📓 Narrado por Clara — Hospital Universitário, 10h em ponto
O som do hospital era sempre o mesmo passos apressados, o bip ritmado das máquinas, o murmúrio dos funcionários trocando plantão.
Mas aquele som tinha um efeito estranho em mim: me acalmava.
Talvez porque, ali dentro, ninguém me olhava como a secretária do CEO
Eu voltava a ser só um corpo que luta pra continuar funcionando.
Fiz o cadastro na recepção, peguei a senha, e a pulseira com meu nome foi presa ao pulso.
“CLARA ALBUQUERQUE — 27 ANOS — AMBULATÓRIO DERMATOLÓGICO.”
Sempre a mesma etiqueta. Sempre o mesmo lembrete de que o corpo não me pertence totalmente.
O cheiro de clorexidina me cercava, misturado com café velho e desinfetante.
Sentei em uma das cadeiras azuis, respiração controlada quatro tempos pra inspirar, quatro pra segurar, seis pra soltar.
Era o jeito de manter o controle quando tudo doía e eu não podia admitir.
— Clara Albuquerque? — chamou uma voz firme.
Era a técnica de enfermagem,