Por causa de um acidente que resultou na queimadura da filha do primeiro amor do meu pai, ele ficou furioso e me trancou na casa de fogo onde criminosos lobisomens eram punidos. Meu pai, Beta da matilha, me olhou com repulsa estampada no rosto: — Não tenho uma filha tão cruel. Você vai ficar aqui e refletir sobre o que fez. Eu implorei desesperadamente por misericórdia, reconheci meu erro, suplicando para que ele me soltasse. Tudo o que recebi em resposta foi sua ordem implacável. — A menos que ela esteja morta, ninguém pode libertá-la. A casa de fogo ficava isolada à beira do território. Por mais que eu gritasse por ajuda, ninguém podia me ouvir. Ele designou o mordomo para configurar o local, fazendo com que o fogo fosse disparado a cada duas horas. As queimaduras eram insuportáveis, e minha cura de lobisomem mal conseguia me manter viva entre as sessões. Dez dias depois, ele finalmente se lembrou de que tinha uma filha e decidiu me libertar. Mas o que ele não sabia era que eu já havia morrido naquela casa de fogo, sem jamais voltar.
Ler mais— Não, Scarlett, não minha filha, não pode ser. — Ele repetiu, a voz quebrando. O médico legista da matilha chegou em minutos, o rosto sombrio enquanto observava a cena. Ela se ajoelhou ao lado do que restava de mim, cuidadosa para não alterar as provas. — A vítima está morta há várias semanas, com base no estado de decomposição. — Afirmou de maneira clínica. — E essas queimaduras... — Ela examinou as partes carbonizadas dos meus restos. — Isso não foi causado por um único evento. O padrão sugere exposição repetida às chamas. A expressão do chefe dos executores se escureceu. — A casa de fogo. Foi projetada para disparar fogo em intervalos. — Isso é consistente com o que estou vendo. — Confirmou a legista. — Não foi um acidente nem um ato único de violência. Isso foi tortura prolongada. O chefe se aproximou, mas antes que ele pudesse falar, meu pai o agarrou pela perna. — Chefe, isso não é real, não é? Isso não é minha filha, certo? — Sua voz estava desesperada. Uma fa
Os executores eram investigadores experientes. A situação estava ficando cada vez mais clara para eles. Só havia uma possibilidade real: eu já estava morta. Ao vê-los chegar a essa conclusão, senti uma onda de alívio. Finalmente! Vão encontrar meu corpo antes que se torne nada além de ossos e os assuste ainda mais. O chefe dos executores levou suas descobertas mais recentes até meu pai. — Sr. Morgan, agora suspeitamos que Scarlett tenha sido vítima de um crime. Precisamos da sua total cooperação com nossa investigação. — Afirmou gravemente. Meu pai zombou da sugestão. — Impossível. Ela estava atacando a Elise. Como ela poderia estar morta? — Mas antes do ataque à sua parceira, Scarlett pareceu desaparecer completamente do mundo. Não há registros de compras, nem rastros de comunicação nada. Sr. Morgan, isso lhe parece possível para uma pessoa viva? O rosto do executor era sério como a morte, mas meu pai permaneceu cético. — Claro que é possível. Eu cancelei todos os ca
O executor assentiu. — O senhor tem alguma ideia de onde está sua filha? — Não sei onde aquela pequena besta foi. Scarlett desapareceu há semanas. — Disse meu pai, frio, aos executores, com o rosto impassível. — Entendemos, Sr. Morgan, mas continuaremos a busca. Pedimos sua contínua cooperação com nossa investigação. — Respondeu o chefe dos executores, com um tom respeitoso, mas firme. A verdade é que, por mais que os executores da matilha procurassem, nunca me encontrariam. Ainda estava deitada na casa de fogo, meu corpo em um estado avançado de decomposição. Logo, seria apenas ossos. Como poderiam encontrar alguém que nunca se foi? Os executores vasculharam o território, determinados a me encontrar. Revisaram as imagens de segurança de estabelecimentos na área, mas tudo o que encontraram foram flashes de alguém usando minhas roupas, sempre com uma máscara e um chapéu que obscureciam o rosto. Nada conclusivo. Como lobos rastreando um fantasma, procuraram por semanas. Qu
Após deixar nossa mansão, Lydia continuou me enviando cartas, cada uma mais frenética que a anterior. Meu conjunto de escrita permaneceu sob a posse de Amber, o papel elegante vibrando a cada batida urgente na porta, enquanto os mensageiros entregavam a correspondência de Lydia. Amber, talvez temendo que Lydia pudesse contatar o Alfa, forjou uma resposta rápida usando meu material de papelaria: — Não reporte ao Alfa, estou bem. A mensagem não tinha nada a ver com o meu estilo habitual de escrita: muito curta, muito fria. Em vez de tranquilizar Lydia, ela apenas aumentou suas suspeitas, e suas cartas ficaram ainda mais desesperadas. Crescendo nervosa, Amber escondeu meu conjunto de escrita no tanque de água do banheiro, então partiu com meu pai e Elise para as suas "férias". Eu os segui, meu espírito ligado aos membros vivos da família que haviam causado a minha morte. Durante a viagem, além das atividades turísticas de costume, meu pai levou Elise a um curandeiro especializ
Naquela noite, Amber se deitou em sua cama e tirou um pedaço de papel debaixo de seu travesseiro. Seus movimentos eram furtivos, como se temesse ser descoberta. Fiquei surpresa ao ver que ela tinha encontrado meu conjunto de papelaria pessoal: aquele com o emblema de lobo prateado que minha mãe me deu no meu décimo sexto aniversário. O papel marfim e os envelopes combinando eram a minha posse mais preciosa, algo que eu usava apenas em ocasiões especiais. Nem percebi quando Amber havia o tirado do meu quarto. — Então é aqui que estava... — Murmurei, sem jeito, observando os dedos dela traçarem o logo em relevo. Ela estudou uma das minhas antigas cartas por um momento, comparando a caligrafia com a dela. Então, começou a imitar cuidadosamente minha escrita na folha em branco. Sua caneta se movia com traços deliberados, sua língua saindo ligeiramente para fora, concentrada, formando palavras surpreendentemente semelhantes à minha própria escrita. — Você é assustadoramente boa niss
Olhando para trás, Edward e os empregados nem sequer conseguiam olhar para os meus restos mortais, quanto mais limpá-los. Seus rostos se contorceram de horror enquanto se afastavam da porta da casa de fogo, vários cobrindo as bocas para tentar sufocar seus suspiros.— Sr. Edward, o que fazemos? — Perguntou uma das empregadas, a voz trêmula enquanto seus olhos alternavam entre o corpo carbonizado e o mordomo. — Eu não consigo tocar... nisso. Não consigo.O rosto de Edward envelheceu muito em questão de minutos. Suas mãos tremiam enquanto ele removia suas luvas brancas com um gesto deliberado, quase cerimonial, e as atirava no chão. O gesto carregava o peso de três décadas de serviço, agora encerradas.— Eu peço demissão. — Disse com firmeza, a voz cortando o silêncio horrorizado. — E sugiro que todos façam o mesmo. Nenhum emprego vale isso.Sua declaração provocou um efeito imediato. Os outros empregados começaram a acenar com a cabeça e a murmurar em concordância, o medo se espalhando
Último capítulo