Ana Kelly narrando
A luz do consultório improvisado me ofuscava um pouco, mas nada se comparava à dor pulsando no meu ombro. O tiro tinha passado de raspão, mas a queimadura e o susto ainda latejavam na minha pele como se tivesse sido mais profundo. A enfermeira limpava com cuidado, e eu só olhava para a porta, ansiosa para sair dali.
Assim que terminei os primeiros socorros, vesti a blusa com dificuldade e fui em direção ao saguão da clínica. O coração acelerou quando vi dona Luísa e Karen do outro lado. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, as duas vieram correndo até mim.
— Ai, minha filha… — disse dona Luísa me abraçando com cuidado, com os olhos marejados. — Nunca mais faz uma dessa comigo.
Karen já estava do outro lado, segurando minha mão.
— Tá tudo bem agora… você tá viva, e forte, e foi até o fim. Que mulher! — ela sorriu.
Eu respirei fundo, engolindo o choro que vinha desde o momento que puxei aquele gatilho.
— Eu só quero ver minha filha… — sussurrei. — Eu não vejo a h