Lorena
Eu precisava tocar perfeitamente.
Nada podia soar fora do lugar, nenhuma nota podia escapar, nenhum movimento podia ser impreciso. Eu sabia que era boa, sempre soube. As pessoas diziam, os professores diziam, Felipe dizia. Mas, dentro de mim, nunca parecia suficiente.
Na minha cabeça, sempre havia algo a mais para corrigir, ajustar, melhorar. Como se errar não fosse uma opção. Como se falhar significasse algo muito maior do que apenas uma nota fora do tempo.
Talvez fosse porque, para o meu pai, nada nunca foi suficiente.
Nem quando eu acertava tudo.
Enquanto tocava, eu sentia o peso disso nos ombros. A exigência, a cobrança silenciosa, a voz que não era mais dele, mas que continuava viva dentro de mim, repetindo que eu podia fazer melhor… que eu tinha que fazer melhor.
Quando Felipe me chamou para jantar, eu ainda estava presa àquela música, àquela sensação de que algo estava errado, mesmo sem saber exatamente o quê. Respirei fundo, fechei a partitura, guardei tudo com cuidado