Vicky alegara que precisava reformar a cobertura depois que voltou. Foi assim que acabou ficando na nossa suíte de hóspedes temporariamente, é claro.
James aprovou antes que eu pudesse protestar.
— Os Rossi são nossos parceiros de negócios há décadas. — Disse ele, como se isso explicasse tudo.
Agora, ela desfilava pela nossa casa como se fosse dona do lugar estirada à beira da piscina em biquínis de grife, organizando suas festas na nossa adega e sempre encontrando um motivo para interromper quando James e eu estávamos a sós.
Naquela noite, encontrei os dois no escritório, inclinados sobre alguns documentos jurídicos. O dedo longo de Vicky deslizava por uma linha no papel, demorando-se perigosamente perto da mão de James.
— Sophia! — Ela sorriu ao me notar. — Estamos planejando o meu novo home theater. Você deveria se juntar a nós.
— Tenho relatórios de laboratório para corrigir. — Respondi, apertando o tecido do meu robe. Estávamos divorciados agora. O que James fizesse, com quem estivesse, não era da minha conta.
A risada de Vicky tilintou como vidro quebrado.
— Sempre enterrada nos seus livros! O James costumava fazer minha lição de matemática quando éramos crianças. Você mesmo me deu aula, não foi, James? Minhas habilidades matemáticas são todas graças a você.
James soltou um riso breve.
— Matemática era mais simples do que lavar dinheiro de cassino. — Seus olhos se voltaram rapidamente para mim, como quem verificava se haveria alguma reação.
Mantive o rosto impassível, olhando para os próprios pés. Que comovente, o vínculo de infância deles continuava firme depois de todos esses anos. Eu só estava ali, contando os dias até poder fugir dessa reunião encantadora.
Já passava da meia-noite quando eu ainda revisava dados de laboratório e James entrou no nosso quarto. O cheiro de uísque e do perfume enjoativo de Vicky impregnava sua camisa quando ele se sentou ao meu lado na cama.
— Ainda trabalhando? — Seus dedos roçaram meu ombro.
Meu corpo se enrijeceu de imediato. Ainda assim, quando sua mão desceu pela minha coluna, arqueei-me ao toque como uma mulher faminta recebendo migalhas.
Patético, sussurrou uma parte racional da minha mente. Mas quatro anos de solidão haviam cavado um espaço oco dentro de mim que só James conseguia preencher temporariamente, mesmo que nunca fosse ficar.
Seus lábios encontraram meu pescoço enquanto desabotoava a parte da frente do meu robe. Fechei os olhos e me permiti esquecer, até que meu estômago se revirou de repente.
— Sophia? — James congelou quando levei a mão à boca.
A náusea desapareceu tão rápido quanto viera.
— Só... comi algo estranho no laboratório hoje. — Murmurei, sem convicção. Os anticoncepcionais que eu tomava religiosamente tornavam improvável uma gravidez, mas meu estômago parecia se rebelar só de pensar em Vicky dormindo logo abaixo de nós enquanto James me tocava.
Nesse momento, um estrondo veio do andar de baixo.
— James? — A voz de Vicky subiu pela escada, trêmula. — Eu ouvi vidro quebrando... Acho que tem alguém na casa.
Senti o corpo de James se tensionar. O dever chamava.
Ele saiu da cama antes que eu pudesse falar, pegando a pistola do criado-mudo.
— Fica aqui. — Ordenou, já a meio caminho da porta.
Acabara não sendo nada, apenas a governanta derrubando um prato. Mas, quando James voltou horas depois, foi direto para o chuveiro sem dizer uma palavra. Fingi estar dormindo.
Na manhã seguinte, quase engasguei com o café ao ver James folheando os formulários de inscrição do meu instituto de pesquisa, aqueles que eu estupidamente deixara no balcão da cozinha. Meu estômago se contraiu.
— Engenharia biomédica? — Ele ergueu o formulário de inscrição para o instituto suíço, a sobrancelha arqueada. — Quando você organizou esse projeto no exterior?
Forcei um encolher de ombros.
— Minha colega de turma me pediu para pegar os formulários para ela. — Meus dedos se fecharam contra as palmas, longe do olhar dele, mas não antes de eu perceber o leve tremor no meu dedo mínimo. Droga.
James virou uma página, examinando os detalhes.
— Zurique. Você odiaria a neve.
Claro que ele não se lembrava. Dois invernos atrás, eu o arrastara para uma cabana em Vermont só para ver os flocos caírem. Ele passara o tempo todo ao telefone com seus advogados.
Não respondi. Apenas o encarei friamente.
Ele pousou o café, os olhos escuros fixos nos meus com uma intensidade desconfortável.
— Você não precisa de outro diploma. Eu poderia nomear você como pesquisadora-chefe na Moretti Medical amanhã mesmo.
Esse era o problema. Cada conquista minha, cada artigo, cada bolsa, vinha sempre com a sombra do nome Moretti. Abri a boca para retrucar, mas a risada de Vicky cortou a tensão.
— Bom dia, queridos! — Ela entrou esvoaçando, o robe de seda flutuando, e se acomodou no braço da cadeira de James. — James, os advogados precisam que a gente revise os novos contratos do cassino antes do meio-dia. — Seus dedos finos roçaram o ombro dele num gesto íntimo.
James se levantou sem sequer lançar outro olhar para os meus formulários.
— Vamos para o escritório.
Assim que os dois desapareceram pelo corredor, arranquei os papéis de volta. Minha mão firmou-se quando cheguei ao campo Estado Civil.
Solteira.