Capítulo 8: Entre ódio, paixões e traições. Parte 2

Algumas horas mais tarde...

Observei pelo o telhado ao fundo a oeste do portal rúnico, uma iluminação que retirava a escuridão daquela imensidão. Podia ouvir daqui a música além do barulho sendo executados lá, entre as colinas. Já que a maioria da alcateia que reside na cidade, e os que moram nas cidades humanas estavam aqui para festejar o título de alfa de Lucius.

Ainda estava decidindo se iria ou não. Havia prometido ao meu irmão mais velho, mas algo dentro de mim só queria ficar aqui admirando de longe a festa e não poder conversar sobre mais nada.

—Ikarus! —ouvi uma voz tão suave quanto o vento me chamar.

Virei minha face e percebendo que era Archelaos, um adolescente de cabelos castanho com fios loiros. Tímido que evitava olhar em nossos olhos.

—Odette estar te chamando, disse para bater na porta do seu quarto! —falou sem jeito com seus cílios abaixados.

—Certo, obrigado! —agradeci e ele sumiu tão ágil quanto uma raposa em fuga.

Me ergui daquele telhado ajeitando meu casaco fino de capuz. E me equilibrando, fui em direção a janela do meu quarto e joguei para dentro daquela minha zona. Fui até minha gaveta e retirei de seu conteúdo um março preto de cigarros e um isqueiro de ferro que trazia estampado um lobo.

Presente esse do meu primo... Dante Sunsetales, quando o visitei da última vez. E sua única lembrança, que ainda guardo. Pois ele era como um irmão para mim. Esfreguei o objeto com melancolia.

Balancei a cabeça, querendo esquecer os problemas extensivos de família. E ensaquei ambos no bolso daquele casaco verde-musgo.

Fui agilmente para longe do interior do meu cômodo, em direção ao quarto de Odette. Entre lances de corredor fui assobiando calmamente, constatando que a maioria já estava lá na festa. E assim que cheguei do outro lado daquela mansão, bati rente a porta e uma voz pediu para mim esperar.

Encostei na parede ao esperar, e ouvi a porta ranger. Odette colocou-se para fora, vestia uma saia com uma blusa de mangas longas que a deixava mais madura do que era. Sorriu para mim sem jeito, unindo suas mãos delicadas a sua frente.

—Queria falar comigo? —indaguei.

—Sim, poderia levar minhas irmãs ao festival? Lucius me disse que vai. —pediu a mim. —E meus pais, estão resolvendo algo e só vão chegar bem mais tarde.

Fiquei receoso com aquilo. E ela percebeu.

—Sei que você e a Samantha não se dão bem, mas a Gray e Megan gostariam de ir cedo. E não queria que passassem por aquela floresta sozinhas! —estava com uma expressão de clemencia, que deixou-me sem escapatória de negar.

—Tudo bem, Odette! —sorri de leve. —Mas você não vai com a gente?

Ela negou com a cabeça e explicou: “Vou ficar com meus filhos, e Tyler precisa de mim. Além que ele não esta tão alegre em ir, entende?”

—Entendo. Mas gostaria que não ficasse sozinha aqui, principalmente com Achilles que não vai e...

—Hermes vai ficar comigo, ele disse que não vai também. —ela respondeu.

—Ainda bem então. —falei.

—Mandei uma mensagem a Gray, para te esperar assim que atravessar o portal! —me disse. —Mas acho que já atravessaram!

Ela pegou o celular do bolso da saia o averiguando. E confirmou com a cabeça.

—Certo, então vou buscá-las. —respondi.

—Ikarus... Obrigado! —me agradeceu e eu só acenei com a cabeça.

Assim que saí da mansão, corri na velocidade lupina entre aquela floresta escurecida. E em minutos, cheguei ao portal rúnico. Quando ouvi:

—Ele não vai vim, nos deixou plantadas aqui! —e reconheci que era de Samantha.

Ela estava trajada numa calça jeans, botas que a deixavam mais alta do que era. Um top curto que deixava seus seios mais salientes e um casaco pesado. Já suas irmãs pareciam o contrário, em usar algo mais feminino entre vestido e acessórios rosados.

—Não deixei não! —disse ao emergir da floresta que a fez ficar perplexa.

—Ikarus! —pronunciou Gray animada em me ver.

—Ikarus... —disse Megan sorrindo.

—Como estão? —perguntei e elas me responderam. —Vim buscar vocês, ah e essa pessoa aí!

Falei ao apontar com a face com desdém, que fez Samantha queimar de raiva ao cerrar os punhos.

—Eu tenho nome sabia? —me indagou.

—Sei?! —retruquei irônico enquanto suas irmãs riam da cena. —Melhor irmos, que o festival já começou.

As duas jovens foram na frente, enquanto eu e Samantha ficamos para trás. Num silencio mortal, que era somente se ouvido nossos pés afundando nos galhos. Não queria entrar em assuntos com ela, já que não éramos íntimos e nem nada.

Quando chegarmos rente ao local, já podia se ver as barracas de comida e entre outras coisas com música ao fundo. Parei e olhei em volta.

Megan e Gray seguiram de mãos dadas para o centro daquela multidão. E eu simplesmente dei as costas, e fui andando pro lado contrário.

—Hey! —ouvi a voz da Samantha me chamar. —Não vai ficar com a gente?

—Fui designado a buscá-las, não ser babá! —falei ao olhá-la, e pude ver o batom vinho bem delineado em seus lábios que a deixavam mais bela do que era.

Por um momento, desviei o olhar e enfiei as mãos nos bolsos do meu casaco.

—Olha, Odette me pediu para buscá-las e levá-las até aqui. Pronto, fiz meu trabalho ou queria o que? —indaguei a mesma ríspido, e vi seu semblante endurecido ao piscar algumas vezes e sair dali para longe.

Ri daquela cena, umedecendo meus lábios.

—Ai, ai! —falei sorrindo ao seguir meu caminho.                         

Peguei uma bebida alcoólica em uma das barracas, que era armazenada em cantis maiores que minha mão, mas também tinham médios e menores ainda que podia se guardar no bolso da calça. E observei ao redor tudo que ali estava acontecendo, aquelas pessoas se divertindo ao beber, cantar, dançar e conversarem alegremente. Lucius estava naquele meio, sendo receptivo com todos ali como um bom alfa devia fazer.

O ambiente estava familiar e amistoso, ainda mais pela decoração que trazia um tema que na cidade humana seria dado como medieval. Pelas vestimentas, joias, comida e entre outras coisas que alguns comerciantes estavam a vender.

Meu velhote, além do alfa e os anciões deviam ter se dado o trabalho de chamar seus amigos. Era raro entrar raças diferentes da nossa aqui, assim como lobos de outras alcateias. Entretanto, abriram uma exceção pelo momento festivo.

Anões, ninfas, elfos e até sátiros que estavam na banda, entoando aquela música cativante que faziam os anfitriões dançarem alegremente.

Era incomum, poder ver essas raças assim como nas cidades humanas já que tinha que disfarçar para não serem descobertos. E então fiquei uns minutos ali, assistindo e tentando apreciar tudo aquilo.

Levei o cantil aos meus lábios e uma golada, me executou uma careta. Tinha esquecido que as bebidas dos anões era mais intensa do que a mais forte dos humanos. Balancei a cabeça e respirei fundo, virando para a esquerda.

E percebi Nicolas e Noah ao longe, conversando sobre algo e decidi que aquela era minha hora de vazar dali antes que me notassem. Levei a mão esquerda atrás da cabeça e puxei o capuz, indo em direção a minha direita com a garrafa dando leves goladas daquele líquido grosso e com gosto demasiado forte.

Comecei a subir as pequenas colinas, onde notava a presença de jovens que estavam em beijos apaixonados longe de seus pais ou qualquer figura que os atrapalhassem. Segui adiante, e além deles. Não estava afim de presenciar essa melaço de amor.

Fui na direção de uma terceira colina, rente a uma arvore. E encostei meu ombro ali em seu tronco, presenciando uma lua cheia nascendo. Num tom amarelado.

Puxei minha carteira de cigarros do bolso, puxando um daqueles cilindros para meus lábios e indo atrás do isqueiro. Apertei-o com maestria fazendo uma chama aparecer e o acendi tragando-o deliberadamente. E com o amargor de três, relaxar completamente e entorpecido pelas goladas do meu cantil de bebida.

Soltei a fumaça ao vento, quando minha audição se atentou a algo perto. Passos abafados sobre a grama, que me fizeram a olhar de soslaio.

—Podia pelo menos fumar algo menos fedorento. —pronunciou aquela voz.

Encarei Samantha da cabeça aos pés, ao sugar a fumaça daquele cilindro preto e retirá-lo da boca soltando-a junto com a respiração.

—Não devia estar com suas irmãs? —indaguei ao estreitar minhas vistas.

—Meus pais estão com ela. E eu fico onde quiser, para começo de conversa! —me retrucou e ri daquilo ao alisar meus lábios com o dedão.

—E justamente, vem ficar onde estou. Coincidência não?! —disse irônico olhando para a lua a minha frente. —Não estou a fim de conversa contigo, e deixei explicito.

—Ikarus... —ela começou e observei-a rígida, como se tivesse dificuldade em dizer algo. Respirou fundo e disse: —... já somos adultos, e não crianças bobas. Pelo menos, devíamos fazer as pazes não?

—Quer fazer as pazes? —ri de imediato. Que a vi ficar vermelha de raiva. —Oh docinho, eu não quero nada, nem mesmo as pazes com você.

—Gostaria de saber por que me odeia tanto, o que fiz para isso? —me perguntou ao se aproximar.

Fiquei em silencio, remexendo meu maxilar ao tragar novamente aquele cigarro.

—Ikarus? Estou falando com você. Pelo menos me responde! —a encarei e simplesmente soltei fumaça em sua face, que lhe fez executar uma careta ao tossir.

—Eu não sou surdo, estou ouvindo! —respondi com desdém ao tomar mais dois goles do cantil. —Eu não gosto de você, Samantha!

—E qual o motivo? —quis saber.

—Por que isso é tão importante para você? Acho que não queria ver minha cara tanto quanto eu não queria a sua! —fui certeiro.

—Realmente. Mas...

—Mas? Samantha, você acha mesmo que eu iria me vincular a você? Nunca, ia enrolar até não poder mais. —falei ríspido. —Para mim, você é a última mulher com quem se relacionaria amorosamente.

—Nossa, falou o homem perfeito né? E que ainda abdicou do alfa, será que é tão homem assim? Ou é um moleque ainda? —quando ela cuspiu aquilo em mim, deixei meu cigarro cair ao chão e com a fúria que me predominou de imediato a joguei de encontro aquela arvore. Ouvindo um gemido fino sair dos seus lábios grossos.

Pressionei seu peito ali, que a fez segurar meu pulso.

—Acha que é quem para me ofender? —falei bufando ao encará-la de perto.

—Sou Samantha Roosevelt. Acha que tenho medo porque você é um Hoover? Para mim você foi um covarde e continua sendo. —disse furiosa.

Um ódio me consumiu ali ao piscar algumas vezes, sentindo as pontas dos meus dedos dormentes e minha visão um tanto turva. Entretanto, e por um momento uma pequena faísca emergiu de mim, e que podia cogitar ter sido da bebida, mas percebi ver ela relaxar e seu olhar mudar.

Foi tão ágil, quanto eu podia reagir no estado que me encontrava. Bêbado.

Foi como um choque entre água fria e quente, quando senti sua boca na minha. O que deixou-me perplexo e sem reação alguma.

Suas mãos me puxavam para colar em seu corpo, o que fazia meu lado bestial corresponder a aquela tensão sensual que era exercida pela a mesma. Deixei o cantil cair de minha mão rente a grama. E por um breve momento, eu a obedeci ferozmente.

Mas minha mente acordou dos meus instintos, e a empurrei de junto de mim.

—Ikarus... —ela falou ao tentar se aproximar de mim.

Pisquei algumas vezes tentando entender o que havia acontecido, e ao mesmo tempo me afastando daquela mulher. Fiz uma expressão de nojo para ela, e limpei meus lábios ao dar as costas tão agilmente e sumir numa corrida lupina entre a vegetação seca. Que só me fez ouvir:

—IKARUS! —ao fundo com sua voz ruidosa. Enquanto, tudo dentro de mim desmoronava assim como o que meus sentimentos mostravam-me.

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