Capítulo 3

“Querido diário,

Hoje foi um dia MUITO especial! John me chamou para ir à fogueira de abertura dos jogos. Caracaaaaa, estou tão animada que poderia explodir! Ele é como um príncipe que saiu de um livro de fantasia, todo carinhoso, cavalheiro e gentil. E aqueles olhos? Brilham tanto quando ele me olha que é impossível não me sentir nas nuvens! Nunca pensei que eu pudesse ter tanta sorte!

Mal posso esperar para amanhã, depois da fogueira, contar tudo como foi. Estou tão ansiosa que vou sonhar com isso!

Beijos, Denise.”

J

á faz uma semana desde que fui com John à lanchonete, e sinceramente, comecei a pensar que as coisas entre nós não estavam fluindo. Ele continua agindo como um amigo. Amigo esse que anda de mãos dadas, é super gentil e atencioso, mas… ainda assim, apenas um amigo. Confesso que comecei a questionar seus gestos. Não consigo afastar a sensação de estar sendo usada, como se ele estivesse comigo apenas para apagar aquela fama de 'garoto gay' que ganhou entre os outros.

Não que eu ainda não esteja me sentindo insegura com tudo isso. Mas, depois que ele me chamou ontem para a fogueira, uma pontinha de esperança se acendeu dentro de mim. Talvez as coisas possam realmente ficar mais sérias entre a gente. Quem sabe?

Já está escuro lá fora, e aqui estou eu, na minha milésima tentativa de escolher uma roupa decente. Nada parece bom o bastante. Primeiro, tentei o básico: jeans e uma camiseta. Aí olhei no espelho e pensei, "Sério, Denise? Parece que vai pra escola." Depois fui para um vestido florido que mamãe comprou e que nunca usei, mas quando me vi no espelho, parecia que eu estava pronta para um piquenique dos anos 50. Tentei mais uns três looks diferentes e, juro, cada um deles me gritou "Exageradoooo" na cara.

Agora, estou aqui, finalmente parada em frente ao espelho com uma blusinha branca simples, um macacão jeans e meus fiéis All Star. Cabelo preso em um rabo de cavalo bem casual, me fazendo ficar ainda mais parecida com a mamãe, já que nossos cabelos tem o mesmo tom de castanho. Nada espetacular, mas... talvez seja exatamente isso o que eu preciso. "Simplicidade é a chave," certo?

Saio do meu quarto ainda indecisa, procurando mamãe pela casa. Encontro ela na sala, sendo bombardeada pelos meus irmãos, que estão discutindo sobre quem sabe o que. Eles vivem brigando por tudo, especialmente quando querem a atenção dela. Mamãe, com aquela paciência de santa, tenta se concentrar no livro que estava lendo para o Benjamin, mas eu sei que sua mente está a mil.

— Mãe, o que você acha? — pergunto, já me preparando para o veredito, que poderia ser tanto um "você está ótima" quanto um "volta e tenta de novo, filha".

Ela levanta os olhos e me olha de cima a baixo, com aquele olhar de quem já passou por essas inseguranças e sabe exatamente como me sinto.

Ela me sorri, mas ao invés de me acalmar, sinto uma onda gigante de insegurança me engolir. Antes que eu possa afundar completamente nos meus pensamentos, vejo mamãe se levantar do sofá com uma energia que não esperava. Ela vem até mim, segura minha mão e me faz girar devagar, me analisando como se estivesse montando um quebra-cabeça.

— Falta alguma coisa — ela comenta, olhando-me com aquele olhar atento de mãe que sabe exatamente o que está faltando, mas gosta de fazer um pequeno suspense. — Já sei.

E antes que eu possa perguntar o que é, ela já está subindo as escadas. Fico parada ali, sem saber muito bem o que esperar. Olho para Mariana, que está jogada no sofá, me encarando com aquele olhar de julgamento que só uma irmã mais nova pode ter. "Sério que vai usar isso?", é o que seu rosto grita silenciosamente.

Ah, claro, como se ela fosse a rainha da moda.

Antes que eu possa retrucar ou me explicar, mamãe volta, trazendo algo nas mãos. Quando se aproxima, vejo o que ela está segurando: um par de brincos de argolas prateadas, delicadas, nada muito chamativo. Mas o que realmente chama minha atenção é o que está junto: uma correntinha fina, com um pingente de coração cravado de pequenos brilhos. Eu sei bem o valor sentimental daquela joia. Foi um presente que papai deu para ela há alguns anos, e agora ela está me oferecendo.

— Sério? — pergunto, surpresa, sentindo o coração disparar. Eu queria ter certeza de que era real antes de pegar as joias de suas mãos.

— Claro. Vire-se. Vou colocar em você.

Me viro de costas, segurando a respiração enquanto sinto o toque leve da mamãe ajustando o colar ao redor do meu pescoço. Depois, ela se posiciona ao meu lado, colocando o primeiro brinco com cuidado e indo para o outro lado para colocar o segundo. Há algo de reconfortante em seu jeito meticuloso e carinhoso.

— Falta o toque final, De — diz Mariana, se aproximando com um batom em mãos. Ah, claro, é aquele batom que papai a proibiu de usar, o quase-vermelho-escândalo.

— Obrigada! — digo, pegando o batom e indo direto para o espelho grande da sala. Passo o batom com cuidado, olhando atentamente para meus lábios enquanto a cor vai tomando forma. Sinto uma onda de confiança subindo junto com o brilho nos meus lábios.

Antes que eu possa admirar meu look por mais tempo, ouço uma buzina lá fora. O som é inconfundível: John chegou. Combinamos que ele viria me buscar para irmos juntos à fogueira. E depois de uma verdadeira batalha de argumentos e uma mamãe advogada no caso, meu pai finalmente concordou que John me traria de volta para casa. Um avanço gigantesco, diga-se de passagem.

— Ai meu Deus, ele chegou! — falo, nervosa, fazendo um check mental para garantir que estou com tudo: celular? Check. Documento? Check. Cartão de crédito? Check.

O nervosismo me dá uma fisgada no estômago. O que eu faço agora? Saio correndo ou espero mais um pouco? Ah, como eu queria que esses momentos de pânico adolescente fossem menos intensos.

Não tenho tempo para surtar completamente, então sigo em direção à porta, tentando controlar minha respiração e o nervosismo crescente. Mas, claro, nem tudo pode ser fácil. Sinto o “frufru” que amarrava meu cabelo deslizando pelo rabo de cavalo, e de repente, meus cabelos caem soltos, completamente desalinhados.

— Hey, Mariana, me devolve! — peço, minha voz tremendo de nervoso.

— Não! — responde ela, com firmeza irritante. — Assim fica mais bonito. Realça a sua beleza e deixa esse seu look... menos pior.

Mariana! — mamãe a repreende, lançando um olhar que faria qualquer um repensar as palavras.

— Desculpa, mas você sabe que é verdade, — ela responde, dando de ombros, sem a menor culpa.

Eu estava prestes a rebater, mas antes que eu pudesse, a voz de papai ecoa pela sala.

— Quem buzinou? É aqui? — Ele aparece na porta, ainda de terno, com uma expressão exausta, mas curiosa.

Ótimo, a última coisa que eu precisava era que ele começasse a fazer perguntas agora. Eu praticamente congelo quando seus olhos me alcançam, e meu coração dispara.

— É o John. É melhor eu ir logo, não quero deixá-lo esperando mais. — Tento escapar rapidamente, já sentindo o nervosismo crescer com a possibilidade de papai querer fazer um interrogatório.

Mas, é claro, ele não deixa barato.

— Espera, filha, eu te levo até lá.

Touché! Eu sabia que isso ia acontecer. Meu pai nunca perde uma chance de ser o superprotetor. A cena do encontro precisa ser mais embaraçosa?

— De jeito nenhum, amor. Outro dia você faz isso, — mamãe intervém, segurando seu braço e fazendo um gesto discreto, mas muito claro, para eu sair correndo antes que ele mude de ideia.

E é exatamente o que eu faço. Corro porta afora com o coração aos pulos e, assim que saio, lá está ele: John, parado ao lado do carro, todo cavalheiro, me esperando com um sorriso tranquilo.

Como não se apaixonar mais ainda? Parece até cena de filme, do tipo em que a mocinha sai toda desajeitada e o cara perfeito age como se ela fosse a coisa mais linda do mundo.

Caminho até ele, e ele me cumprimenta com um beijo suave no rosto, o que só faz minhas bochechas queimarem de novo. Em seguida, se vira sem dizer uma palavra e abre a porta do carro para mim.

— Obrigada! — agradeço, tentando não parecer uma completa idiota enquanto entro no carro, meu coração praticamente pulando do peito. Puxo o cinto de segurança e, ao me acomodar, dou uma última olhadinha rápida pela janela, certificando-me de que papai não está vindo atrás de nós com alguma desculpa de “checar se está tudo bem”.

John entra no carro logo em seguida, e, por um segundo, eu quase me belisco para ter certeza de que tudo isso é real.

Assim que entro no carro, o cheiro de perfume suave me envolve, e não consigo evitar um sorriso ao pensar na possibilidade de John ter passado perfume no carro só para me impressionar. Como se precisasse disso! Só o fato de ele ser tão atencioso e se importar com os detalhes já me faz derreter por dentro.

É engraçado imaginar ele se preocupando com essas coisas, provavelmente checando o cheiro umas três vezes antes de sair de casa. Mal sabe ele que não precisa fazer tanto esforço para me encantar. Só o jeito como me olhou na porta já teria sido suficiente.

Ele liga o carro, e eu fico ali, no meu pequeno universo, entre nervosa e encantada, pensando em como as coisas estão se desenrolando. Quem diria que estaríamos indo juntos para a fogueira, como se fosse o início de algo ainda maior?

Quando chegamos à escola, o pátio já está uma loucura! A grande fogueira brilha, iluminando os rostos animados, enquanto todos em volta gritam e cantam o hino do colégio, cheios de orgulho por mais uma temporada de jogos.

A festa é colossal! Sinto a energia vibrante no ar e não consigo evitar. Bato palmas junto com a multidão, gritando e comemorando como se fosse um dos momentos mais incríveis da minha vida. É como se, pela primeira vez, eu realmente pertencesse a algo maior.

De repente, as meninas da equipe de líderes de torcida me puxam para um canto mais silencioso, longe da agitação, e entregam um embrulho cor-de-rosa que parece brilhar à luz da fogueira.

— O que é isso? — pergunto, a curiosidade e a surpresa transbordando da minha voz.

Elas trocam sorrisos cúmplices, e uma delas, a Taty, quase não consegue conter a empolgação.

Com o pacote na mão, olho para elas, tentando decifrar se isso é algum tipo de pegadinha que vai me fazer passar vergonha. Mas os sorrisos em seus rostos são tão sinceros que começo a relaxar. Vejo a Taty sorrindo e balançando a cabeça positivamente, e não posso deixar de notar que ela está usando brincos iguais aos que uso no dia a dia. Isso me faz me sentir um pouco mais à vontade com a situação.

— Ok, vou abrir! — digo, tentando parecer calma, mas a verdade é que a adrenalina está lá em cima.

Com total delicadeza... haha, quem eu estou enganando? Arranco o embrulho com tanta falta de cuidado que quase sinto um pouco de culpa. Assim que o papel cai, dou de cara com um uniforme de líder de torcida. Não consigo conter a empolgação e tiro o vestido do pacote, segurando-o na frente de mim.

Uau! O vestido é branco com mangas azuis, e a saia de pregas também é azul. No centro, o logo da equipe brilha em destaque. É lindo e tão... eu! Uma onda de felicidade me invade enquanto imagino como vou ficar usando isso.

— Estão brincando! — exclamo, mais alto do que pretendia. — É sério que eu realmente entrei para a equipe? Pensei que não iam me aceitar de verdade!

— Claro que não! Você é ótima! — Daniele responde, com um sorriso encorajador.

Mas logo ouço um riso debochado vindo de um canto. Viro a cabeça e vejo a Lia, com seus cabelos negros e alisados — a raiz já entregando a verdade. Ela me olha com uma expressão de nojo, como se minha presença fosse uma ofensa. Ugh, dá vontade de gritar: "Desculpe por ser eu mesma!"

Decido ignorar. Não vou deixar que a energia negativa dela estrague meu momento de felicidade. Não hoje!

Então, vejo a Taty estender algo preto em minha direção. É um shorts preto! Agradeço a ela, aliviada, porque eu realmente não estava preparada para isso. Enquanto visto o shorts, sinto a adrenalina subir ainda mais. Agora sim, estou pronta para arrasar!

— Corre, vá se vestir! — Daniele quase ordena, com aquela voz de líder nata que só ela tem.

Com um sorriso de orelha a orelha, recolho o embrulho que deixei cair no chão e corro para dentro do colégio, indo direto ao vestiário. Coloco o vestido e o shorts, suspirando ao lembrar do elástico de cabelo que Lorena tirou de mim. Ele seria realmente útil agora!

Depois de guardar minhas roupas no armário, corro para fora, mas quase dou de cara com a Lia. Quase colido com ela, meu coração dispara.

— Presta atenção, Denise! — ela me avisa, com um olhar desafiador. — Não pense que com esse uniforme você vai conquistar o mundo, porque eu não vou deixar.

Olho para ela, erguendo as sobrancelhas e cruzando os braços, tentando parecer mais confiante do que me sinto.

— Acho, Lia, — enfatizo seu nome com firmeza, mostrando que não vou abaixar a guarda. — que você não tem que deixar ou não deixar nada.

— Pois está enganada, — ela responde, erguendo a cabeça com aquele ar de superioridade que, sinceramente, só me faz rir por dentro. Coitada! Superioridade em que, exatamente?

— Fica longe do John. Eu estava de olho nele antes de você sair de Chuck para virar Barbie.

É o quê?! Uma mistura de incredulidade e risada surge em mim. Como assim ela acha que pode me intimidar com esse tipo de fala?

Não tenho tempo de dizer nada. Vejo Lia dar as costas e sair pela grande porta da entrada do colégio. O que essa garota está pensando? Se achando a dona do mundo e ainda por cima me dizendo para me afastar do John? Ela claramente não sabe com quem está lidando.

A verdade é que ela mexeu com a garota errada. Minha determinação só aumenta. Agora, mais do que nunca, estou decidida a aproveitar esse momento e mostrar que não vou deixar que ninguém me impeça de ser feliz. O que quer que ela pense, eu estou aqui para brilhar, e ninguém vai apagar meu brilho.

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