Capítulo 5
Tudo bem, tudo bem.

Em breve, eu não os veria mais. Não atrapalharia mais a família perfeita deles com a Willow.

Voltei para a escola, me mudei para o dormitório e continuei aperfeiçoando minhas anotações de pesquisa sobre ervas.

No dia seguinte, enquanto eu seguia para a biblioteca com o Derek, cruzei com Axel e Ryker.

Fingi que não os vi, encontrei um lugar para sentar, abri meu caderno e continuei escrevendo, palavra por palavra.

Willow os arrastou para se sentarem não muito longe de mim.

De vez em quando, eu ouvia a risadinha da garota.

Axel e Ryker afagavam a cabeça dela:

— Seja boazinha. Em alguns dias, vamos para o Caribe.

Ouvir aquelas palavras tornou difícil até respirar. Levantei e fui tomar um pouco de água.

Quando voltei, meu caderno estava nas mãos de Willow.

Axel e Ryker tinham ido pegar livros nas prateleiras.

Willow estava sozinha, arrancando páginas do meu caderno.

Um alarme disparou na minha cabeça. Corri até ela e arranquei o caderno de suas mãos.

Ela se jogou imediatamente no chão, de forma dramática, bateu a testa numa cadeira e gritou de dor.

Os estudantes na biblioteca se viraram para olhar.

Com as mãos trêmulas, abri meu caderno.

Cinco anos de anotações de pesquisa sobre ervas, todas em pedaços.

A maioria das folhas estava molhada, a tinta borrada e ilegível.

Na única página que restou intacta, ela havia desenhado um rosto sorridente e grotesco com marcador.

Aquele rosto me encarava com os dentes à mostra, ameaçador e zombeteiro.

Minha mente foi tomada por um zumbido branco.

Então Axel correu até mim, exigindo, sem sequer investigar:

— Ember, por que você empurrou a Willow?!

Ryker ajudou Willow a se levantar, o rosto tomado pela raiva.

Cada vez mais pessoas se reuniam ao nosso redor.

Derek, que estava procurando livros, se aproximou às pressas.

Olhou para o meu caderno, depois para minha expressão, e entendeu de imediato.

— Suas anotações foram destruídas?!

A expressão furiosa de Axel congelou enquanto ele se aproximava e olhava para o meu caderno.

Depois de um longo momento, franziu a testa:

— Isso não pode ser verdade. A Willow não faria...

— Vamos embora. — Disse calmamente a Derek, sem esperar Axel terminar.

Que estranho.

Eu deveria estar furiosa.

Deveria ter perdido o controle, como em tantas outras vezes, gritado com a Willow ou até mesmo batido nela.

Depois, teria brigado amargamente com Axel e Ryker enquanto eles a defendiam e mimavam.

Mas, naquele momento, eu só queria ir embora.

Discuti com eles por quatro anos.

Quatro anos de discussões intermináveis, sempre com o mesmo desfecho.

Agora, eu não queria mais lutar.

De qualquer forma, em poucos dias eu partiria.

Recolhi meu caderno arruinado e saí da biblioteca.

Atrás de mim, Axel me seguiu.

Ouvi a voz dele, fria como sempre, mas com um leve traço de desconforto:

— Me dá o caderno. Vou tentar restaurar para você.

Respondi com indiferença:

— Não precisa.

Eu iria embora em breve, de qualquer forma.

Aquelas anotações tinham sido feitas para o Ryker, que um dia demonstrara interesse por fitoterapia.

Caminhei em direção ao fim do corredor.

Algo pareceu mudar repentinamente em Axel.

Aquele homem que não quisera trocar sequer uma palavra comigo por anos de repente me alcançou e segurou meu braço.

— Ember, o que... O que está acontecendo com você ultimamente?

A voz dele carregava uma pontinha de ansiedade.

Mas eu não me virei.

Apenas estendi a mão e afastei a dele com delicadeza.

Ficamos em silêncio por um tempo, até ele falar de novo:

— A Willow é só uma menina.

— Se ela rasgou mesmo, não deve ter sido de propósito.

Então era isso.

Ele tinha medo que eu guardasse rancor da Willow e, tomada pela raiva, a empurrasse escada abaixo de novo?

E eu que, por um instante tolo, pensei que ele pudesse, só desta vez, ficar do meu lado.

Senti o canto da boca se contrair. Ri por dentro da minha própria ingenuidade.

Entrei no elevador e apertei o botão para fechar as portas.

Aquele coração que sempre se recusara a desistir, agora enfim se acalmava, tornando-se um lago imóvel, sem mais ondulações.

De algum modo, a tristeza já não estava mais ali.

Enquanto as portas se fechavam, murmurei suavemente:

— Tudo bem. Não se preocupe.

Ryker correu na direção do elevador, talvez tentando impedir que as portas se fechassem, mas já era tarde.

No último vislumbre, achei ter visto pânico e confusão crescendo nos olhos dele.

Antes de partir, revisei minha bagagem uma última vez.

Ao meio-dia, Derek me convidou para almoçar e discutir o projeto de pesquisa sobre envenenamento por prata.

Ao sairmos do restaurante, Ryker me ligou de repente.

Atendi, mas ele permaneceu em silêncio por um longo tempo.

Achei que tivesse ligado por engano e estava prestes a desligar, quando ele finalmente falou:

— Quando você vai voltar para casa?

Fiquei surpresa.

Não pude evitar me perguntar se ele não teria ligado querendo falar com a Willow.

Ainda assim, respondi:

— Estou ocupada com a escola ultimamente, então não vou voltar.

Ryker insistiu:

— E hoje à noite?

Eu não entendia aquele súbito interesse.

Mas inventei uma desculpa de qualquer forma:

— Tenho compromisso com colegas esta noite.

Outro silêncio longo se seguiu.

Depois de um tempo, ele continuou, meio sem jeito:

— Hoje é o meu aniversário. E do Axel também.

Fiquei sem palavras por um instante.

Durante muitos anos, fui eu quem organizou os aniversários deles.

Comprava os bolos, reservava os lugares, escolhia os presentes com meses de antecedência.

Mas neste ano...

Derek pegou meu celular da minha mão e disse:

— A Ember preparou presentes de aniversário pra vocês dois. Vocês vão ver quando chegarem em casa.

Olhei para Derek, surpresa, e ele me lançou uma piscadela.

Ele explicou que tinha enviado a Axel e Ryker um pacote com a prova da minha aceitação no projeto de isolamento de quinze anos, junto com gravações da diretora do orfanato confirmando a farsa da identidade da Willow.

Soltei uma risada baixa e balancei a cabeça.

Se eles acreditassem ou não, já não importava mais.

Peguei minha mala já pronta e comprei a próxima passagem disponível.

Deixei a escola e fui ao aeroporto com Derek.

Quando o avião alcançou trinta mil pés de altitude, tudo na Cidade do Norte foi desaparecendo lentamente da minha vista.
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