29. O peso das regras
O garçom havia acabado de recolher os pratos principais, mas eu mal lembrava do sabor do que tinha colocado na boca. Cada frase dita por Kairos até ali girava em minha mente como uma lâmina afiada, cortando certezas e abrindo espaço para dúvidas ainda maiores.
Ele permanecia diante de mim, tranquilo, com o corpo levemente recostado na cadeira, uma mão apoiada no braço e a outra girando o cálice de vinho com uma calma que me irritava. Eu me sentia um vulcão prestes a explodir, e ele parecia uma fortaleza impenetrável.
— Você fala disso como se fosse a única forma possível — murmurei, tentando manter a voz estável. — Como se não existisse outra maneira de viver, de sentir, de se relacionar.
Kairos ergueu os olhos para mim, e aquele olhar, carregado de intensidade, fez meu estômago se revirar.
— Não é questão de escolha, Mia. É questão de sobrevivência. — Ele disse isso como se fosse óbvio, como se eu estivesse perdendo tempo ao questionar.
Inclinei-me um pouco para frente, incapaz