As portas da igreja se abriram e senti que estava caminhando para a minha própria execução. Quando Leonardo se virou e me viu avançando em sua direção ao lado do meu pai, seus olhos azuis se fixaram nos meus com uma intensidade que quase me fez tropeçar. Apesar de duzentos pares de olhos me observarem, apenas um par, o dele, parecia importar. A marcha nupcial tocava, mas tudo o que eu conseguia ouvir eram os batimentos descompassados do meu coração. Eu sabia que aquele era o momento da verdade: ou convencia Leonardo de que era Mabel, ou minha vida acabaria antes mesmo de começar.

Imitei a confiança de Mabel, caminhei com os ombros erguidos e o queixo ligeiramente erguido, forçando um sorriso que eu esperava parecer radiante em vez de aterrorizado. Cada passo sobre o tapete vermelho me aproximava do homem que me desprezava, mas que agora me observava acreditando estar recebendo outra mulher. A ironia cruel dessa situação fazia meu estômago se revirar.

Leonardo estava deslumbrante em seu smoking preto perfeitamente ajustado, a gravata de seda realçando a cor intensa dos seus olhos, e sua postura ereta irradiando poder e autoridade. Quando nossos olhares se encontraram, percebi uma leve desconfiança em sua expressão, como se notasse alguma mudança sutil que não conseguia identificar na mulher com quem acreditava estar se casando. Esforcei-me para manter o sorriso confiante de Mabel enquanto me aproximava, sabendo que aquele homem magnificamente masculino estava prestes a se tornar meu marido sob as circunstâncias mais falsas possíveis.

— Você está deslumbrante. Mal posso esperar para irmos para a nossa lua de mel — disse ele, ao me receber no altar.

Entrei em pânico.

Fingi um olhar travesso, procurando o que responder, tentando evitar que minhas bochechas corassem e denunciassem minha falta de jeito com aquele tipo de comentário. Por Deus, ninguém nunca me dissera algo assim.

— Espere para ver o que farei com você mais tarde! — respondi, entrando ainda mais em pânico com a promessa que fazia, sentindo-me pecaminosa por pronunciar tais palavras dentro de uma igreja.

Para minha sorte, meu pai me entregou ao noivo com um sorriso forçado que escondia toda a chantagem emocional que me levara até ali, sussurrando um “cuide bem dela” que soava mais como ameaça velada do que pedido paterno. Leonardo aceitou minha mão, e um choque elétrico percorreu minha pele quando seus dedos longos e quentes envolveram os meus. Era a primeira vez em toda a vida que ele me tocava.

O padre iniciou a cerimônia e começou a falar sobre amor, comprometimento e honestidade no casamento, cada palavra soando como uma acusação direta à farsa que eu vivia. Observei o perfil perfeito de Leonardo enquanto ele escutava atentamente, sua mandíbula definida, os olhos azuis penetrantes e a barba cerrada impecável. Perguntei-me se ele teria dito que estava ansioso para a lua de mel se soubesse com quem realmente estava se casando.

— Matrimônio é uma união sagrada baseada na verdade e na confiança mútua — declarou o padre, e senti vontade de fugir correndo dali.

Leonardo apertou minha mão com mais firmeza quando chegamos à parte dos votos, como se quisesse me transmitir segurança. Mas o toque dele apenas intensificava minha culpa e meu desespero. Quando o padre se dirigiu a ele primeiro, ouvi sua voz grave e masculina pronunciar palavras lindas sobre fidelidade e companheirismo eterno, cada promessa soando sincera na boca de um homem que sempre sonhei beijar.

— Mabel, prometo ser seu companheiro fiel em todas as circunstâncias da vida. Prometo protegê-la, respeitá-la e construir ao seu lado um futuro sólido baseado na confiança e no respeito mútuo. Você será minha esposa, minha parceira nos negócios e na vida, e juro que nossa união será próspera e duradoura.

Ele falava com a mesma confiança que demonstrava em tudo, olhando diretamente nos meus olhos através do véu. Mas suas palavras soavam mais como um contrato comercial do que uma declaração de amor. Quando chegou minha vez, minha voz tremeu de forma vergonhosa. Eu não sabia o que Mabel teria dito — provavelmente falaria de si mesma —, então minhas palavras foram as que eu diria ao homem com quem me casaria. Saiu um discurso entrecortado e hesitante, algo que jamais teria acontecido com minha irmã.

— Eu... eu prometo amá-lo com toda a força do meu coração, ser sua companheira em todos os momentos e entregar minha vida completamente a você — gaguejei, as palavras carregadas de uma emoção tão intensa que até eu me surpreendi, sentindo o suor frio escorrer pelas minhas costas.

Leonardo franziu levemente as sobrancelhas, claramente estranhando minha forma de falar e a intensidade emocional. Provavelmente nunca vira tamanha fragilidade numa mulher que sempre fora assertiva e confiante. Sussurros discretos ecoaram entre os convidados, comentando como a noiva parecia nervosa demais, diferente do habitual. Talvez fosse apenas meu pânico, mas parecia que a qualquer momento alguém gritaria que eu era uma fraude.

— Você está bem? — Leonardo sussurrou discretamente, sua preocupação genuína fazendo meu coração se partir ainda mais.

— Estou apenas... emocionada com o casamento — menti, forçando um sorriso trêmulo.

O padre continuou seu discurso, pediu que repetíssemos os votos clássicos e finalizou a cerimônia com palavras sobre a união eterna. Então chegou o momento em que eu acreditava que minha farsa ruiria.

— Pode beijar a noiva — anunciou o padre solenemente, e senti meu mundo parar completamente.

Leonardo se voltou para mim, os olhos azuis queimando com intensidade glacial. Ele ergueu lentamente o véu que cobria meu rosto, e eu sabia que em segundos seus lábios tocariam os meus. Aquele era o beijo que podia me denunciar, capaz de revelar quem eu realmente era.

Prendi a respiração, desesperada, porque no instante em que sua boca se aproximasse, toda a farsa poderia desmoronar.

E, quando ele diminuiu a distância entre nós para me dar o beijo que selaria o casamento, apenas uma certeza atravessou minha mente: se ele descobrisse, eu estaria perdida.