Capítulo 10
Ajoelhei-me diante do computador, olhando fixamente para os arquivos de vídeo na tela, e liguei para Alfred.

Segurei um soluço.

— Alfred.

— O que foi? Não era você quem queria cortar laços comigo? — Perguntou ele, um pouco surpreso.

— Só preciso te perguntar uma coisa. Três anos atrás, o Daniel te pediu pra "me colocar na linha"?

Ele ficou em silêncio por alguns segundos.

— Como você descobriu?

Fechei os olhos. Então era tudo verdade.

A voz dele soou fria:

— Naquela época, Daniel trocou um projeto portuário de dois bilhões de dólares pela chance de "te dar uma lição". Não sei o que você fez pra irritá-lo, mas achei que não faria mal deixá-lo te ensinar algo, então aceitei.

Desliguei. Qualquer esperança que ainda restava dentro de mim se apagou.

Daniel se aproximou de mim, dormiu comigo e me controlava apenas por vingança.

Comecei a rir. Baixo no início, depois cada vez mais alto. Ri até as lágrimas escorrerem pelo meu rosto e o ar faltar. Quando a risada acabou, enxuguei o rosto e me levantei.

Fui até o quarto de hóspedes e arrastei a mala que já estava pronta há muito tempo. Da gaveta, peguei o passaporte e a passagem para Velport.

Dei uma última olhada no cômodo, o lugar que eu um dia confundi com um lar.

Depois fui até a sala e peguei o isqueiro da caixa de charutos do Daniel. Foi o primeiro presente que ele me deu. Na época, achei que tinha um significado especial.

Agora eu sabia melhor: não passava de uma marca de caçador em sua presa.

Acionei o isqueiro. Uma chama viva saltou. Então o joguei nas cortinas da sala. O fogo se espalhou rápido, devorando cada lembrança daquela casa.

Arrastei minha mala até a porta e olhei para trás, o cômodo sendo tomado pelas chamas. Despedi-me de Daniel, e, com ele, da minha juventude.

Meia hora depois, as sirenes dos bombeiros ecoaram pelo bairro.

Sentei sobre a mala, do outro lado da rua, e fiquei observando em silêncio. As chamas subiam ao céu, tingindo metade da noite de vermelho.

Logo, um carro preto surgiu em alta velocidade. Daniel saiu do veículo. Ao ver o mar de fogo, seu rosto empalideceu. Ele olhou em volta e finalmente me encontrou do outro lado da rua. Correu até mim.

— Freya! Você está ferida?

Olhei pra ele e não disse nada.

— Por que você colocou fogo na casa?

Ele perguntou, e depois suspirou.

— Esquece. Deixa queimar. Se sente melhor agora, princesa?

Continuei em silêncio. Levantei-me, puxei a mala e comecei a andar. Daniel bloqueou meu caminho.

— Aonde você vai?

— Pra casa.

— Eu te levo de volta pra mansão dos Seymour.

Ele pegou o celular enquanto Mark preparava o carro.

— Não precisa.

Desviei dele e continuei andando. O telefone tocou. Ao ver o identificador da chamada, o semblante de Daniel se fechou ainda mais.

— Tenho uma reunião urgente. Mark vai te levar de volta. Depois conversamos. — Disse ele.

Ignorei e caminhei direto até um táxi parado no meio-fio.

— Freya. — Daniel me chamou.

Olhei pra trás.

— Fica em casa e me espera. Tenho uma coisa pra te contar.

Depois disso ele entrou no carro e partiu. Fiquei olhando as luzes traseiras desaparecendo à noite e murmurei:

— Adeus, pra sempre.

Entrei no táxi e pedi ao motorista que me levasse ao aeroporto. No caminho, abri o aplicativo do banco e calculei quanto do dinheiro de Daniel eu tinha gasto nos últimos três anos.

Transferi tudo de volta pra ele: despesas médicas, hospedagem na casa dele e outros custos, somando tudo… noventa e três milhões de dólares.

Assim que a transferência foi concluída, joguei o celular pela janela. Vi o aparelho se despedaçar no asfalto e soltei um suspiro de alívio.

A partir de agora, Daniel não poderia mais me alcançar.

Uma hora depois, o táxi parou no Aeroporto Internacional de Belcaster. Peguei minha mala e caminhei até o portão de embarque.

— Senhora, seu voo sai em meia hora. — Avisou uma funcionária.

Assenti e fui esperar na sala de embarque.

Pela janela, vi alguns jatos particulares na pista. Um deles se preparava para decolar, vi Daniel subindo as escadas. provavelmente indo a Graychester para uma reunião.

Um anúncio ecoou pelos alto-falantes:

— Passageiros com destino a Velport, o embarque já começou.

Levantei-me e olhei pela última vez para o jato particular.

Minha história com Daniel havia terminado.

Depois de embarcar, sentei-me na janela. Dois aviões estavam na pista, apontando para direções opostas, um rumo a Graychester, o outro a Velport. Como nossas vidas: partindo em caminhos diferentes, que jamais se cruzariam de novo.
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