Uma pausa. O ar entre eles engrossou, denso como sangue ressecado, como se o próprio crepúsculo suspirasse e contivesse o fôlego, temendo o que viria.
Clara o encarou. Seus olhos — duas lápides sob o luar — perfuraram-no.
— As trevas dentro de você... elas o dominaram, não? — Seus lábios curvaram-se, não em um sorriso, mas na sombra de uma... piedade? Desdém? — Um casulo de trevas. É isso o que vejo.
Donaldo sentiu a amargura subir-lhe pela garganta como um rio de fel, negro e espesso, veneno de memórias podres. Como no sonho. Como sempre.
Era ela? Ou apenas outra mentira esculpida pelas sombras?
Não importava.
— Você me abandonou, Clara. — Suas palavras eram lâminas temperadas em veneno, cada uma cravada com a precisão de um carrasco. — Me abandonou por me achar fraco. Impotente. Por achar que eu não mais podia satisfazê-la.
Seu punho cerrou-se, unhas rasgando a própria carne como se pudesse esmagar o passado entre os dedos.
— Nunca esqueci como você me empurrou para um abismo. Nunca