Não diga que me Ama
Não diga que me Ama
Por: Keila Zanardi
Prólogo

Eu dirigi pela estrada sinuosa até a casa de campo de Lúcia, meus faróis iluminando o caminho à medida que eu me aproximava da localização indicada pelo GPS.

Um vento suave soprando pelas janelas abertas do veículo. Do lado de fora as árvores bordavam o caminho agora de cascalho, certamente levantando nuvens de poeira. O motor roncava suavemente enquanto eu parava o carro na frente da casa, então eu saí do carro e fecho a porta com um estalido. Estico os braços e sorrio ao sentir o ar fresco da noite em meu rosto.

A casa, situada em uma pequena colina, oferecia uma vista deslumbrante da paisagem noturna. O céu estava salpicado de miríades de pontinhos brilhantes, que piscavam e dançavam como se estivessem vivos.

O céu limpo iluminava o caminho de pedras até a casa. e lá estava ela: a casa de campo perfeita, iluminada pelo brilho das estrelas. Era uma construção modesta, mas charmosa, com uma varanda acolhedora e janelas que brilhavam como olhos sorridentes. O telhado de telhas vermelhas se destacava contra o céu. Eu sorri ao ver a casa, sentindo o coração se aquecer com o pensamento de passar a noite ali, longe da cidade e do barulho.

Na varanda do andar de cima uma jovem mulher inspirava profundamente, sentindo o ar puro e limpo invadir seus pulmões, e sorrindo com prazer enquanto apreciava a tranquilidade da noite. Seus cabelos brilhavam sob a luz das estrelas. A mesma ao perceber minha chegada caminha para dentro da casa.

Então começo a subir o caminho de pedras até a entrada, meus passos leves e ágeis.

No jardim, os aromas de flores selvagens e grama fresca se misturavam ao ar. Era a noite perfeita para relaxar e apreciar a paz do campo.

Lúcia abre a porta com uma expressão de alegria no rosto. Ela se aproxima para me dar um beijo suave nos lábios e depois se afastar para me deixar entrar em sua casa.

— Espero não ter feito esperar muito. Acabei me atrasando um pouco.

— Imagina! Não tem problema. O importante é que você está aqui agora.

Dentro da casa, o ambiente era acolhedor e tranquilo, com paredes de madeira clara e móveis simples, mas elegantes. As janelas grandes deixavam entrar a luz das estrelas, iluminando o tapete macio sob meus pés.

Uma brisa suave soprou através das janelas abertas e fazendo uma mecha de cabelo de Lúcia balançar.

A olho mais atentamente, e vejo que ela está ainda mais linda do que antes. Seu cabelo loiro escuro ondulado está preso em um coque frouxo, a maquiagem é delicada e realça seus lindos olhos castanhos claros. O vestido branco de renda que termina logo acima do joelho desenha perfeitamente seu corpo curvilíneo, como se tivesse sido feito sob medida para ela, provavelmente era já que a mesma tinha dinheiro o suficiente para se dar esse luxo.

Sinto um aroma agradável pairava no ar, provavelmente vem do nosso jantar.

Lúcia marcou este jantar especial para nós dois, pois segundo ela tinha algo importante para me dizer e que não podia adiar.

Ela me leva até a sala de jantar, e fiquei encantado com o que vi. O cômodo tinha sido transformado em um oásis de luz e sofisticação, com as velas acesas em todos os cantos e a mesa posta com talheres de prata e cristal. A luz das velas dançava nas paredes de madeira clara, criando sombras e brilhos mágicos.

Eu me sentei à cadeira indicada por ela e em seguida, ela se senta em uma cadeira à minha frente com um largo sorriso no rosto.

— A mesa está linda e a comida parece deliciosa. —  Digo enquanto a observo, notando que ela parece ansiosa.

— Espero que goste. — Ela diz, e começamos a comer.

Enquanto comemos, vejo que ela me observa de vez em quando, mal tocando na comida em seu prato. Ela deve estar esperando que eu fale alguma coisa. Termino de mastigar, pego o guardanapo, limpo a boca e digo: — A comida está realmente boa.

— Fico feliz que tenha gostado. — Ela faz uma pausa e parece incerta sobre o que vai falar. — Eu não aguento mais esperar. Tenho que te dizer algo importante.

— Então me diga, pois parece ser algo realmente importante pra te deixar ansiosa desta forma. Você mal tocou na comida. — Fico curioso para saber o que ela tem de tão importante para dizer.

— Mike, estamos nos conhecendo a cinco meses, sei que para alguns isso pode ser pouco, mas assim que te vi, senti como se já nos conhecêssemos. Você é tão especial para mim… — Ela faz uma pausa antes de terminar a frase. — Quero te dizer que… eu… eu… eu te amo.

Fico em silêncio e tento manter a expressão impassível. Já havia lhe pedido para que nunca dissesse que me amava, pois já faz muito tempo que não acredito no amor. Para mim, todos aqueles que dizem que amam estão mentindo e eu não suporto mentiras. Odeio o amor… odeio quem diz amar. O amor é falso, submisso e desolador, trazendo à tona o que há de ruim nas pessoas. O amor machuca, faz sangrar, dilacera não só o coração e a razão. Porque alguém iria desejar isso. Pelo visto Lúcia desejava isso.

Ela olha para mim, com incerta esperando uma reação ou resposta. Eu esperava mais dela.

— Por favor, diga alguma coisa. — Ela me pede.

— Quando nós conhecemos eu deixei bem claro o que eu pensava sobre isso. Você sabia e eu já lhe havia pedido para que nunca me dissesse isto… — levo a mão esquerda ao rosto. — E você não conseguiu respeitar o meu desejo. Você... você sabia como me sinto em relação a isso.

— Me desculpa! Sei que já conversamos sobre isso e eu prometi não atropelar as coisas entre a gente, mas é a verdade, eu tinha que dizer como me sinto em relação a você. Eu não poderia esconder isso, é visível, como você pode não ver isso. Sei que você deve ter seus motivos para agir assim, mas eu não posso e não vou omitir meus sentimentos. — Ela se levanta, dá a volta na mesa vindo em minha direção, se ajoelha ao lado da cadeira em que estou e descansa suas mãos em cima da minha perna. — Você ficou realmente chateado comigo? — pergunta retirando uma de suas mãos de minha perna para acariciar-me o rosto.

Olho para ela. Mas agora vendo sua verdadeira face. A face que eu sabia estar ali e que um dia iria aparecer, ela sempre aparece.

Desprezo é o que sinto. Ela me enoja. Como pode minha bela flor ser imaculada com ervas daninhas assim em questão de minutos. Claro que já era esperado, mas é irritante do mesmo jeito. A história sempre se repete. Que escolha eu tenho além de arrancar tal praga do meu perfeito jardim.

— Não querida, claro que não. — Pego sua outra mão e dou-lhe carinhosamente um beijo, enquanto olho dentro de seus olhos sorrindo levemente para tranquilizara-la. — Como eu poderia? Claro que não. Entendo que o pedido que fiz foi de mais pra você. Você tem total direito de se abrir e falar o que sente. Eu que não deveria ter feito tal pedido a você. Na verdade, fico até feliz por você ser sincera comigo.

Levanto-me junto com ela, que diz: — Obrigada por me entender, fiquei nervosa por um momento achando que você poderia querer terminar comigo. — Ela diz relaxando e então me abraça.

Enquanto Lúcia me abraça carinhosamente, eu sussurro em seu ouvido.

— Você é realmente tola. Achou mesmo que terminaria com um final feliz.

— Que! — Lúcia me olha confusa.

Em meio a sua distração, pego minha jagdkommando, e a perfuro na barriga, sem que a mesma se desse conta. Ela se afasta um pouco e me olha sem entender o que acabou de acontecer, sua mão que antes me abrasava é direcionada ao ferimento. Seus olhos se arregalam em pânico ao perceber que a perfurei. Ela olha para sua mão suja com seu sangue.

— Mike!?

Retiro a faca de seu corpo e me afasto. Ela cambaleia e cai de joelhos no chão. Lúcia olha-me chocada, mas não grita. O que facilitava as coisas para mim, porém, de qualquer forma não adiantaria muito, ela não tem vizinhos próximos, sua casa é afastada da cidade. Isso que dá morar longe da civilização, no meio do nada. Ela queria paz para escrever seus livros e isso lhe custou caro.

Fico ali, parado a poucos metros dela, admirando a mancha de sangue aumentar aos poucos debaixo das suas delicadas mãos. Que cena maravilhosa, digna de uma pintura, só faltava um último detalhe para ficar perfeita.

Me aproximo.

— Eu te disse para nunca ousar dizer que me amava. — A acuso. Lúcia apoia-se na mesa para se levantar, mas logo cai de joelhos novamente sem forças para se manter de pé, vejo algumas lágrimas escorrendo pelo seu rosto.

— Por que? — ela pergunta tão baixo que quase não a escuto.

Me ajoelho à sua frente e levanto seu rosto para olhar nos seus olhos.

— Achei que já tinha ficado óbvio, mas pelo visto vou ter que desenhar para você. Confesso que por um breve momento cheguei a pensar que com você, talvez pudesse ser diferente, mas assim como as outras, você preferiu mentir dizendo que me ama. Porém não sou bobo. Você não conseguiu me enganar com suas falsas palavras de amor. Até porque nem poderia, não sou tolo. Eu não posso ser enganado por alguém como você. — Beijo sua boca pela última vez, ela desmaia em meus braços devido à perda de sangue. Posiciono a jagdkommando no lado esquerdo entre as costelas 3 e 4, e com um golpe final a esfaqueio no coração. — Sabe Lúcia, nunca se deve demonstrar amor, pois ele pode te matar. É uma pena você ter descoberto isso da pior maneira. Adeus.

Ela suspira pela última vez em meus braços. Sei disso, já que pude sentir sua vida se acabando aos poucos, Lúcia já não respirava ou tinha pulsação.

E nesse momento aquele velho e conhecido prazer me atingiu. A praga do jardim mais uma vez foi eliminada, como isso a beleza da minha flor voltou.

Adoro poder sentir a sensação de acabar com a vida de pessoas que acham que podem me enganar tão facilmente com palavra tão leviana.

— Você teve o castigo que mereceu. — deito Lúcia no chão, me levanto e começo a limpar o lugar, não deixo nenhum vestígio de DNA ou das minhas digitais.

Termino minha limpeza e encaminho em direção à porta, mas antes de partir, olho novamente para o corpo agora já sem vida de Lúcia e digo: — Obrigada pela noite maravilhosa!

Saio fechando a porta, caminha em direção ao carro, porém antes de ligá-lo, penso em Lúcia e em como tudo poderia ser diferente se ela não tivesse proferido aquelas palavras, mas no fundo eu já sabia que ela era igual às outras, e acabou tendo o mesmo final que as demais.

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