes portas de madeira da igreja começaram a se abrir lentamente, revelando o corredor repleto de convidados elegantemente vestidos, todos esperando para ver a união perfeita entre duas famílias.

No altar, de costas para mim, estava Leonardo Salazar, vestindo um smoking bem cortado que realçava sua figura masculina e autoritária. Mesmo de longe, eu conseguia sentir a frieza que emanava dele, a mesma frieza com que sempre me tratara durante todos esses anos. Respirei fundo, fechei os olhos por um segundo e sussurrei uma oração silenciosa.

— Eu sou Mabel. E Leonardo nunca saberá que casou com a mulher errada.

A marcha nupcial aumentou de volume e eu dei o primeiro passo em direção ao maior engano da minha vida, sabendo que, quando Leonardo se virasse e me visse caminhando em sua direção, eu faria de tudo para que pensasse que estava recebendo Mabel. Faria o possível para que acreditasse que se casara com a mulher que ele escolhera, a que sempre fora digna de seu amor. Ele nunca saberia que quem caminhava até o altar era a irmã que ele desprezava, aquela que ele deixara claro que jamais seria digna dele.

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