Ana Kelly narrando
Cada passo meu parecia pesar toneladas. O som da minha respiração e do meu salto batendo no chão de madeira era engolido pelo silêncio tenso que tomava a casa. O barulho que a gente tinha ouvido vinha dali… daquele cômodo ao final do corredor. Eu sabia. Algo dentro de mim gritava.
Meu coração batia acelerado. A mão suava, mas se mantinha firme na bolsa. Meu dedo já tocava o fecho. Um instinto que nasceu no dia em que tiraram minha filha de mim.
Avancei, ignorando o frio na barriga. Karen e dona Luísa vinham logo atrás, em silêncio, mas eu sentia a tensão no ar como se fosse palpável.
Passei pela porta meio entreaberta, os olhos atentos aos cantos da sala… e foi nesse momento que o tiro ecoou.
— AH! — o grito escapou quando senti o impacto rasgar meu ombro esquerdo. A dor foi aguda, quente, ardida. Mas eu não caí. Tropecei, cambaleei para o lado, mas minha mão já estava dentro da bolsa. Em um só movimento, puxei a arma que o Jonas tinha colocado ali mais cedo, aponta