Mundo ficciónIniciar sesiónChego ao trabalho carregando o copo de café do meu chefe e vou direto para a sala do Marcos, sei que ele deve estar irritado por causa do meu atraso. Hoje eu realmente me atrasei bastante e como funcionária e acionista minoritária não deveria fazer disso um hábito.
Paro em frente à porta, respiro fundo e depois de tomar coragem bato à porta. Ouço a voz dele pedindo para entrar e assim que adentro a sala vejo que ele está em pé perto da janela ao telefone, espero parada em pé próxima a porta. Vendo que não terminei de entrar, ele faz um sinal para que me sente na cadeira em frente a sua mesa. Vou até a cadeira e me sento. Falando ao telefone, sua voz soava grave e confiante, ele parecia estar pronto para enfrentar qualquer desafio, afinal ele era o dono da empresa e ele só tinha vinte e sete anos. Discretamente olho para ele e o mesmo estava impecável em seu terno preto, que realçava sua altura e musculatura, combinando perfeitamente com seu cargo. Seus cabelos escuros que chegavam até um pouco acima de seu ombro estavam penteados para trás de forma cuidadosa e seus olhos castanhos escuros pareciam mais claros sob a luz do dia que entrava pela janela. Olhando melhor vejo que os primeiros botões de sua camisa estavam abertos no pescoço, revelando um pouco de sua pele levemente bronzeada dando-lhe um ar saudável e atraente. Eu senti uma onda de atração ao olhar para ele, e não pude deixar de me perguntar onde ele tinha estado para ficar bronzeado. Será que ele estava passando um tempo na praia? A imagem dele na praia vem na minha mente, e é uma imagem e tanto. Sem sombra de dúvidas ele é um homem que ao entrar em um ambiente chamava a atenção de todos ao redor. Eu sabia que eu não devia estar pensando assim, afinal, aqui ele era meu chefe e eu era apenas uma funcionária. Mas eu não conseguia evitar o meu interesse secreto por ele, e eu me peguei imaginando como seria se ele tivesse olhos apenas para mim. Tenho mesmo que parar de pensar nele dessa maneira, e ainda mais no trabalho, isso é errado né. Até porque ele me vê apenas como uma irmã caçula, lembro dele ter mencionado isso certa vez, as vezes acho que esse é o motivo dele me aturar por tanto tempo. Olho para ele novamente. Ele parecia totalmente à vontade e confiante enquanto caminhava até a mesa ao desligar o celular e eu não pude deixar de sentir meu coração bater mais forte ao ver o quanto ele estava lindo. Ele poderia ter qualquer mulher que desejasse, e eu não poderia deixar de me perguntar se ele algum dia me daria uma chance. Marcos se senta à minha frente, mas antes de dizer qualquer coisa, ele olhou-me seriamente, nem preciso olhá-lo para saber disso, pois o conheço bem o suficiente. — Clara! — ele disse em um tom sério, sabia que era para olhar para ele. — Você se atrasou novamente. — Ele disse duramente. — Me desculpa Marcos. Eu se… sei que me atrasei muito hoje, mas tive alguns imprevistos. — Digo tentando me desculpar. Ele apoia o queixo sobre as mãos e me olha ainda mais minuciosamente, pois tive a impressão que ele podia ver minha alma, mas sei que ele está olhando mesmo a roupa que estou vestindo, com certeza percebeu que eu estava com uma camisa masculina. Nada escapa aos olhos dele. — Tudo bem, eu entendo. Lembre-se de que é importante que você esteja aqui no horário, especialmente quando temos muito trabalho para fazer. Mas me tira uma dúvida, por acaso seu imprevisto tem alguma coisa a ver com a camisa que você está usando? — ele me pergunta um tanto confuso. “Será que ele está pensando que dormi com alguém por isso estou com essa camisa.” — Sim. — Digo abruptamente. — Tive um pequeno incidente na cafeteria e acabei tendo que colocar essa camisa. — O que aconteceu com sua camisa? — ele se levanta, dá a volta na mesa vindo na minha direção. Pelo visto não escolhi bem as palavras. — Calma, deixe-me explicar. — Estou escutando. — Quando estava para entrar na cafeteria, acabei esbarrando em um homem que acabou derramando seu café na minha blusa sujando-a. — Digo para que ele não se preocupe, mais só de mencionar café ele arregalou os olhos. — Você não pode estar bem, um idiota derramou café quente em você. vou te levar até a enfermaria. — disse ele me estendendo a mão para me levar a enfermaria. Antes que ele abrisse a porta de sua sala, disse: — Eu estou bem e a culpa não foi dele, eu que me distraí e acabei trombando com ele. — Ele também foi culpado, me diga como que ele não te viu? — pude perceber que ele se irritou, como poderei escapar, lembro então do café dele. Isso vai servir para distraí-lo. — Você não tomou seu café ainda, ele está lá na sua mesa e vai esfriar. — Entrego-lhe o café na esperança dele esquecer a história do meu pequeno acidente. — Você acha mesmo que me importo mais com essa porcaria de café do que com você? — ele pergunta se virando para olhar em meus olhos. — Não foi isso que quis dizer e… eu… — tento dizer, mas sempre desviando meu olhar para meus próprios pés. — Está tudo bem Clara! Sei que não foi isso que quis dizer. — Marcos coloca suas mãos em meu rosto e levanta meu rosto insistindo para que eu o olhasse: — Olha só, não vou discutir sobre isso, mas tenho que me certificar que você está bem. Ok? Vamos, vamos levá-la para a enfermaria. — ele disse, com preocupação na voz. Balanço minha cabeça em sinal afirmativo demonstrando ter entendido. Ele então abre a porta para irmos à enfermaria. Ao sair da sala dele eu podia sentir os olhares curiosos dos outros funcionários sobre nós, e eu sabia que eles estavam se perguntando se havia algo mais do que apenas uma simples amizade entre o Marcos e eu. Ao entrarmos na pequena sala da enfermaria, ele rapidamente pede para que me sente na maca e pergunta: — Deixe-me ver onde exatamente ele derramou café em você. — Na região do meu tórax. — Digo apontando para frente do meu corpo que estava ardendo. — Poderia levantar a camisa só o suficiente para que eu possa dar uma olhada? Inicialmente reluto em ter que levantar a blusa na frente dele, mas acabou levando um pouco da camisa, ele parece se assustar com o que vê e diz: — Clara isso está vermelho. — O sinto tocar em uma parte que está sensível. — Ai! Não faz isso porque está ardendo. — Digo fazendo cara feia. — E você dizendo que estava tudo bem. Bem, vamos ver o que podemos fazer para aliviar a dor. Você sente coceira ou só ardência? — Só está ardendo. — Entendi. Fique quietinha aí. — Ele diz procurando algo dentro do armário. — Achei! Aqui, vamos aplicar um pouco de pomada para queimaduras. Isso deve ajudar a aliviar a ardência e acelerar o processo de cicatrização. Quer que eu passe para você? — Não precisa, pode deixar que eu assumo daqui. — Ok então. Aqui. — ele me entrega o curativo. — Depois que você passar a pomada, coloque o curativo para proteger a queimadura e evitar que ela entre em contato com a roupa. Isso deve ajudar a evitar mais ardência e desconforto. — Obrigada, Marcos. Eu aprecio sua ajuda. — De nada, vou para minha sala. Quando você terminar, vá até lá. — OK, pode deixar. Ele sai me deixando sozinha ali, peguei a pomada e passei nas partes que estavam ardendo. Depois colei o curativo. Meu telefone tocou me trazendo de volta a realidade, então o peguei dentro da bolsa e atendi, era a minha melhor amiga Eduarda me telefonando. — Fala Duda. — disse animada. Duda e eu dividimos um apartamento. Ela é alta, loira, com cabelos lisos curto e com olhos pretos. Ela é linda, de dar inveja a qualquer uma e despertar o desejo de qualquer homem. Eu e ela somos amigas desde crianças, pois nossas mães eram grandes amigas, então foi quase inevitável nossa amizade. Nós duas somos como unha e carne. — Oi Clara! — pude perceber que ela estava bem animada, já até imaginava o que devia ser. Não sou nenhuma vidente, mas se tratando da minha melhor amiga não é difícil adivinhar. — Quem é o cara? — perguntei logo. — Nossa amiga! Não é assim, nem sempre se trata de garotos. Eu posso estar só querendo conversar. — Percebi que ela ficou meio magoada. — Desculpa! Fala então do que se trata? — Eu tenho um encontro hoje. — Sabia que era alguma coisa relacionada a garotos! — disse brava. Ela é linda, mas tem dedo podre para namorado. — Clarinha não faz assim! Esse é diferente, posso sentir. — Tem certeza? — Esse não é um babaca como os outros. — Ela tentava me convencer, mas algo me dizia que não ia dar certo. — Você sempre diz isso e depois sou eu que tenho que ficar vendo você sofrer, além de comer todo o meu estoque de sorvete, de chocolate e olha que nem estou falando das músicas de sofrência que você fica escutando no último volume toda vez que está na fossa. — Já estava começando a me irritar. — A vida é minha e eu vou sair com ele, sim! Você querendo ou não. E eu não como todo seu precioso estoque de sorvete e chocolate. — Ela quase gritava ao telefone. — Faz o que você quiser. Só não diz depois que não te avisei! — desliguei assim que terminei de falar. Como ela podia ser tão ingênua às vezes, se ilude tanto e quando a pessoa tenta ajudar, ela acaba sempre vindo com o mesmo papo. “Talvez você seja a grossa dessa vez.” Talvez, eu tenha pegado pesado, acabei descontando nela. Fiquei sentada na maca pensando e quase me esqueci que tinha que voltar à sala do Marcos, quando me dei conta do horário, me arrumei rapidamente e voltei para a sala dele. Bati à porta antes de entrar, mas ele já estava à minha espera. Entrei, fechei a porta e me sentei na cadeira que ficava de frente para a dele. — Você está melhor? — ele parecia preocupado ao perguntar. — Nem sabia que estava mal! — disse brincando e ele me olhou com uma cara feia. — Clara! — ele não precisou dizer mais nada porque só pelo tom de voz dele, percebi que ele estava me repreendendo. — Estou ótima. — Respondi. — Que bom! Consegue trabalhar ou quer ir para casa? — pergunta preocupado. — Eu estou ótima, consigo trabalhar perfeitamente. Posso ir agora? — Se você consegue. Sim, você pode ir agora. — disse ele meio sem ânimo. Levantei-me e fui caminhando em direção a porta e quando estava para sair, Marcos me interrompeu dizendo: — Ah, por favor, tenha mais cuidado. Ok? E não quero saber de você se machucando por aí. — Ok. — Respondi sorrindo, mas pensando em como ele parecia meu pai às vezes, com seu instinto protetor. Quando finalmente saí da sala dele, fui para a minha e passei o resto da manhã e a tarde toda concentrada no trabalho. Ou, pelo menos, grande parte, pois não posso negar que um certo loiro de barba invadiu meus pensamentos.






