Transformação
A noite seguinte parecia igual a todas as outras: pesada, úmida, o vento uivando do lado de fora como se o mundo inteiro quisesse invadir nossa casa. Eu embalava os gêmeos, ainda inquieta com a cena da véspera, quando os vi deitados, respirando forte, os olhinhos semicerrados em um sono agitado.
Foi então que começou.
O corpo deles se arqueou de repente, como se uma força invisível os esticasse por dentro. Um choro rouco escapou de suas gargantas, não o choro humano de um bebê, mas um som gutural, misto de gemido e rosnado.
“Rocco! “Gritei, assustada.
Ele entrou imediatamente, já sabendo o que acontecia. Seus olhos brilharam com algo que não era medo, mas orgulho.
“ Está começando…” murmurou.
Eu, porém, não conseguia partilhar daquele orgulho. Os ossos dos meus filhos pareciam se mover sob a pele, estalando como galhos secos. Vi suas garras se retraírem, os dedos se alongarem, os rostos se contorcendo entre o focinho lupino e a delicadeza humana. O contraste era aterrori