— Isso aqui é um casamento ou uma pegadinha patrocinada por tequila e más decisões?
Beatriz Mendes gritou enquanto tentava equilibrar um salto na mão, um vestido torto no corpo e a sanidade na alma. Las Vegas piscava ao fundo como uma drag queen em noite de estreia — exagerada, brilhante e levemente indecente. Era madrugada no Lucky Mirage Club, e Beatriz estava no epicentro do apocalipse pessoal. A maquiagem borrada realçava ainda mais a boca carnuda pintada de vermelho. O cabelo loiro, ondulado até os ombros, bagunçado com a precisão de quem nunca não pensa na aparência. E no dedo anelar? Um anel que brilhava como aviso de incêndio. Casada. Ela estava casada. Aparentemente, com um estranho de barba por fazer, olhos escuros demais pra confiar e uma tatuagem escapando pela gola da camisa. — “Você tá brincando, né?” — ela rosna. Caio Ferraz apenas dá um sorriso torto. Aquele tipo de sorriso que causou divórcios, paixões, demissões e talvez… casamentos. — “Você disse ‘sim’.” — “Eu achei que era pra mais tequila.” — “Você repetiu ‘sim’ três vezes.” — “E você jurou que sabia dançar tango.” — “Eu sei… depois da quinta dose.” Bia fecha os olhos. Respira fundo. Tenta lembrar. Veio pra Vegas pra desintoxicar de um influenciador com ego inflado, abdômen fake e vocabulário limitado a “engajamento” e “vamos conversar sobre isso nos stories”. Três dias off-line. Um spa. Um detox. E agora? Casada com um advogado arrogante que discute sobre alfaiataria como se fosse jurisprudência. — 6 horas antes… 19h22 – Bar “Lucky Mirage” Bia apostava fichas na roleta como quem riscava ex-namorados da memória. Vestida pra matar, mas com o olhar de quem já tinha enterrado vários. Do outro lado do balcão: Caio, comemorando o divórcio do melhor amigo com tequila e julgamentos silenciosos. — “Esse seu terno parece gritar ‘comprei em outlet de luxo e ainda acho que mando bem’.” Bia, sem nem olhar, comenta ao passar. — “E esse batom grita ‘vou te destruir e fazer você agradecer depois’.” Caio responde, arqueando uma sobrancelha. Primeira faísca: acesa. A discussão escalou de estilo de terno pra direito penal, depois pra feminismo, depois pra astrologia — Caio não acredita, Bia lê mapa astral de político em época de eleição. Mas as palavras foram virando risadas. As risadas, flertes. E o flerte… tequila. 02h43 – Capela El Milagro Elvis cover cantando Can’t Help Falling in Love. Bia rindo. Caio sério. Uma stripper segurando o buquê. — “Quer se casar com esta mulher, mesmo sabendo que ela odeia advogados?” — “Quero. Porque eu também odeio advogados.” — “Quer se casar com este homem, mesmo sabendo que ele acredita que ternos resolvem tudo?” — “Quero. Desde que ele aprenda a combinar gravata com sapato.” E casaram. — De volta ao presente No quarto do hotel, Beatriz segura a cabeça. — “Eu casei com um machista bonito que sabe usar ternos caros.” — “Eu casei com uma terapeuta de imagem que trata autoestima alheia como esporte olímpico.” Silêncio. Os dois se encaram. O telefone toca. — “Aqui é da produção do reality 30 Dias & Um Casamento. Vocês foram selecionados. Gravamos o casamento. Tem um contrato esperando vocês na recepção.” Bia encara Caio. — “Trinta dias casada com você. Que delícia.” — “Trinta dias com uma mulher que me odeia com estilo. Mal posso esperar.” Eles apertam as mãos. Ironia e atração colidindo em uma promessa involuntária. O caos tinha um prazo. E começava agora.