Os executores eram investigadores experientes. A situação estava ficando cada vez mais clara para eles. Só havia uma possibilidade real: eu já estava morta. Ao vê-los chegar a essa conclusão, senti uma onda de alívio. Finalmente! Vão encontrar meu corpo antes que se torne nada além de ossos e os assuste ainda mais. O chefe dos executores levou suas descobertas mais recentes até meu pai. — Sr. Morgan, agora suspeitamos que Scarlett tenha sido vítima de um crime. Precisamos da sua total cooperação com nossa investigação. — Afirmou gravemente. Meu pai zombou da sugestão. — Impossível. Ela estava atacando a Elise. Como ela poderia estar morta? — Mas antes do ataque à sua parceira, Scarlett pareceu desaparecer completamente do mundo. Não há registros de compras, nem rastros de comunicação nada. Sr. Morgan, isso lhe parece possível para uma pessoa viva? O rosto do executor era sério como a morte, mas meu pai permaneceu cético. — Claro que é possível. Eu cancelei todos os ca
— Não, Scarlett, não minha filha, não pode ser. — Ele repetiu, a voz quebrando. O médico legista da matilha chegou em minutos, o rosto sombrio enquanto observava a cena. Ela se ajoelhou ao lado do que restava de mim, cuidadosa para não alterar as provas. — A vítima está morta há várias semanas, com base no estado de decomposição. — Afirmou de maneira clínica. — E essas queimaduras... — Ela examinou as partes carbonizadas dos meus restos. — Isso não foi causado por um único evento. O padrão sugere exposição repetida às chamas. A expressão do chefe dos executores se escureceu. — A casa de fogo. Foi projetada para disparar fogo em intervalos. — Isso é consistente com o que estou vendo. — Confirmou a legista. — Não foi um acidente nem um ato único de violência. Isso foi tortura prolongada. O chefe se aproximou, mas antes que ele pudesse falar, meu pai o agarrou pela perna. — Chefe, isso não é real, não é? Isso não é minha filha, certo? — Sua voz estava desesperada. Uma fa
— Como está aquela loba rebelde? Ela já percebeu que estava errada?Na imensa mansão do Beta, a pergunta de meu pai ecoou como um trovão em um céu claro. Os membros da matilha nas proximidades se tensionaram visivelmente, seus olhos abaixando-se para evitar o olhar dele.O mordomo da matilha respondeu tremendo, as mãos apertadas umas contra as outras:— Senhor, a Srta. Scarlett ainda está na casa de fogo.Os dedos de meu pai, batendo impacientemente no apoio de madeira da poltrona, se contraíram, e sua mandíbula se travou ao exalar com força.— Fui muito leniente com ela o tempo todo. Por isso ela se tornou tão sem lei, ousando queimar a Amber usando sua arma. Ela precisa aprender uma lição.O mordomo, ainda com algum resquício de compaixão, disse, sua voz mal acima de um sussurro: — Mas a casa de fogo é usada para punir criminosos lobisomens, e o fogo lá dentro é muito intenso. Mesmo o lobo mais forte vai sentir dor... será que a Srta. Scarlett... — Ha, dor? — Meu pai se levantou ab
Vinte anos atrás, Elise terminou o relacionamento com meu pai e, obedientemente, se casou com um Alfa rico e poderoso de outra matilha, seguindo o arranjo feito pela sua família. Eles haviam sido namorados desde a infância, mas a família dela considerava meu pai inferior a eles. — O filho de um Beta nunca será suficiente para a nossa filha. — Haviam lhe dito. Com o tempo, as sortes mudaram. O homem rico perdeu seu status, enquanto meu pai que antes era apenas um lobo pobre se casou com minha mãe e se transformou em um Beta bem-sucedido. A família da minha mãe tinha conexões, inteligência e lealdade. Com a ajuda deles, meu pai subiu na hierarquia, tornando-se o respeitado Beta da matilha. Tudo foi tão dramático. Então, minha mãe morreu de doença, e Elise se divorciou do marido. A coincidência no tempo não foi por acaso. Elise estava rondando, esperando o momento certo para retomar o que ela achava que lhe pertencia por direito. Para meu pai, essas foram duas notícias maravi
Naquela noite, depois que todos na mansão haviam adormecido, o mordomo se dirigiu para a casa de fogo. Seus ombros estavam curvados pela preocupação, uma lanterna trêmula em sua mão envelhecida. Antes mesmo de chegar ao prédio de pedra, ele já podia sentir o fedor insuportável. — Deusa Lua, tenha piedade. — Ele sussurrou, os olhos umedecendo-se. Quanto mais se aproximava, mais forte o odor se tornava. Fluidos desconhecidos começavam a vazar por debaixo da porta, já atraindo moscas e larvas. Uma terrível sensação de presságio se formou em sua mente. Eu estava diante dele, embora ele não pudesse me ver, minha forma espectral bloqueando seu caminho. — Volte agora, Edward. — Eu disse, embora minha voz não pudesse alcançar seus ouvidos. — Não olhe. É realmente repulsivo. Se você ver, nunca conseguirá dormir bem. Salve-se dessa lembrança. O mordomo era um bom homem. Ele já havia tentado defender minha causa, mas sua posição era muito baixa, e ele precisava desse emprego bem r
Devido ao calor escaldante que percorreu a casa de fogo durante dez dias, meu corpo havia se transformado além do reconhecimento. Minha forma de loba, normalmente esguia e poderosa, estava carbonizada e retorcida pela morte. Somente meus olhos permaneciam distintos: bem abertos e vidrados de terror, fixados para sempre em uma silenciosa acusação. As queimaduras repetidas haviam arrancado a maior parte do meu pelo, deixando pedaços de pele queimada aderidos aos ossos abaixo. Em alguns lugares, a carne havia derretido completamente, expondo os restos esqueléticos. — Oh... Deus... — Uma jovem empregada engasgou, antes de se curvar para frente. Vários empregados imediatamente correram para longe, vomitando violentamente contra as paredes externas da casa de fogo. Meu pai empurrou a multidão atônita, o rosto contorcido de incredulidade enquanto ele adentrava a casa de fogo. Quando seus olhos caíram sobre meu corpo, suas pupilas se contraíram até se tornarem minúsculas, e o sangu
Olhando para trás, Edward e os empregados nem sequer conseguiam olhar para os meus restos mortais, quanto mais limpá-los. Seus rostos se contorceram de horror enquanto se afastavam da porta da casa de fogo, vários cobrindo as bocas para tentar sufocar seus suspiros.— Sr. Edward, o que fazemos? — Perguntou uma das empregadas, a voz trêmula enquanto seus olhos alternavam entre o corpo carbonizado e o mordomo. — Eu não consigo tocar... nisso. Não consigo.O rosto de Edward envelheceu muito em questão de minutos. Suas mãos tremiam enquanto ele removia suas luvas brancas com um gesto deliberado, quase cerimonial, e as atirava no chão. O gesto carregava o peso de três décadas de serviço, agora encerradas.— Eu peço demissão. — Disse com firmeza, a voz cortando o silêncio horrorizado. — E sugiro que todos façam o mesmo. Nenhum emprego vale isso.Sua declaração provocou um efeito imediato. Os outros empregados começaram a acenar com a cabeça e a murmurar em concordância, o medo se espalhando
Naquela noite, Amber se deitou em sua cama e tirou um pedaço de papel debaixo de seu travesseiro. Seus movimentos eram furtivos, como se temesse ser descoberta. Fiquei surpresa ao ver que ela tinha encontrado meu conjunto de papelaria pessoal: aquele com o emblema de lobo prateado que minha mãe me deu no meu décimo sexto aniversário. O papel marfim e os envelopes combinando eram a minha posse mais preciosa, algo que eu usava apenas em ocasiões especiais. Nem percebi quando Amber havia o tirado do meu quarto. — Então é aqui que estava... — Murmurei, sem jeito, observando os dedos dela traçarem o logo em relevo. Ela estudou uma das minhas antigas cartas por um momento, comparando a caligrafia com a dela. Então, começou a imitar cuidadosamente minha escrita na folha em branco. Sua caneta se movia com traços deliberados, sua língua saindo ligeiramente para fora, concentrada, formando palavras surpreendentemente semelhantes à minha própria escrita. — Você é assustadoramente boa niss