No limiar entre o afogamento e o renascimento, Yara irrompera das profundezas — não pelo próprio esforço, mas pela própria alma do rio, seu corpo recompondo-se como névoa matinal sobre as águas. Das correntes turbulentas onde sombras se enrolavam como ancestrais cobras de água, ela emergira num arpejo de reluzentes gotas.
Banhada pelo luar, cada curva de seu corpo desnudo contava uma história, uma história de fuga — quadris que haviam conhecido o altar negro agora marcados pela luz prateada da superfície, cabelos flutuando como algas escuras ainda presas ao reino que tentara devorá-la. O ar invernal golpeou seus pulmões como um machado de gelo, e Yara sorriu com lábios azulados.
Que delícia esse frio que queimava.
Que maravilha essa dor que provava.
Viva.
Estava viva.
Mas as sombras sussurravam em seu sangue.
Por um fugaz instante, Yara viu-as — negras e viscosas, rastejando atrás dela como raízes de um pesadelo sem fim.
"Tola," rosnou a voz que conhecia demasiado bem, "achar que fug