Ana Kelly Narrando
As paredes desse lugar parecem encolher a cada hora. A umidade escorre pelas pedras, como se até o concreto sentisse a minha dor. Eu consegui muito esforço me sentar no canto, com as costas latejando e os pulsos marcados pelas cordas. A respiração sai curta, pesada... e cada segundo que passa só aumenta o peso do medo dentro de mim.
Eu não sei quanto tempo faz desde que fui tirada do carro. Sei que doeu. Sei que gritei. E sei que ninguém respondeu. Desde então, sou só eu. Eu e o silêncio. Eu e o barulho dos meus próprios pensamentos.
— Deus... — sussurro, quase sem voz, olhando pra cima mesmo sem saber se tem alguma fresta no teto. — Se o Senhor me escuta... por favor... manda alguém. Me tira daqui. Me salva...
Uma lágrima escorre, e eu nem tento limpar. Já perdi a conta de quantas vieram antes dessa. Tô exausta. Machucada. Fria. Mas o que mais dói não é o corpo. É o sentimento de abandono. A certeza de que a Brenda não vai parar. Ela vai me matar. E talvez ninguém