— “…não era café.”
Beatriz encarava o copo de isopor. O gosto era de papelão com trauma e bafo de dragão aposentado. Sentada na beirada da cama de um quarto que definitivamente não era o dela, ela olhava para as próprias mãos como se estivessem sujas de crime. Mas ali não tinha sangue. Tinha uma aliança. — “Não. Não. NÃO.” Ela puxou o lençol e tropeçou em… gravata? Sapato masculino? Cueca boxer no abajur. E foi aí que ela viu. De bruços, dormindo como se a vida fosse uma propaganda de colchão, Caio Ferraz estava espalhado na cama. Uma tatuagem escapava da lateral das costas. Os cabelos castanhos bagunçados. A barba por fazer roçando no travesseiro como uma ameaça sexual. Beatriz engoliu seco. Parte de raiva. Parte de memória. Porque ela lembrou. Flash. Eles no elevador do cassino, rindo alto, tropeçando nos próprios egos. Ele dizendo: — “Você beija como quem sabe o que quer.” Ela respondendo: — “E você tira a camisa como se tivesse ensaiado.” Flash. Ela no colo dele. Ele pressionando a nuca dela contra o vidro da suíte. O vestido subindo. O terno caindo. As palavras sumindo. Os gemidos invadindo o quarto como música indecente de fundo. Flash. — “Quer casar comigo ou só fazer escândalo?” — “Se casar te calar, me dá logo essa aliança.” Ela olhou pro teto agora, na manhã seguinte. — “Ai, Jesus bêbado de Las Vegas…” — Caio resmungou e virou de lado. — “Tem algum motivo pra você me fuzilar com esse olhar ou é só o modo natural mesmo?” Beatriz bufou, pegando um travesseiro e jogando nele. — “Você… advogado cretino maldito bonito do inferno… me casou!” — “Olha, eu teria me lembrado se você tivesse sido obrigada, tá? Você praticamente invadiu a capela com seu salto na mão e gritou: ‘Quero esse!’” — “EU TAVA BÊBADA!” — “E ainda assim, articulada. Discutiu com o padre sobre a legalidade do contrato pré-nupcial.” Ela parou. — “A gente fez contrato?” Ele sorriu, levantando a sobrancelha. Jogou o lençol pro lado, ainda nu, sem pressa nenhuma. — “Quer ler com calma ou enquanto eu preparo um café melhor que esse?” Ela desviou o olhar. Mas não antes de ver. E lembrar de novo. As mãos dele. A boca dele. O jeito que ele parou no meio do ato pra dizer: — “Se não for pra bagunçar tudo em você, nem me chama de Caio.” Beatriz se levantou, arrumando o vestido torto. — “Eu quero anulação. Quero fogo nesse contrato. Quero desaparecer e fingir que isso foi um sonho erótico com tequila.” Ele caminhou até ela. Puxou o papel amassado da cômoda. Aliança brilhando no dedo. — “Problema é que a gente foi filmado. Reality show novo. Casamentos aleatórios. Contrato assinado. 30 dias de convivência obrigatória ou multa de 300 mil dólares.” Ela arregalou os olhos. — “QUÊ?” Caio deu um sorriso torto. — “Parabéns, esposa. Nosso erro tem contrato. E audiência.” Ela deu um passo pra trás. Ele deu um passo pra frente. — “Você não vai fugir de mim, Bia.” Ela piscou. — “E você não vai me domar, Caio.” — “Duvido.” A tensão entre eles? Mais elétrica que o letreiro da capela em Vegas. O que começou com tequila… Agora tinha 30 dias pra dar certo. Ou explodir com gosto.