Capítulo 4

Na manhã seguinte, acordo com o choro da minha irmã mais nova ecoando pela casa. Me viro na cama e jogo o travesseiro sobre a cabeça, tentando abafar o som da bagunça que se instala pelos corredores.

— Meninos, vão mais rápido ou vocês vão se atrasar! — ouço mamãe gritar, enquanto Luana Maria chora por algo que eu não faço ideia do que seja, mas que parece ser mais comum do que você imagina. Papai tenta fazer com que ela se acalme, mas a situação só parece piorar.

Posso quase cronometrar os segundos até escutar batidas na minha porta. Um, dois, três… Quatro! Foi mais rápido do que eu pensei.

— Entra! — digo, resignada.

A porta se abre e o som da casa se torna mais audível, fazendo meu coração suspirar. Às vezes, eu realmente queria ser filha única e acordar apenas com a doce voz da mamãe afagando meus cabelos, sem todo esse alvoroço.

— De, posso pegar seu tênis azul? — Mariana pede baixinho, já sabendo da minha irritação matinal.

Viro-me na cama e a encaro. Ela já está vestida com seu uniforme, um casaco por cima, e nos pés, uma meia branca de algodão. Ah, e claro, seu rosto já está devidamente maquiado, como se estivesse se preparando para um desfile!

— E desde quando você calça o mesmo número que eu? — pergunto, indignada, enquanto me sento na cama e esfrego os olhos, tentando espantar o sono. É um truque que eu aprendi: a cada dia, acordo e percebo que minha irmãzinha tem mais confiança do que eu!

— Desde agora! Me empresta ou não? — Mariana insiste, com aquele olhar pidão que sempre funciona.

— Sabe as regras! — respondo, lembrando-a, enquanto me levanto da cama e caminho até o banheiro. Fecho a porta e respiro fundo, tentando afastar meu mau-humor matinal. O que é isso de me acordar e já querer meus tênis?

Saio do quarto meia hora depois, já vestida e com a mochila nas costas. O silêncio que domina a casa é quase palpável. Papai deve ter levado Olivia para a escola, e os outros já devem estar na parada pegando o ônibus escolar.

Ufa! Pelo menos um pouco de paz agora. Mas logo percebo que vou sentir falta da confusão matinal. Afinal, é o que dá vida a esta casa!

Desço as escadas e encontro mamãe na cozinha, retirando a mesa do café da manhã. Benjamin está sentado em seu carrinho, segurando um mordedor nas mãos. Seus olhos azuis, exatamente como os de papai, me miram, e não consigo resistir. Me aproximo dele, já falando com uma voz manhosa e brincalhona.

— Bom dia, gordinho da Dede! — digo, e vejo seu sorriso banguela se abrir, todo faceiro. — Cadê, gordinho, cadê?

— Bom dia, mãe! — vou até ela e beijo seu rosto, sem deixar de reparar em seu look de hoje.

Ela está usando legging, uma blusinha confortável e tênis de caminhada. Seus cabelos castanhos, estão presos em um rabo de cavalo, com uma trancinha de cada lado que dá um charme especial. E, claro, não posso deixar de notar o batom em tom claro, quase nude, que marca presença e colore seus lábios carnudos, que são muito parecidos com os meus.

— Bom dia, filha! Sua vitamina está no copo ali na bancada.

Olho para a bancada atrás de mim e vejo o copo. Com a pressa da manhã, pego-o e tomo tudo de forma rápida, sabendo que o tempo está correndo. A vitamina é deliciosa, mas eu mal consigo saborear antes de perceber que tenho que me apressar.

— Mmm, deliciosa! — comento, tentando aproveitar cada gole. Uma boa forma de começar o dia, mesmo que eu esteja correndo!

Depois de tomar minha vitamina de frutas, deixo o copo na pia e, já apressada, pego uma maçã na fruteira.

— Tchau, mãe! — grito, enquanto corro em direção à porta da frente. Fecho-a com um baque, sabendo que isso vai fazer minha mãe reclamar, mas não consigo me segurar.

Dentro do ônibus escolar, observo os alunos da última parada subirem, e para minha surpresa, John está entre eles! Ele caminha pelo corredor com um ar concentrado, como se estivesse à procura de alguém. Meu coração acelera quando percebo que sou eu. Assim que ele ergue as sobrancelhas e um sorriso brota em seu rosto, sinto um calor subir pelo meu rosto.

— Oi! — digo, tentando parecer despreocupada, mas meu sorriso trai minha animação. É como se o ônibus todo estivesse em câmera lenta, e o resto do mundo desaparecesse quando estou perto dele.

Ele se aproxima e pergunta ao garoto ao meu lado se pode se sentar comigo. O menino, visivelmente intimidado pelo tamanho de John, acaba cedendo seu lugar rapidinho.

— Bom dia, Denise, tudo bem? — ele diz, acomodando-se ao meu lado. — Você está linda hoje.

Seu elogio me faz derreter, e minhas bochechas queimam, como se eu tivesse encostado na brasa da churrasqueira. Sério, como ele pode me achar linda a essa hora da manhã? Estou aqui com cara de quem acabou de sair da cama! Tento disfarçar meu constrangimento, mas é impossível não sorrir. Meu coração faz uma pequena dança no peito, e me pergunto se ele percebe o quanto isso me afeta.

— Obrigada! — respondo, tentando manter a voz firme e descontraída. — Você também!

Jura? Eu realmente disse “você também”? Poxa, Denise! Com tanta coisa legal para dizer, eu fui com um “você também”? É claro que ele está bonito. Seu rosto ainda parece um pouco inchado, sinal de que acordou atrasado, e o uniforme do time só realça aquele ar de importante. O sorriso largo e os dentes brancos dele me hipnotizam, mas vamos lá.

— Estranho te ver aqui no ônibus — comento, tentando parecer casual, mesmo que meu coração esteja fazendo piruetas.

— Ah, meu pai levou o carro para trocar os pneus e deu ruim em uma peça — ele explica, com um tom descontraído que só faz aumentar meu sorriso.

— Entendi. Espero que ele consiga resolver logo! — digo, tentando manter a conversa leve, mas na verdade, estou pensando em como é legal que ele esteja aqui, pertinho de mim.

A cada palavra que trocamos, sinto que a manhã se torna mais especial. É incrível como esses pequenos momentos podem transformar um dia comum em algo mágico.

O silêncio entre nós é constrangedor. Eu nem sei o que dizer, e ele parece tão perdido quanto eu. Afinal, o que se conversa com o garoto por quem estou apaixonada? Devo perguntar sobre a família dele? Isso parece meio ousado, considerando que nem tivemos nosso primeiro beijo ainda! E sobre o time? Humm, talvez seja melhor não tocar nesse assunto também. Então, quem sabe perguntar sobre a faculdade? Mas isso soa tão formal, né?

O ônibus para de repente, e percebo que perdi tempo demais pensando no que dizer e acabei não dizendo nada.

Parabéns, Denise! Medalha de papel para você!

Com um suspiro interno, decido que preciso agir. Pode ser que o silêncio esteja nos deixando nervosos, mas eu não vou deixar isso me derrubar. Olho para John e, com um sorriso nervoso, digo:

— Então, você tá animado para os jogos essa semana?

E assim, a conversa começa a fluir. Pelo menos agora, já não me sinto tão perdida!

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