Mundo de ficçãoIniciar sessãoDe uma criança vinda de um misterioso quadro de terror, o Ulika cresce e vai deambulando por um país desconhecido. Entre uma gente que não é sua mas não lhe é hostil. A tonalidade da sua pele, a cor de seus olhos e mesmo seu próprio nome, despertam muitas suspeitas e paixões. Mas ele é diferente, indiferente e misterioso. Dono de um charme ao qual nenhuma mulher resiste. Mas todas as mulheres que com ele se envolvem acabam mortas. Feito um deus dono de tudo e do tempo, o destino lhe reserva um fim bastante interessante...
Ler maisO funeral do Ulika foi um acontecimento marcante no seio do partido. Todos os membros do governo estavam lá, engalanados e ufanos… poucos estavam realmente condoídos e entristecidos. Alguns foram apenas para cumprir formalidades e exibir as vestimentas. Entretanto, coube ao Primeiro-ministro dizer palavras de adeus ao malogrado. Porém, o discurso que ele proferiu pareceu místico para todos os presentes. Pela primeira vez os membros do governo viam o Primeiro-ministro a usar uma linguagem que não lhe era familiar; livre dos costumeiros jargões políticos e de propaganda. Disse coisas que a muitos pareceram absurdas e a outros lacónicas; e se não fosse o costume de se considerar óbitos como algo solene, todo mundo teria ou rido ou protestado. Disse coisas tais como: a morte… é uma invenção dos deuses, e do Ulika, para se divertirem.Duas semanas mais tarde, num determinado dia de tempo chuvoso, quando a chuva caíra pela madrugada e a manhã parecia som
Num belo dia saiu de carro; agora ele tinha muitos carros, mas dificilmente conduzia. Hoje foi conduzindo pela cidade, pelas ruas movimentadas, onde se conduzia desobedecendo os regulamentos do trânsito rodoviário. Numa velocidade serena, como que excogitando, o nosso Ulika circulava de um lado para o outro, com o olhar sempre além. Foi assim que apareceu um desses símios, desses seres humanos que não têm mínima noção de vida em comunidade, conduzindo numa velocidade de pistas, que embateu violentamente contra a viatura do Ulika.De repente o seu carro capotou e o Ulika ficou entalado por dentro, penosamente machucado.A Polícia chegou mais tarde. Descobriram-no sangrando de diversos orifícios do corpo. Tinha concussões, graves lacerações e ossos quebrados em todas as partes do corpo. O pior, entretanto, estava na cabeça.Como foi reconhecido a tempo pelos agentes da polícia, foi socorrido com alguma prontidão.Foi levado de emergência ao hospital. Pelos sina
Tudo andava ao seu ritmo normal, mesmo o tempo; o tempo repetia-se, os dias, as estações e todas os seus componentes funcionavam como os ponteiros de um relógio, do maior relógio do mundo colocado no invisível.O Ulika ficou mais rico, mais influente também; tinha muitas simpatias e todo mundo do partido queria fazer-se seu amigo.Ganhou mais carros, mais regalias e melhores condições de vida. O seu capital só aumentava. O envelope que tinha recebido do Wafile Ale continuava inesgotável. A tal ponto que a Mbela tinha contratado uma dúzia de pessoas para trabalharem em sua casa, enquanto ela passava a vida a se embelezar.Às vezes ele era convidado para encontros festivos promovidos pelo governo, encontros esses em que predominavam bebidas alcoólicas, música disparatada alta e mulheres prostitutas; as prostitutas eram as mesmas mulheres parlamentares e as dos parlamentares que ali compareciam. Nem sempre ele aceitava esses convites; mesmo quando fosse, ele não se de
Nos seus dias de folga ele patinava ou metia-se entre os bairros inóspitos da capital, a pé. Estes bairros eram o protótipo da degenerescência. Manavam à morte, era por isso que as pessoas ali eram mais vivas, mais cheias de agressividade e que se cometiam muitas violências físicas e verbais. Pois a vida, sendo a outra face da mesma moeda, tornava-se mais intensa quanto mais próxima estivesse da morte; e os subúrbios dessa capital eram o Reino da Luta Constante visando a sobrevivência. O único alimento das almas dos que ali habitavam era música, música disparatada e desarmónica.Algumas raras vezes saía no seu carro para visitar zonas mais distantes ou para contemplar o mar.Às vezes a chuva caía e a terra tornava-se lamacenta, de tal sorte que era impossível sair de casa. Ficava ali, sentado ou amparando um livro qualquer. Aprendeu agostar de ler na casa do Wafile Ale, mas nunca se tinha emocionado por uma história, fosse real fosse fictícia; na verdade nada emocionava
A azáfama que se regista nas capitais é um pequeno exemplo do que será uma sociedade completamente civilizada; do que será o fim da socialização. A pior desordem existe nessas comunidades onde os valores dos seus ancestrais foram bruscamente cambiados pelos dos seus colonizadores. Nos povos inculturados que saem diretamente das matas para se abrigarem indignamente em zonas urbanas concebidas pelos outros. Ali a desordem é de tirar o fôlego; os centros urbanos de alguns países negros são atrozes. Neles tudo se encontra de patas para o ar.Mas isso não incomodava ao nosso herói, ele era distinto, incomum. Nem olhava para as coisas do mundo com um olhar com compaixão.Mal chegou na capital foi-lhe oferecida uma residência numa rua calma da cidade, numa das melhores ruas desse burgo, também litorâneo. Mais um carro, de marca sonante, e muitas mordomias.Nas reuniões que ele participava tudo tomava outro rumo. Suas opiniões esquecidas, desapaixonadas, deixavam os homens
Nessa cidade o Ulika vai desempenhar uma atividade para a qual não foi licenciado: Política.Mal chega, começa a frequentar círculos políticos. O partido que estava a governar o país foi o que teve e honra de acolhê-lo. Filiou-se alguns dias depois do seu efetivo estabelecimento ali; e como para a política o que importa é mais um, independentemente das suas qualidades e habilidades, não passou pelo incómodo de satisfazer perguntas e curiosidades. Quem sabia era dissidente de um outro partido? Mas era claro que seria difícil um moço com a aparência deste ter sido de um partido oposto; o regionalismo faz parte da situação dos partidos políticos de cá; é bem sabido que os do sul são todos escurinhos e que todos os escurinhos são do partido y. Diz-me o que és e de onde és e eu dir-te-ei em que partido pertences, é um lema considerável. Todo mundo sabe que os da cidade x, do centro sul do país, são, não apenas maioritariamente, mas todos, do partido x; os da cidade y, do norte, são
Último capítulo