Ana Kelly narrando
Sair desse hospital sem a minha filha foi como sair de mim. Eu nem sabia onde começava minha dor e onde terminava minha alma. O mundo lá fora tava girando, o céu continuava azul, as pessoas passavam na rua, mas dentro de mim tudo tava destruído.
Eu não consegui levantar da cama sozinha. Anthony me ajudou a colocar o vestido que a Dona Luísa tinha separado, e cada botão fechado era como uma ferida sendo reaberta. Quando vesti o sapato, senti como se eu estivesse traindo a Antonela. Como se, ao aceitar sair daquele lugar, eu estivesse deixando ela pra trás.
Desci a rampa de saída com o coração em pedaços. Os seguranças abriram caminho, o carro já tava pronto, e a mão da Dona Luísa não largava da minha. Mas nada me confortava.
— Eu já falei com a pediatra e com a minha amiga obstetra — ela disse, num tom calmo, mas firme. — Ela vai até lá em casa daqui a pouco. Eu não quero mais que toquem em você nessa clínica. A gente cuida de você direito, minha filha. Pode confiar.