O despertador tocou às seis e meia da manhã, abri os olhos com a sensação de estar vivendo um sonho. Na noite anterior, eu mal havia dormido, revivendo mentalmente a entrevista com Gabriel Rodrigues. Cada detalhe da expressão dele, a voz grave, o sorriso contido, os olhos que pareciam analisar-me além da superfície.
“Calma, Anna… ele é só o seu chefe. Um magnata poderoso e inalcançável. Nada mais do que isso”, murmurei para mim mesma enquanto tomava banho.
Vesti a melhor roupa que tinha: uma calça preta ajustada e uma blusa branca de seda, emprestada pela minha amiga que morava comigo. Amarrei o cabelo em um rabo de cavalo elegante e passei um batom discreto. Quando me olhei no espelho, quase não me reconheci. Parecia… confiante.
O prédio da Rodrigues Corporation estava ainda mais impressionante naquela manhã. O movimento frenético de pessoas bem vestidas entrando e saindo me fez sentir uma pontada de insegurança, mas eu respirei fundo e entrei pelas portas giratórias como se pertencesse àquele lugar.
Na recepção, a mesma mulher de coque impecável me reconheceu e acenou com a cabeça.
Eu sorri, nervosa e agradeci.
O elevador parecia se mover devagar demais, e cada andar que passava aumentava mais meu nervosismo. Quando as portas se abriram no 27º andar, uma nova realidade se revelou. Era como entrar em outro mundo: corredores amplos, mesas de vidro, computadores de última geração e uma equipe de pessoas vestidas com roupas de grife, andando rapidamente com pastas e celulares na mão.
— Você deve ser a nova assistente. — Uma voz feminina chamou minha atenção, me tirando do transe que estava. Uma mulher alta, de cabelos loiros e blazer vermelho, se aproximou com um sorriso cordial. — Sou Marina, a secretária do senhor Gabriel.
— Anna. — Apertei a mão de Marina, tentando parecer confiante.
— Ele pediu que eu te mostrasse tudo. — Marina olhou para mim de cima a baixo, me avaliando. — Está preparada?
Sorri timidamente.
Marina me conduziu pelos departamentos, mostrando todo o lugar.
Eu engoli seco ao ver a porta de vidro com o nome dele gravado em letras prateadas. Apenas olhar para aquele escritório fez meu coração acelerar.
— Ele é exigente, mas justo. — Marina falou em tom conspirador, aproximando-se. — E não costuma contratar qualquer pessoa para trabalhar tão próximo dele. Você deve ter causado uma boa impressão.
Fiquei vermelha com a informação.
— Boa sorte, querida. — Marina piscou para mim. — Você vai precisar.
Pouco depois das nove, eu estava organizando alguns documentos quando ouvi passos firmes se aproximando. Desviei meus olhos dos papeis para ver quem estava se aproximando e eu prendi a respiração.
Gabriel caminhava pelo corredor com a confiança de quem dominava o mundo. Seu terno cinza escuro parecia feito sob medida, e a gravata perfeitamente alinhada destacava a elegância dele. Havia algo hipnotizante na forma como ele se movia — calmo, mas cheio de autoridade.
— Senhor Rodrigues. — Marina se adiantou, entregando-lhe uma pasta.
— Gabriel. — Ele corrigiu automaticamente, e então seus olhos pousaram diretamente em mim. Por um instante, o meu mundo parou.
— Bom dia, senhorita Oliveira. — Ele disse com um meio sorriso, a voz grave ressoando como música. — Vejo que já está se adaptando.
— Estou… tentando, senhor. — Sorri nervosa.
— Gabriel. — Ele repetiu, com um brilho divertido nos olhos. — Preciso que você se lembre disso.
Corei, desviando o olhar.
Ele se aproximou e pegou um documento que estava em cima da minha mesa. O perfume dele — uma mistura de notas amadeiradas e frescas — me envolveu, fazendo meu coração acelerar.
— Sim, claro. — Respondi firme e rapidamente, pegando as folhas para revisar.
Antes de sair, Gabriel lançou um último olhar para mim. Um olhar intenso, que durou um segundo a mais do que o necessário. Eu senti uma corrente elétrica percorrer minha espinha.
Às onze em ponto, eu segui pelo corredor ate a sala de reuniões, onde entrei com uma pilha de relatórios em mãos. O espaço era enorme, com uma mesa de vidro que parecia não ter fim. Gabriel já estava lá, conversando com outros diretores. Quando entrei, os olhos dele automaticamente me acompanharam, e senti as bochechas corarem.
Coloquei os relatórios sobre a mesa, e Gabriel se inclinou para pegar um, os dedos dele roçando de leve nos meus. Foi rápido, mas o suficiente para que eu sentisse um arrepio que me deixou sem reação.
Durante a reunião, eu me esforcei ao máximo para prestar atenção nos números e gráficos, mas a presença dele me distraía. Gabriel tinha um jeito de comandar que era fascinante — cada palavra dita com firmeza, cada olhar calculado.
Quando a reunião terminou, Gabriel me chamou, e pediu para eu ficar mais um pouco, pois queria falar comigo.
— Eu? — Tentei sorrir. — Talvez só um pouco.
— Não precisa. — Ele se levantou, andando ao redor da mesa até parar perto de mim. — Trabalhar comigo exige confiança, não medo.
Eu o encarei, tentando decifrar o tom daquelas palavras. Havia algo no olhar dele… algo que parecia ultrapassar a barreira profissional.
— Vou confiar em você com algo importante. — Ele disse, entregando-me um tablet. — Preciso que organize esses contratos até amanhã.
— Pode deixar.
Ele se aproximou um pouco mais, inclinando-se levemente.
Por um momento, o ar naquela sala pareceu denso, carregado de algo que nenhum de nós dois ousou nomear.
Quando o expediente terminou, eu sai do prédio com o coração em disparada. O dia havia sido intenso demais. Gabriel Rodrigues era muito mais do que apenas um chefe. Ele era um enigma perigoso, uma mistura de poder e charme que poderia facilmente destruir minhas defesas.
E, do outro lado da cidade, Gabriel olhava pela janela do escritório, lembrando do brilho nos seus olhos. Ele sabia que deveria manter distância. Sabia que havia um segredo em sua vida que, se revelado, poderia me afastar para sempre.
Mas, pela primeira vez em anos, ele se sentia tentado a quebrar suas próprias regras.