Luísa narrando
A manhã começou estranha. Ana Kelly mal havia dormido, os olhos fundos denunciavam o esgotamento, mas ela fingia força. Sentou no sofá abraçada a uma almofada, com o olhar perdido pra porta do quarto que seria da filha. Eu tentei distraí-la com um chá, tentei conversar, mas ela só balançava a cabeça, como se o corpo estivesse presente, mas a alma vagando em busca da Antonela.
Eu me sentei ao lado, segurei sua mão, e mesmo sem palavras, senti a dor dela pulsando em silêncio. Era como se ela quisesse gritar, mas não tivesse mais forças nem pra isso.
— Minha filha, você precisa comer… — tentei, mesmo sabendo que ela não ia aceitar.
Ela me olhou, os olhos marejados, e sussurrou:
— Pra quê, Dona Luísa? O que adianta alimentar um corpo que tá vazio por dentro?
Aquilo me cortou. Me doeu de um jeito que não sei explicar. Levantei, fui buscar uma toalha pra enxugar o suor frio que começou a escorrer da testa dela. Ela tremia. Estava pálida. A respiração começou a acelerar, e ent