capítulo 87

📓 Narrado por Clara — Hospital Universitário, 10h em ponto

O som do hospital era sempre o mesmo passos apressados, o bip ritmado das máquinas, o murmúrio dos funcionários trocando plantão.

Mas aquele som tinha um efeito estranho em mim: me acalmava.

Talvez porque, ali dentro, ninguém me olhava como a secretária do CEO

Eu voltava a ser só um corpo que luta pra continuar funcionando.

Fiz o cadastro na recepção, peguei a senha, e a pulseira com meu nome foi presa ao pulso.

“CLARA ALBUQUERQUE — 27 ANOS — AMBULATÓRIO DERMATOLÓGICO.”

Sempre a mesma etiqueta. Sempre o mesmo lembrete de que o corpo não me pertence totalmente.

O cheiro de clorexidina me cercava, misturado com café velho e desinfetante.

Sentei em uma das cadeiras azuis, respiração controlada quatro tempos pra inspirar, quatro pra segurar, seis pra soltar.

Era o jeito de manter o controle quando tudo doía e eu não podia admitir.

— Clara Albuquerque? — chamou uma voz firme.

Era a técnica de enfermagem,
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