Uma fantasia urbana para você pensar, sorrir, chorar e se emocionar. Talvez nem sempre os romances clichês terminem com um "viveram felizes para sempre". Blaise só tinha vinte e dois anos, mas já havia passado por muitas coisas. Aos dezoito anos foi diagnosticada com câncer, teve que se mudar para outra cidade completamente nova, perdeu o pai em um acidente de carro e viu todos os seus sonhos desmoronarem. E depois de, finalmente, sobreviver contra o câncer, ela se via em uma nova chance para recomeçar. Em uma noite na qual Blaise decidiu ir para uma festa com sua melhor amiga, Ally, em uma fogueira na praia, conheceu Ash. A conexão que existia entre os dois fez com que ela tivesse a sensação de que já o conhecia antes, mas sem se lembrar de onde. Porém, Ash partiria para uma viagem dois dias depois, sem previsão de volta, e ambos decidiram que queriam passar mais um tempo juntos. Blaise pensou que, talvez, nunca mais o veria, mas os dois sempre mantiveram contato após aquela noite. Na verdade, tornaram-se bons amigos. Oito meses se passaram, e o que ela menos esperava, aconteceu: Ash estava de volta à cidade de Melsmont. E quando ele voltou, foi como se nunca tivesse partido, porque as coisas entre eles continuaram exatamente do mesmo ponto em que pararam na última vez. Contudo, após um tempo juntos, Blaise entendeu de onde viera a sensação de que já conhecia Ash antes. Ele não era qualquer pessoa e fazia mais parte da vida dela — ou vidas — do que ela poderia imaginar. No entanto, outras coisas estavam em jogo e, talvez, chegasse um momento em que eles nem se lembrassem de quem eram um para o outro.
Leer másSabe... Nós costumamos pensar que o futuro sempre vai ser como planejamos, mas a verdade é que isso não está sob nosso controle. Infelizmente, não podemos decidir, de fato, o que irá nos acontecer no dia de amanhã, na próxima semana, meses ou até mesmo anos à frente. A vida é uma grande surpresa, e comigo não foi nada diferente disso.
Aos meus dezoito anos, minha família e eu fomos fazer uma viagem de inverno à Europa. Minha mãe, Jenna, meu pai, Phill, meu irmão gêmeo, Alfred, e eu, claro, costumávamos viajar juntos nas férias. Meu irmão e eu já havíamos nos formado na escola, então estávamos apenas tirando um ano sabático. Meus pais sempre gostaram de viajar muito, principalmente quando eram apenas os dois. Papai era dono de uma empresa de viagens que mamãe administrava com ele. Apesar de ela ser pesquisadora, apenas dava aulas particulares e palestras sobre algumas coisas que tirava de conhecimento durante seus passeios pelo mundo.
Mas, voltando a falar um pouco sobre aquele inverno, não foi uma viagem como qualquer outra que tivemos. Eu vinha sentindo muitas dores nas costas, porém, ainda assim, ignorei-as, pelo fato de que elas poderiam ser por eu ter entrado recentemente na equipe de vôlei, depois de anos sem jogar, e estar me esforçando um pouco demais. Aquelas dores já estavam persistindo por alguns dias, talvez até semanas, mas as coisas ficaram mais preocupantes no momento em que elas começaram a se estender para o abdômen, até que chegaram a ser muito insuportáveis.
Quando resolvi procurar um médico, meio que já era tarde demais. Eu não estava apenas com dores no corpo por um esforço físico exigido, estava com um tumor no rim. E ter demorado algumas semanas a mais do que deveria para ir à consulta fez com que meu quadro clínico piorasse. A notícia me deixou apavorada. Ninguém pode dizer quando vai ser seu último dia, sendo a pessoa mais saudável do mundo ou não, mas quando você está em uma luta constante para poder viver, é completamente doloroso.
Por sorte, o hospital especializado no tratamento de câncer, na Austrália, na cidade de Melsmont, era bem confortável. Conheci pessoas incríveis, e isso me ajudou bastante no tempo que precisei passar lá. Porventura, eu estava respondendo bem ao tratamento e não precisaria de um transplante se tudo ocorresse como o planejado. Nessa época, eu costumava passar pelo menos duas noites no hospital para melhores acompanhamentos, porém, mesmo assim, minha saúde estava mais crítica do que o esperado e não ajudava em nada eu ver a minha família da forma como estavam.
Minha mãe se tornou uma mulher emotiva demais depois que Alfred e eu nascemos, e me doía fingir que não a escutava chorar todas às vezes que se escondia no banheiro do hospital, do outro lado do quarto. Meu pai sabia o quanto era difícil pensar que nunca mais eu voltaria para casa e com isso, ele fazia de tudo para arrancar meus sorrisos mais sinceros. Nós nos divertíamos de todas as maneiras possíveis. Eu sabia que poderia contar com a presença dele para todas as circunstâncias, para me apoiar e me dar forças sempre que eu precisasse.
No entanto, após dois longuíssimos anos de tratamento, em uma noite que deveria ser como qualquer outra, eu estava encostada no balanço de madeira que havia em minha casa, lendo um bom livro, quando comecei a sentir meu corpo dar fisgadas tão fortes, que eu não conseguia nem sequer respirar. Então fui levada o mais rápido possível para a ala de emergência do hospital. Meu câncer havia evoluído de estágio e, como consequência, já tinha se disseminado para outras regiões do meu corpo, resultando em uma metástase.
O ano mais difícil que eu poderia ter imaginado, começou a acontecer, pois além de eu estar em um quadro mais grave, meu pai não estaria mais presente para me motivar a seguir adiante. Ele sofreu um acidente quando estava dirigindo; um cara bêbado entrou na frente dele com o carro. Papai tentou desviar, só que isso fez com que ele perdesse o controle do veículo. O levaram com vida para o hospital, mas infelizmente ele não resistiu.
Desde então, minha mãe praticamente se distanciou de todos nós e se fechou completamente. A sua rotina de me visitar todas as manhãs que eu passava internada, de me levar café na cama e sair quase sempre sem dizer nada. Isso me fez perceber que estar ali a deixava pior cada vez mais. O que, sinceramente, fazia eu me sentir apagada como ela. Era o que, às vezes, eu mais desejava: apagar. Contudo, pelo meu pai, eu queria resistir, mesmo sendo tão complicado e, na maioria das vezes, eu só querendo poder desistir de tudo.
O destino poderia parar de me sacanear uma vez, esperava eu. Não sabia mais pelo que viver. Já havia aceitado que não seria mais a mesma pessoa que fui um dia, até conhecer alguém que, não exatamente, mudou esses princípios, porém fez com que eu enxergasse o que estava diante dos meus olhos de uma forma diferente: coisas que sempre estiveram lá, mas para as quais eu tinha me fechado.
Alguns meses se passaram desde a última vez que fomos para a casa de campo, em Cough. Estávamos animados para o fim de ano. Passaríamos o Natal juntos, como costumávamos fazer. Sendo assim, eu teria que adiantar todo o meu trabalho para que não precisasse me preocupar com artigos de revisões para entregar, já que havia me atrasado com muitos deles.Nesses meses, muitas coisas aconteceram. Troyan decidiu que não voltaria a fazer quimioterapia depois dos últimos exames e, infelizmente, seu corpo não conseguiu se sustentar por mais que algumas semanas após isso. Nós passamos por um luto e foi muito difícil ter que encarar tudo para voltar à realidade, que não nos esperaria por muito tempo. Fizemos tudo que podíamos para que seus últimos dias compensassem, pelo menos, uma parte de todo o sofrimento que ele enfrentou.Meu amigo me fez prometer que eu focaria mais em mim e que eu iria atrás dos meus sonhos. E era por esse motivo que eu estava na cafeteria, encarando meu notebook, pensando e
Meus olhos se abriram novamente. A noite já não era tão escura. Na verdade, estava clara demais, como se eu não estivesse na mesma realidade que antes. Talvez porque não estivesse, de fato.— Oh, amor — a voz de Ash soou, pesada e triste.Dava para eu ver que ele havia chorado, mas que estava aliviado por algum motivo.Quando meus olhos focaram nele, notei que estávamos em um lugar totalmente diferente, sentados em uma colina e de frente para o nascer do sol, que iluminava o caminho de árvores e o riacho ao nosso redor. Eu sabia que essa não era a nossa realidade, porém não conseguia me recordar do que aconteceu anteriormente. Talvez só estivesse sonhando.Parecia que Ash queria evitar me dizer qualquer palavra que fosse. Eu nunca o tinha visto de tal maneira, tão magoado e com tanta dor evidente em seu olhar, a não ser em todas as vezes que ele me olhava, sabendo que estava me perdendo mais uma vez.Não.Não.Não.Isso não era justo. Não daquela maneira, naquele momento. Nós íamos co
Troyan sorriu ao me ver chegando com Ash e Ally. Seu rosto era tão ingênuo, que quase me fazia fraquejar. A casa dele era bem grande e tinha decorações por todas as partes. Claro. Ali eu soube de onde vinha tanto gosto por decorações, em geral, que ele possuía.— Feliz aniversário! — nós três falamos ao mesmo tempo, mas eu o abracei primeiro. Foi um longo abraço.Eu o apresentei para Ash. Troyan ficou empolgado, dizendo que eu seria uma grande escritora, graças à imaginação fértil que ele me proporcionou em um fim de semana em Cough.Eu amava vê-lo sorrindo.Em sua casa, estavam apenas sua mãe e alguns de seus amigos do hospital, incluindo Bárbara e algumas das enfermeiras mais próximas, que estiveram ao lado dele desde o início de sua luta.Todos estávamos emocionalmente estáveis. A intenção era agirmos normalmente, mas sempre ficávamos de olho em cada movimento de Troyan e nos apressávamos para fazer algo para ele antes que pudesse nos pedir.— Eu só quero um copo e uma faca, suas d
Quando abri os olhos, não me encontrava mais no sofá preto, nos braços de Ash. Estava em uma cama, coberta com um edredom que parecia bem reconfortante naquele momento. Eu estava só e sabia o que havia acontecido. Minha mente fez questão de me lembrar de tudo bem rápido. Porém, dessa vez, apenas suspirei em vez de cair no choro.Afastei o edredom de minhas pernas e me levantei. A porta estava entreaberta, então apenas a puxei para que se abrisse mais. Ash foi minha primeira visão. Ele estava apoiado no balcão que havia entre a cozinha e a sala. Quando percebeu minha presença, ficou ereto e me encarou.— Você está melhor?Eu concordei com um sorriso fraco nos lábios.Quando cheguei ali algumas horas antes, não tinha reparado em todas as coisas, somente nele, na verdade. Mas olhando ao redor... A casa não era grande. Talvez até fosse a menor daquele bairro em que vivíamos. Havia duas portas à direita, depois da entrada. Uma levava até onde eu estava, e a outra ficava ao meu lado. Supus
Repassei as minhas lembranças com Ash naquela manhã. Conforme ia pensando nelas, também ia escrevendo-as em um papel. Talvez, assim, fosse mais fácil não as esquecer. Eu contaria as melhores partes para Ally e Troyan. Teria mais pessoas para se lembrarem de nós e mais memórias para serem apagadas. Também, eu ficava relembrando-as a todo momento.O problema era que eu não conseguia saber se havia me esquecido de alguma coisa. Essa era a pior parte: não saber em qual estaca estávamos. A única coisa que eu sabia, porque tinha passado boa parte da noite passada escrevendo alguns diálogos e pensando em outros, era que, até então, eu só havia me esquecido do nosso começo. Isso já era algo prejudicial, só que, pelo menos, estagnou ali. O restante, por ora, ainda estava intacto.Eu fui, animada, naquela manhã, para o hospital. Mesmo que eu os tenha visto há pouco tempo, sentia muita saudade de Ally e Troyan. Como ficamos juntos durante muitos anos, eles meio que começaram a fazer parte da min
AshEmma segurava a minha mão, sem força alguma, e eu podia imaginar que era a sua intenção. Sua pele estava pálida e o cabelo quebradiço. Ela estava deitada, apoiada com as costas em meu peito. Nós nos olhávamos e meu rosto estava quente, de tanto que eu havia chorado naquela manhã. Eu queria poder fazer mais por ela, mas a única coisa que eu tinha ao meu alcance eram os seus últimos minutos de vida.Depois, tudo começaria de novo e de novo. No entanto, se eu conseguisse a sorte de não ter que passar por essa situação mais uma vez, entregaria tudo que quisessem. Eu faria isso com todo o resto do meu coração, sem pensar duas vezes.— Asher — sua voz era trêmula e fraca, só que ela não deixava de sorrir mesmo assim.Lembro-me de quando nos conhecemos. Ela estava dando uma aula de francês e eu passei em frente ao seu trabalho. Quando ela saiu de lá, nossos olhares se esbarraram. Foi então que a reconheci. Ela tinha os mesmos olhos e o mesmo rosto; apenas pequenas mudanças a faziam ser d
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