Clara parte 1

Sabe aqueles dias que você tem que acordar cedo, mas dorme às três da manhã, pois ficou vendo serie até tarde. Então, pois é, se eu tivesse um pouco mais de controle sobre as minhas vontades, não faria isso, ainda, mas sabendo que tenho que acordar cedo para ir trabalhar.

Porém ao que parece sou o tipo de pessoa que gosta de testar a sorte que tem, e é por este motivo que estou correndo feito uma louca pela calçada tentando me apressar para chegar à cafeteria, pois mais uma vez estou atrasada para o trabalho, nem consegui tomar o café da manhã, definitivamente não nasci para ter que acordar cedo.

Como tenho o costume de levar café para Marcos toda vez que chego atrasada, ainda tenho que passar na cafeteria, sei que parece um tipo de suborno, mas não é, talvez só um pouco, mas também é uma forma de amenizar as "broncas" que irei levar. Vou aproveitar para comprar algo para mim também, já que não tive tempo de comer nada mesmo. Não podia me dar ao luxo de perder aquele cafezinho maravilho que me ajuda a começar o dia.

Quando de repente vi a porta se abrindo. Eu não tinha tempo para parar, então empurrei a porta com força, esperando passar por ela. No entanto, ao invés disso, eu colidi com alguém do outro lado da porta e acabei derrubando meu café quente por toda a camisa da pessoa. Eu gemi de frustração enquanto tentava me desculpar, olhando para a pobre vítima da minha falta de atenção e lamentando o fato de que o meu café agora estava perdido.

Quando cheguei perto da porta, vi que a mesma estava se abrindo. Eu não tinha tempo para parar, então empurrei a porta com força, esperando passar por ela, já que estava ansiosa para entrar. No entanto, ao abrir a porta, eu não esperava bater em alguém do outro lado. Perco o equilíbrio e acabo caindo no chão. Escuto um gemido de frustração vindo da pessoa que eu esbarrei, percebo que o fiz derramar seu café. Me senti horrível e envergonhada por ter causado aquilo.

Olho para cima para me desculpar e me deparo com um lindo homem de cabelos loiro e olhos azuis. Droga! Ele aparenta está irritado. Eu balbuciei desculpas com minhas mãos trêmulas, me sentindo uma idiota pelo meu ato descuidado.

— Oh meu Deus, eu sinto muito! Eu não vi você aí e acabei derrubando todo o seu café!

Já me preparo mentalmente para os xingamentos que logo me serão dirigidos. No entanto, para minha surpresa isso não aconteceu.

— Não se preocupe, está tudo bem. Eu não me machuquei. — Disse ele muito compreensivo e gentil, com um leve sorriso no rosto. — Você precisa de ajuda para se levantar? — Diz com uma das mãos estendida me oferecendo ajuda para me levantar.

— Sim, por favor. Eu me sinto uma idiota por ter sido tão distraída. Desculpe novamente pelo inconveniente.

— Não se preocupe, acontece. Aqui, deixe-me ajudá-la a se levantar.

Imediatamente a pego e ele me puxa para cima com facilidade. Fico impressionada com sua atitude. Eu esperava ofensas e não foi isso que aconteceu. Envergonho-me do meu pensamento. Eu senti uma onda de gratidão pelo seu comportamento amigável, agradecida por não ter sido repreendida pelo meu erro.

“Viu Clara, não devemos sair por aí julgando as pessoas.” Aí consciência fica quieta, ainda está cedo para você aparecer.

— Você está bem? — pergunta educadamente ao soltar minha mão.

— Esta sim, obrigada por ser tão compreensivo. Eu realmente aprecio isso. — Respondo torcendo para que ele não tenha percebido meu rubor.

— De nada. Mas acho que eu que te devo desculpas agora. Sua blusa se sujou. — O rapaz diz apontando para a mancha em minha blusa rosa de seda.

Olho para minha blusa e vejo uma mancha escura no tecido.

—Droga!

Era só o que me faltava, agora além de estar atrasada, também estou suja. Definitivamente Marcos vai ficar uma fera hoje. Mas tudo isso é minha culpa, então meio que não tiro sua razão. Custava me levantar ao ouvir o despertador tocar? Claro que não, mas sempre penso “vou ficar só mais cinco minutinhos, cinco minutos não vão faz diferença” e olha para mim agora, estou atrasada e suja. Cinco minutos e tempo suficiente para te deixar em enrascadas, principalmente se os cinco minutos se estenderem para trinta minutos. Então fica a dica, não se ignora o despertador.

—Acho que deveríamos tentar limpar esse café antes que ele seque e fique difícil de remover.

— Eu vou dar um jeito nisso, mas mais uma vez me desculpe não tive a intenção de derrubar o seu café, pode deixar que vou te compensar. Eu vou pagar outro para você. — Me apreço em dizer.

— Não, tudo bem, não se preocupe com isso, eu pego outro, mas acho que você deveria se secar e se trocar. — Ele olha para minha blusa novamente, faz cara de preocupado. — Meu Deus! Eu não tinha me dado conta. Você deve ter se queimado né, o café estava bem quente. Como fui descuidado, deveria ter percebido antes.

— Nada disso, a culpa foi minha, eu que sou a distraída da história. Não estou sentindo dor então não me queimei. Só me sujei. — Acabei mentindo na segunda parte, ele não precisava saber que estava ardendo um pouco. Pra ser honesta não tinha percebido que o café que ele derramara em minha blusa estava quente a ponto de me queimar, até que o próprio falou e só assim que percebi que está ardendo. — Pior que não tenho outra camisa na bolsa, vou ter que ficar como essa mesmo. — Acabei falando sem perceber.

— Mas você ainda está molhada e suja.

Sem que tivesse tempo para rebater ele pega uma de minhas mãos e me leva para dentro. Atravessamos a cafeteria até chegar à frente do banheiro masculino e só então ele solta minha mão.

— Espere aqui, pois já volto. — diz antes de entrar no banheiro.

— Que!? Não espera... e ele já foi. Nem esperou eu falar.

Por algum motivo eu fico aqui parada esperando-o.

Meu dia começou bem. Acordei atrasado, trombei com um rapaz bonito, derrubei o café dele, que pelo visto deve ter demorado muito para conseguir já que a cafeteria está lotada, e ele ainda é educado comigo. Tá, tirando a parte que ele me arrastou aqui pra dentro sem me explicar nada, ele até que foi mais educado que o esperado.

“Não seja mal agradecida!” Ah me poupe consciência, ele poderia ter perguntado se eu queria entrar. Foi só uma observação. Mas porque eu tô aqui esperando ele e perdendo tempo mesmo?

Escuto a porta se abrir e ele sai do banheiro, percebo que ele está com casaco fechado e sua camisa que ele estava usando antes está na sua mão.

— Porque você tirou a camisa?

— Tome, vai ser melhor você vestir isso já que não tem outra blusa com você. — Ele me entrega a camisa.

— Que! Não, que isso moço, não precisa não, estou bem com essa camisa aqui mesmo. — Digo tentando devolver a camisa.

— Não, de jeito nenhum, vista isso e melhor do que ficar com uma blusa molhada e manchada. — Ele diz com um olhar duro me devolvendo a camisa.

— Não precisa disso, estou atrasada, e ainda tenho que comprar o café do meu chefe e correr para o meu trabalho. — Digo a ele, já preocupada com meu atraso, já que perdi muito tempo nisso.

— Vamos fazer assim então. Você entra no banheiro, tira essa blusa suja, coloca essa camisa que tá limpa... — ele aponta para a camisa que está em minhas mãos. — Enquanto isso eu pego o café pra você. Assim os dois ficam felizes. O que você acha. — Ele cruza os braços e espera pela minha resposta.

Ele até que tem um ponto. não vai pegar bem se além de atrasada eu chegar suja né.

— Tudo bem! Você ganhou. — Sinto-me derrotada. — Eu vou querer um café expresso do maior que tiver e um capuccino cremoso grande, se não for pedir demais.

— Pode deixar comigo.

— Obrigada! — Ele me dá um lindo sorriso e vai andando para a fila enorme.

Entro no banheiro e fecho a porta.

Penso. Ele até que tem um sorriso bonito. Quer dizer ele é bonito né. Para com isso Clara, para de agir como uma adolescente, até parece que nunca viu rapaz bonito antes. Ele deve ter um belo corpo por baixo daquela roupa. Ele tem cara de quem malha bastante. E uol... de onde veio isso? Meu pensamento já tá viajando. Foco, você tá atrasada e tem que se trocar.

Parando pra pensar, o Marcos até que é mais bonito. Ele é bem sexy pra falar a verdade. Pena que está disponível apenas com amigos.

Isso me deixa meio triste. Não é de hoje que tenho sentimentos por ele, mas o mesmo não facilita. Tudo culpa do pai dele.

Olho para a camisa em minha mão e quase instantaneamente sinto o cheiro que ela exala, não tinha reparado que o dono da camisa é tão cheiroso.

—Marcos cheira bem também... — Paro no meio da frase, me lembrando que estou atrasada.

Viro-me, tiro minha blusa e percebo que algumas partes do meu tórax que entravam em contato com o café quente, estão um pouco vermelho e ardendo levemente. Realmente havia me queimado um pouco.

Olho para o relógio e vejo que não tenho tempo para cuidar daquilo naquele momento. Já que perdi muito tempo nessa confusão toda que causei.

— Cuido disso mais tarde. — Digo olhando as marcas vermelhas.

Coloco a camisa dele e ajeito no meu corpo. A camisa tinha um cheiro realmente bom, na verdade maravilhoso, me olho no espelho pareço apresentável desse jeito, saia preta lisa e a camisa social branca, claramente masculina. Guardo minha blusa na bolsa e saio do banheiro procurando o loiro bonito. E lá está ele me esperando com meu pedido em mãos.

— Nossa você foi rápido. Como conseguiu isso? — pergunto a ele, ainda incrédula.

— É um segredo. — Ele diz dando um sorriso de canto de boca e me entregando os dois copos.

— Tudo bem. Quanto te devo? — pergunto a ele.

— Nada, era o mínimo que eu podia fazer. — Ele me responde de forma gentil.

— Como? Não mesmo… se você não se lembra, fui eu quem fez você derrubar seu café, logo sou eu que tenho que pagar...

— É o mínimo que eu posso fazer depois de te sujar toda. — Ele diz educadamente.

— Mas… você só me sujou porque eu não estava prestando atenção. — Tento explicar para ele.

— Nós dois tivemos culpa, então aceite isso como um pedido de desculpa. Ou a gente vai ficar o dia todo aqui. — Ele diz rindo.

Antes que pudesse responde meu celular começa a tocar e nem preciso ver para saber quem estava me ligando, com certeza era o meu amado chefe querendo saber quanto tempo eu ainda demoraria.

— Desculpa. — Pego o celular e atendo. — Alô! Marcos não se preocupe... sim eu sei, mas já estou chegando… sim em cinco minutos chegarei aí… ok, até.

— Seu chefe? — ele pergunta levantando uma de suas sobrancelhas.

— Sim! Ele não está nada feliz com meu atraso, tenho que ir. Só ficarei com os cafés porque estou atrasadíssima. Então obrigada e tchau. — Me viro e saio andando.

Vou seguindo em direção à porta, mas antes de fechá-la, ele me grita: — Ei! Você não me disse seu nome.

Olho para trás e lhe respondo: — Me chamo Clara Petterson.

— Eu sou Dante Lengruber.

— Prazer e adeus. — Dou um aceno e volto a correr.

Ele ficou lá parado na porta da cafeteria, me vendo correr.

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