Nas mãos do CEO:
Capítulo 8
Xavier Lancaster
Parecia clichê da minha parte dizer que tinha medo de amor, tinha medo de me entregar e ser traído pelo sentimento. Mas a verdade é que não era medo, era receio de ter uma dor tão grande que não coubesse no peito como a minha mãe, de não querer mais sofrer, e lá estava aquela dor que pode tirar o seu prazer em viver.
De ver o amor da minha vida vivendo outra coisa que eu queria viver com ela nos braços de outra pessoa. Isso aconteceu com o meu pai, e bom, eu fiquei no meio desse desencontro de almas, vivendo de migalhas de atenção e afeto. Tudo porque meus pais não conseguiam seguir em frente sem as pessoas que desejavam.
O par que foi feito por “N” motivos, mas nunca pelo certo, por sentimentos verdadeiros, esse foi o pecado do meu avô. Globalização de acordos e achar que Nolan Lancaster teria o mesmo final feliz que ele teve com a minha avó.
Bem verdade que não foi por falta de boa intenção, meu avô somente não sabia que meu pai era apaixonado por uma mulher que nunca poderia ser sua.
Não era o valor monetário e o poder que lhe encheria, no lugar do vazio que poderia somente ser preenchido por amor, estava a solidão de ser casada com o seu grande amor, ou pelos menos o único que foi capaz de amar, e não poder viver esse sentimento por causa que ele não sente o mesmo. Condenar a terceiros dos seus infortúnios, meu pai nunca perdoou meu avô.
Não acredito que o meu avô iria brigar com ele se pedisse o divórcio, somente o comodismo e a falta de coragem falaram mais alto.
Não podia julgar porque fui pelo mesmo caminho, me casei por uma conveniência, a Família Scott era a segunda melhor na época nos negócios. Era o caminho mais favorável e certo a se fazer.
O que eu não contava era que ser casado com Elise Scott me custaria desacreditar no amor totalmente, foi o empurrão final para não querer me envolver romanticamente com ninguém.
Fora que eu tinha uma filha para criar, meu pedacinho de paz, a menina dos meus olhos, seria difícil aceitar que Daniela por ela?
Olivia merecia uma mãe, uma mulher que fosse realmente capaz de amar a minha filha antes de todo o pacote que vem junto.
Daniela teria que se contentar somente com o amor da minha filha, ela seria a minha esposa de mentira, somente no papel. Como eu disse, já vi demais para cometer os mesmos erros dos meus pais.
- Papai, estamos chegando? – Olivia mexia os pés impaciente.
- Sim, minha filha... – Olho ao redor e a realidade me atinge como um soco.
Daniela morava em um lugar bem menos glamoroso que os demais empregados da minha empresa, pelo menos os que trabalhavam diretamente para mim.
Quando cheguei na porta do edifício onde Daniela morava, confesso que fiquei bem constrangido e me perguntando se pagava bem os meus funcionários.
Não que o lugar fosse o mais pobre, por experiência própria, eu já vi favelas e barracos na vida. Londres estava longe de ter um lugar sujo e com casas quase caindo aos pedaços. O lugar não era um dos piores da redondeza, mas estava longe de ser o mais seguro da cidade. Acho que no centro nem tinha uma casa que manchasse o povo que era polido e frio. O que eu quero dizer é que Daniela estava no lugar errado da cidade.
- Olívia, fique aqui dentro, sim? Vou buscar a sua tia... – Ela concorda e fica brincando com o seu urso
Um urso feia, mas que era presente da tia Dani, então a minha filha andava com aquele urso para cima e para baixo.
Saio do carro e olho para a porta, avaliando se entrou ligou, não queria ser o chefe hoje.
Preciso que Daniela se case comigo, porque sinceramente não quero pagar para ver Elvira cumprindo a promessa de tirar a minha filha. Não mesmo!
Porque eu sei que lá no fundo daquele coração frio como gelo, ela é capaz de fazer isso somente para provar que estava certa, que Olivia precisa de uma mãe, e que eu teimoso, não dei ouvidos a voz da razão.
Vejo uma movimentação vinda da portaria do prédio velho, a porta se abre e posso ver que minhas próximas horas vão ser mais difíceis do que eu imaginava.
Como ela pode estar tão linda a essa hora da manhã?
Daniela não era como as minhas outras funcionárias que viviam com roupas justas, discretas, mas caras e muito apartadas em lugares que não eram confortáveis.
Minha estagiária sempre estava com roupas organizadas, nada a apertando ou dando ilusão para os outros olharem com mais atenção. Sua beleza conseguia ir além de roupas e provocação, acho que Daniela seria considerada bonita até vestindo um saco de batata.
Na verdade, eu gostava da elegância silenciosa da Daniela Marçal, minha estagiaria era bonita, mas ela não tinha muita noção disso ou era um mecanismo de defesa.
E a sua beleza se escondia em roupas mais confortáveis, se era para defesa ou ela não desejava chamar atenção, estava surtindo efeito. Porque eu não via ela sendo muito cortejada na empresa, fora que ainda tinha Paul que era uma pedra no sapato dessa garota.
Tento me concentrar no verdadeiro motivo de estar ali, tinha que manter a minha armadura intacta.
Estava pronto para ser super grosseiro com Daniela ao ver a mesma saindo daquele prédio, mas não conseguiu prosseguir ao ver como ela estava bela, e como Olivia é louca por essa mulher.
Fiquei vendo a interação das duas, e amaldiçoei minha ex-sogra por ter razão, Olivia precisava de uma mãe.
Não sabia se isso era uma benção ou uma maldição.
Não tem como mentir quando não se gosta de uma criança, o corpo e os gestos denunciam. Dá para ver quando a pessoa está sendo fria, volátil e distante emocionalmente.
Eu já vi isso inúmeras vezes, meus pais não são amáveis com Olivia, minha ex sogra muito menos.
Fora que muitas mulheres tentaram chegar há mim através da minha filha, claro que a motivação era suja, e tanto eu quanto Olívia não abrimos brechas, por isso é fascinante ver a interação entre a minha filha e a minha estagiaria.
Fiquei com cara de idiota, as duas perceberam, tive que me recompor e não deixar aquela interação mexer tanto comigo.
A ideia de ir com as meninas para ver os fornecedores da festa veio pela manhã, queria ter mais contato com Daniela, e ver até onde vai o amor que ela nutre para a minha filha sem mesmo notar.
Daniela marcou com os fornecedores porque iria sozinha ao longo da semana, mais um acúmulo de funções que a mesma nunca me cobrou.
A questão é que eu mudei de ideia, fiz duas ligações e fiz esse encontro que vai ser um divisor de águas para mim. Se tudo continuar nesse nível, vou ter que mexer meus pauzinhos para Daniela terminar com Paul e se casar comigo.
Não posso permitir que Paul a peça em casamento, ela não pode se casar com aquele babaca. Não quando ele não presta, e ela tendo que ser a minha esposa e mãe da minha pequena.
Olho para a mão dela, sei que ontem ela estava esperando um pedido de casamento, coitada da minha secretária, Paul nunca vai pedir Daniela Marçal em casamento.
Como eu tenho tanta certeza disso?
Porque eu o conheço de outros verões, aquele lá não é o lorde que tenta pintar ser, ele é mais sujo e cruel que muito gangsters de Londres que ficam nas vielas da cidade.
Paul era um risco agora, tentei ignorar a sua existência, mas teria que agir para ele não ser uma pedra no meu sapato em relação a Daniela Marçal. Os outros problemas que tivemos não terá peso nas minhas próximas decisões, não ligue no passado, não vou me importar agora.
Eu poderia desejar vingança, poderia me culpar por tudo que fez em minha vida no passado, mas não quero, já passei por coisa pior, e vai por mim, não vale a pena.
Ainda me lembro do dia que vi com um bebê de colo chorando, tudo mudou naquele estante, Olivia devia ter uns dez ou quinze dias de vida. E eu me vi sozinho para cuidar dela, isso sim merece a minha atenção, a minha filha, não Paul e suas dívidas com a sua consciência.
- Vamos papai? - Estávamos no carro e já tínhamos chegado no primeiro destino.
Meus pensamentos eram meu pior inimigo no momento.
- Claro, minha filha...