Luísa narrando
O cheiro de pólvora ainda estava no ar. A fumaça fina dançava no cômodo como um lembrete cruel de que a vida, às vezes, exige decisões duras. Eu olhava para o corpo de Bárbara estirado no chão, os olhos vidrados, a expressão de quem perdeu até na hora da morte… mas o que realmente me cortava o coração era ver Ana Kelly ali, com o ombro ensanguentado, ofegante, trêmula… e de pé.
— Você não devia ter feito isso, minha filha… — falei, num fio de voz, me aproximando com cautela. — Não devia ter se jogado pra cima da bala daquele jeito.
Ela virou o rosto na minha direção, ainda com o olhar cheio de fúria misturado com dor, e respondeu entre os dentes:
— Ela se sentia um pitbull, dona Luísa. Mas sabe o que é? Eu me sentia um pinscher… daqueles que ninguém leva a sério. Só que ela só latia porque achava que ninguém ia morder de volta. Hoje… eu mordi.
Senti um arrepio nas costas. Era como se aquela menina forte, que eu tinha aprendido a amar como filha, tivesse sido rasgada de