Augusto
A delegacia cheirava a mofo e tensão acumulada. As paredes manchadas, o som distante de outros detentos sendo conduzidos pelos corredores, e o tilintar das algemas que pesavam nos meus pulsos criavam uma atmosfera que faria qualquer um perder o equilíbrio. Mas eu não era qualquer um. Mesmo algemado, mesmo com o suor escorrendo pelas costas sob a camisa cara, eu mantinha a postura de quem sabia exatamente o que estava fazendo. Ou pelo menos fingia que sabia.
Fui conduzido até uma sala pequena e abafada. Um ventilador de teto girava lento, empurrando o ar quente de um lado para o outro. Me fizeram sentar numa cadeira de ferro, algemado à mesa. O delegado Rodrigo me observava com olhos de quem já tinha decidido o meu destino. Ao lado dele, dois investigadores, com pranchetas em mãos e olhares famintos por uma confissão.
Meu advogado, o doutor Mauro, entrou logo em seguida. Ajeitou o terno e se sentou ao meu lado. Trocamos um olhar breve. Ele sabia que a situação era grave, mas ai