Anthony Narrando
A noite já tava alta quando eu saí da empresa. O prédio quase inteiro apagado, só uma ou outra luz acesa nos andares de manutenção. Meu pai tinha saído mais cedo e deixado o carro comigo. Pegou um Uber, disse que tava com dor de cabeça e queria descansar.
No caminho, minha cabeça fervia. Reuniões puxadas, decisões importantes e um vazio no peito que não tava sabendo explicar. A Ana tinha saído às quatro da tarde, me mandou mensagem avisando que ia embora sozinha, que não precisava se preocupar. Disse que ia pegar um Uber.
Mas já era quase onze da noite.
Estacionei o carro na garagem e subi pro apartamento com o coração apertado. A luz da sala tava acesa, e assim que entrei, ouvi a voz da minha mãe:
— Cadê a Ana Kelly?
Parei. Respirei fundo.
— Ela saiu da empresa às quatro… disse que ia pegar um Uber. Era pra já estar aqui, né?
A Luísa, que tava na cozinha, veio com a expressão carregada.
— O quê? Ela não chegou?
— Não. — olhei no relógio — E já são quase onze horas.