10 anos atrás
Donatella
Estava sentada em um balanço aproveitando os poucos raios de sol do inverno cruel que estava passando lentamente. Meus dedos estavam quase congelando e meus dentes rangiam, mas não deixaria de aproveitar um pouco da aparente liberdade que estava tendo naquele dia.
A paz estava reinando no quintal da casa antiga e bem conservada que eu vivia, coisa anormal para um ambiente com sete crianças. Sim, eu tenho sete irmãos de idades diferentes. Minha doce mãe pariu uma criança atrás da outra e eu sou a sétima.
Ela conseguiu fazer seis lindos garotos, para o orgulho do meu querido pai, e para o meu azar nasci menina.
Ele nunca expressou orgulho, amor ou qualquer coisa que um pai normal faria. Nunca fui a filha protegida, nunca fui amada por ele e muito menos pela minha mãe, que infelizmente está cada dia mais amarga.
Minha família tinha dinheiro, muito dinheiro e sempre ouvi meu pai se gabando disso para Deus e o mundo, porém tudo mudou quando nasceu dentro de seu peito mesquinho a sede por poder, por jogos e apostas.
Uma combinação explosiva que arruinou nossa família por completo e estava trazendo lentamente a ruína total.
Meus irmãos já não andavam mais com roupas de marca, eles já não tinham os aparelhos de última geração e até seus videogames que nunca pude nem sequer tocar um dedo estavam em suas posses, tudo vendido.
Meu pai enlouqueceu completamente, mas de acordo com ele tudo vai mudar no dia de hoje.
Ele fez com que todos ajudassem na arrumação da casa, já que não podemos mais contratar empregadas para a limpeza.
A única excluída fui eu. Por algum motivo milagroso não me colocaram para fazer as tarefas da casa, coisa que eu sempre fazia.
Quando a noite foi aparecendo decidi entrar, estava gelada.
_ Tome um banho e coloque a roupa que coloquei em cima da sua cama.
Disse minha mãe sem rodeios. Meus irmãos já estavam arrumados e sentados na sala.
Meu pai estava nervoso e dava pra ver isso no semblante dele.
Depois do banho que tomei coloquei a roupa que minha mãe havia deixado em cima da minha cama. Por milagre eu ainda tinha onde dormir.
Quando desci as escadas a tal visita que meu pai tanto falava havia chego.
O homem idoso me cumprimentou com um aperto caloroso de mãos e durante o jantar inteiro não tirou os olhos de mim, causando-me arrepios pelo corpo inteiro.
Meu pai estava animado, falava até pelos cotovelos e quando minha mãe tentava interagir um pouco sem vergonha alguma ele a mandava ficar quieta, que o assunto era de homens.
Eu posso não ter nenhum afeto com minha mãe, mas a forma que ele a tratava me deixava irritada.
Quando o homem finalmente estava prestes a ir embora fiquei surpresa com a fala de meu pai.
_ Donatella, você irá junto com o senhor Lourenço. Seja uma boa menina.
Olhei para o meu pai sem entender o real objetivo de suas palavras. O velho sorriu gentilmente, acenando em direção a porta. Meus irmãos estavam quietos, todos os seis.
Abri minha boca querendo questionar mas o olhar dele já disse tudo. Minha mãe estava fria como sempre e sem saída caminhei em direção a porta. Não tinha opção, nem que eu quisesse conseguiria correr ou fugir. Haviam nove pessoas naquela casa, e nenhuma delas me ajudaria. Por que lutar? Por que remar contra a maré? Não tinha escolha a não ser ir, fingindo ser uma marionete muda.
Quando entrei no carro que cheirava a novo olhei mais uma vez para a minha família, com ranço, amargura e tristeza.
Se fosse para ir para longe tudo bem, mas não queria vê-los nunca mais.