Olhando para o jeito atencioso dele, senti um amargor no coração. Ele só aprendeu a ser assim para cuidar da Natália, não foi?
Lancei-lhe um olhar e tomei o comprimido de cálcio.
— Giselle, Mateus, vocês já dormiram?
Sem esperar resposta, Natália empurrou a porta do quarto.
Trazia nas mãos um frasco de óleo essencial para massagem, sorrindo de maneira gentil.
— Giselle está grávida, fica fácil de inchar. Aprendi uma técnica nova de terapia, posso fazer uma massagem para a Giselle.
Franzi a testa e recusei. Não achava que minha relação com Natália fosse próxima o suficiente para que ela quisesse me massagear.
— Giselle, você está achando que minha massagem não é boa?
Natália olhou para Mateus com um ar de coitada:
— Mateus, eu sei que a Giselle não gosta muito de mim, mas juro que não tenho más intenções...
Mateus apertou meu rosto de leve, com carinho:
— Natália acha que está incomodando por ficar aqui em casa, então quer fazer alguma coisa para compensar. Deixa ela te massagear um pouco, vai.
Senti um nó na garganta. Entre mim e Natália, ele escolheu Natália.
Mesmo sabendo que minha relação com Natália não era boa, ele não tomou meu partido.
Naquele momento, perdi todas as esperanças e parei de lutar.
— Então obrigada.
Escolhi aceitar.
Não me importava mais com o que Natália fosse fazer, porque amanhã, a essa hora, já teria partido de avião daqui.
Não esperaria mais pelo favoritismo de ninguém, nem deixaria que alguém me encontrasse de novo.
— Mateus, para a massagem preciso prender mãos e pés, para evitar movimentos involuntários.
— Isto é uma faixa elástica, não aperta e não machuca a Giselle.
Natália mostrou duas faixas elásticas, demonstrando sua elasticidade.
Olhei para Mateus com um olhar suplicante, esperando que ele recusasse.
Quem precisa ter as mãos e os pés fixos quando estiver recebendo massagem?
Era um pedido obviamente mal-intencionado.
Mas aquele Mateus, sempre tão decidido e perspicaz nos negócios, acreditou em Natália.
Deixou que ela amarrasse minhas mãos e pés.
— Vou começar a massagem, Mateus, pode sair por enquanto.
Mateus assentiu e apertou minha mão com gentileza:
— Assim que terminar eu volto para ficar com você.
No momento seguinte, Mateus saiu.
O rosto antes gentil de Natália mudou instantaneamente.
Assim que a porta se fechou, tentei me soltar das faixas, mas percebi que mãos e pés não se mexiam. Aquilo não era elástico...
— Não adianta se mexer, as faixas elásticas estão aqui. As suas não têm elasticidade.
Natália balançou as faixas elásticas na mão, cheia de satisfação.
— Giselle, você sabe que o Mateus só casou com você por minha causa, não sabe?
Meu rosto ficou sombrio, mas não respondi.
A mão dela passou levemente pela minha barriga.
— Mas saber disso não adianta, não é? Você não pode mudar o fato...
— Desde pequena eu te atormentava e, quando seu filho nascer, ele também vai sofrer contigo...
Meus olhos se encheram de lágrimas, caindo silenciosamente.
Eu sabia que não podia mudar o favoritismo de Mateus, do papai e do meu irmão por Natália, por isso decidi partir.
Mas ouvir essa verdade saindo da boca de Natália ainda doía profundamente.
— Sabe de uma coisa? A morte da mamãe não tem nada a ver com você...
Enquanto falava, Natália derramou o líquido do frasco de vidro sobre o meu braço.
Meu coração disparou. O que ela queria dizer com aquilo...?
— Quando você nasceu e saiu do centro cirúrgico, o papai e o mano te amavam muito, diziam que você parecia com a mamãe, que era linda, e que iam te tratar como uma princesinha, dar sempre o melhor para você.
— Eu fiquei com raiva!
— Por que tudo para você? Antes de você chegar, eu era a princesinha mimada da casa!
— Então, eu mesma arranquei o tubo de oxigênio da mamãe, que ainda estava inconsciente depois da cirurgia...
— Queria ver se, se a mamãe morresse por sua causa, o papai e o mano ainda iriam te amar!
Ao ouvir isso, comecei a tremer!
Então, a morte da mamãe não foi culpa minha!
Natália, com apenas sete anos, já era tão cruel!
— E foi isso mesmo, o mano e o papai colocaram a culpa da morte da mamãe em você. Eles deixaram de te amar, até passaram a te odiar, e deram todo o carinho para mim!
Natália sorriu para mim, triunfante!
— Natália, você não tem medo que eu conte isso para o mano e para o papai?
Minha voz tremia. Antes eu achava Natália manipuladora, mas hoje, ela me parecia assustadora!
— Mesmo que você conte, ninguém vai acreditar!
Natália riu friamente. No segundo seguinte, tirou um isqueiro e acendeu o líquido que havia jogado em mim.
Chamas quentes queimaram instantaneamente meus dois braços.
Debati-me loucamente, até conseguir soltar as amarras e cair no chão. Ajoelhei, apoiando os braços no solo e protegendo desesperadamente minha barriga, para não machucar o bebê.
— Ah, que dor...
Nem tive tempo de gritar de dor, Natália já estava caída no chão, gritando.
Mateus entrou correndo.
— Não culpa a Giselle, deve ter sido eu que machuquei ela, por isso ela me chutou...
Mateus franziu a testa:
— Giselle, como você pôde machucar a Natália...
Tentei explicar, mas a dor aguda na barriga me impediu de falar...
No momento seguinte, Mateus saiu levando Natália nos braços:
— Vou levar a Natália ao hospital primeiro...
Ele nem percebeu o quanto eu estava pálida.
Demorei um bom tempo para conseguir me levantar.
Passei pomada nos braços queimados.
Preparei todos os meus documentos. Assim que amanhecer, partirei daqui.