Nem sonhe

Saulo Prado

Angelina olhava o rio enquanto eu esperava uma resposta. Eu não ia desistir, nem sossegar até ter tudo o que fosse necessário.

Ela deu de ombros de repente. - Dane-se. Eles sempre saem ilesos mesmo. Você acha que a justiça funciona igual pra vocês e pra gente?

Neguei com a cabeça. Queria dizer que não sou "um deles", mas ela se afastou, foi até a mesa, pegou um guardanapo e pediu uma caneta.

Quando o garçom trouxe, eu ainda esperava qualquer coisa dela. Ela escreveu. Me aproximei devagar.

- Talvez ainda não seja, mas sempre... a senha do cofre sempre foi essa.

Vi ali: 1788. Nada complicado. Assenti.

- Eu sabia que você ia me ajudar - falei, animado, indo lhe dar um beijo.

Mas ela recuou. Não por vergonha. Foi um recuo consciente.

- Chega. Acabou. O que mais você queria de mim? Até agora, o que foi verdade pra você?

Fiquei perplexo. Angelina saiu andando apressada pela grama. Eu larguei a caneta e fui atrás.

- Angelina, espera. Me escuta. Pra mim foi tudo verdade até agor
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