Estevão Narrando
O portão rangeu quando eu empurrei. A casa da Karen tinha aquela aura bagunçada de gente livre, cheia de planta, som de MPB ao fundo e cheiro de incenso no ar. Sempre que eu vinha, ela me recebia daquele jeito dela, meio debochada, meio intensa. Mas hoje... o clima está diferente.
— Finalmente apareceu, hein — ela falou, encostada na parede da sala, uma taça de vinho na mão, só de shortinho e camiseta larga. — O rei do sumiço.
— Tava resolvendo umas merdäs. Cadê o sorriso? — soltei, tentando aliviar, mas ela só apontou com a cabeça pro sofá.
— Senta aí. Tem coisa que você precisa saber.
Eu estranhei o tom. Sentei. Karen veio andando devagar, parou na minha frente, cruzou os braços. O olhar dela tava sério.
— O Anthony... você sabe que ele pegou a Ana Kelly, né?
— Como assim “pegou”? — franzi a testa, já sentindo o sangue subir. — Ele tava atrás dela, mas não sabia que ele tinha voltado aqui.
— Voltou. E levou ela pro castelo dele. Trancou. Como se ela fosse um objeto.