O dia em que me preparei oficialmente para entrar no Instituto de Pesquisas Confidencial foi o terceiro após minha chegada à alcateia vizinha.
O Diretor Chen, responsável pelo instituto, nos levou para almoçar.
Depois de várias rodadas de bebida, todos já estavam um pouco embriagados.
Ao final, muitos ao redor da mesa tinham os olhos vermelhos.
O Diretor Chen nos disse para fazermos uma última ligação para a família ou para amigos, e então acrescentou com seriedade:
— Se alguém estiver com medo ou arrependido, ainda há tempo de desistir.
As pessoas ao meu redor começaram a pegar seus celulares e fazer ligações. O silêncio era quebrado apenas por alguns soluços abafados.
Fiquei sentada em silêncio por um longo tempo antes de finalmente pegar meu celular e abrir o Facebook.
Vi que Axel havia atualizado o status.
Eles tinham levado Willow para o Caribe.
Nas fotos, o mar era deslumbrante como uma paleta de cores derramada pelo céu.
Willow usava o lindo vestido da Deusa da Lua.
Ela olhava para trás, na direção da câmera, de uma praia sem fim, com os olhos semicerrados de felicidade.
A voz do Diretor Chen interrompeu meus pensamentos:
— Ember, faça uma ligação.
— Depois disso, ninguém sabe quantos anos vão passar até você ter outra chance.
Apertei o celular com força, os nós dos dedos ficando brancos.
Depois de um longo tempo, finalmente disquei.
Mas foi a voz alegre de Willow que atendeu:
— Irmã, você quer alguma coisa?
Minha voz saiu rouca:
— Onde eles estão?
Willow respondeu com leveza:
— Você diz meus irmãos?
— Eles me pediram para atender. Disseram que não têm tempo para conversar e que é para eu anotar o recado.
Ao fundo, ouvi a voz elevada de Axel:
— Desliga o celular e vem aqui.
A voz de Willow assumiu um tom satisfeito.
Fingindo inocência, mas sem conseguir esconder o orgulho e a alegria por causa da pouca idade.
— Irmã, o que você queria mesmo? Posso passar o recado.
— Ah, e aquela caixa que você tinha deixado em casa? Meus irmãos disseram que não queriam os presentes de aniversário, então joguei a caixa fora. Você não vai ficar brava, né?
Meu coração foi se acalmando aos poucos, até que enfim me senti livre de qualquer apego.
Falei com frieza:
— Nada.
E encerrei a chamada.
Depois que todos terminaram suas ligações e o almoço, começamos a entrar no instituto de pesquisas.
Apenas uma porta nos separava do mundo lá fora.
Removi o chip do celular, quebrei-o ao meio e joguei no lixo.
Atravessei a porta sem olhar para trás.
Depois de apenas uma semana no Caribe, Axel decidiu que deviam voltar para casa.
À medida que o Festival da Lua Cheia se aproximava, Willow insistiu para que ficassem para o feriado, dizendo que haveria celebrações especiais no Caribe.
Axel, por instinto, quis recusar.
Apesar de a alcateia já estar de recesso e ele não ter mais trabalho para o resto do ano, por algum motivo que não sabia explicar, aquela viagem ao exterior parecia incompleta.
Tinham se passado apenas sete dias desde que saíram, mas a sensação era de que haviam suportado uma ausência muito mais longa.
Ele tentou pensar em uma boa desculpa para voltar.
Antes que conseguisse formular uma, Ryker falou com suavidade:
— Podemos voltar outra hora, se você quiser aproveitar mais.
— Tenho assuntos da alcateia para resolver que não podem mais esperar.
Willow, ainda tomada pela empolgação da viagem, protestou:
— Mas você disse pra Ember que não ia cuidar de nada da alcateia durante o Festival da Lua Cheia!
Ryker se calou, parecendo culpado enquanto olhava pela janela.
Willow fez uma careta de desprezo, largou o bichinho de pelúcia novo e saiu correndo.
Axel olhou para o ursinho abandonado no chão.
De algum modo, lembrou-se de que era exatamente esse o estilo que Ember amava quando era criança.
Como tinha sido Ember quando pequena?
Axel tentou lembrar, mas percebeu que mal conseguia.
Tudo o que lhe vinha à mente era Ember gritando e chorando, exigindo que tirassem Willow dali.
Depois, a Ember adulta cada vez mais silenciosa e distante.
Não se mostrava mais ansiosa para conversar com ele ou com Ryker, sempre dizia que estava ocupada com a escola e mal voltava para casa.
De vez em quando, quando Willow estragava alguma coisa dela, ela perdia o controle, mas logo se recompunha e dizia com frieza e calma:
— Não tem importância.
Cada vez mais, preferia ficar no dormitório da escola.
Às vezes, Axel a encontrava pelo campus.
Num instante ela estava rindo com colegas, e no seguinte ao vê-lo seu rosto se fechava num silêncio incômodo.
Axel pegou o ursinho do chão.
De repente, teve a sensação de ter perdido algo importante.
Quando foi que ele perdeu isso?
Aquela Ember voluntariosa, carinhosa, quando foi que ela desapareceu?
A voz um tanto fria de Ryker interrompeu seus pensamentos:
— Vou voltar hoje à noite.
— Se Willow quiser ficar e brincar, você pode continuar com ela.
Axel ergueu os olhos bruscamente, notando algo como inquietação nos olhos de Ryker.
A mesma inquietação que ele próprio sentia no peito.
Quase por impulso, de forma urgente, Axel respondeu:
— Eu também volto hoje à noite.
Ryker não disse mais nada, apenas começou a arrumar a bagagem em silêncio.
Eles aterrissaram na Cidade do Norte na noite seguinte.
Durante toda a viagem de volta, a testa de Axel latejava sem motivo aparente.
Quando chegaram em casa, Ember não estava.
A governanta veio recebê-los.
Axel entregou o casaco, perguntando com aparente desinteresse:
— Ember ainda não voltou?