— Eu estou cansada. — Eu o empurrei. — Quero descansar um pouco.
— Claro. — Ele beijou minha testa. — Suba. Eu tenho algumas chamadas para fazer.
Enquanto caminhava em direção à escada, ouvi-o ao telefone na sala de estar, sua voz baixa.
— Sim, eu sei que você está preocupado, mas ela não vai suspeitar de nada. Ela sempre confiou na minha lealdade.
No passado, eu teria insistido para que ele me carregasse escada acima. Desta vez, não olhei para trás e subi direto.
Na manhã seguinte, quando empurrei a porta do quarto, congelei.
Acima do som do chuveiro, uma mulher cantarolava suavemente.
Eu me aproximei justamente quando a porta do banheiro se abriu. Sophia estava lá, enrolada no meu roupão de seda, com um sorriso de satisfação no rosto.
Ela não se assustou. Na verdade, seu sorriso só aumentou.
— Ah, Blair! Você voltou. — Ela apertou o cinto, saindo com uma confiança indolente. — Eu acidentalmente derramei um pouco de vinho em mim mais cedo. Alessio me disse para subir e lavar.
— Você está usando minhas roupas? — Eu apontei para o roupão de seda que ela vestia. Era uma peça de edição limitada de um desfile de moda que Alessio tinha trazido de Paris para mim no ano passado.
— Ah, isso. — Ela acariciou o tecido deliberadamente. — Alessio disse que você não se importaria. Afinal, somos família.
Ela caminhou até a penteadeira e casualmente começou a retocar a maquiagem com meus produtos.
— O que aconteceu com seu pescoço? — Eu olhei para o reflexo dela no espelho.
— Apenas uma pequena briga na sala de treinamento. Meu oponente foi um pouco brusco. — Ela me olhou pelo espelho, seu sorriso um tanto sugestivo. — Você sabe como alguns homens são. Eles simplesmente não sabem ser gentis com uma mulher.
Ela se virou para mim, puxando a gola do roupão para baixo.
Meu sangue gelou.
Alessio uma vez construiu uma sala de treinamento particular para mim no porão, onde ele pessoalmente me ensinaria a usar as armas da família. Ele disse que, como a Donna da família Greco, eu tinha que aprender a me proteger.
Naquela época, eu ia à sala de treinamento todas as tardes para praticar tiro e combate.
Alessio ficava atrás de mim, as mãos dele guiando meu aperto na arma, seu hálito quente na minha orelha, sua voz baixa e sexy.
Mas, desde que nossa filha faleceu, eu não tinha posto os pés lá.
Parece que outra pessoa estava agora fazendo aquele "treinamento" por mim. A arrogância dela foi a gota d'água. A fúria agitou meu peito e eu avancei em direção a Sophia.
— Tire minhas roupas e me devolva...
— Blair! — A voz de Alessio veio da porta. — O que está acontecendo?
Ele entrou no quarto e viu nós duas nos encarando.
Sophia imediatamente fez uma expressão ferida. — Acho que Blair entendeu algo mal. Eu só estava pegando o banheiro emprestado.
Eu encarei Alessio. — Eu só quero saber, para que exatamente você a está treinando?
Alessio franziu a testa. — Blair, você está cansada. Você precisa descansar. — Ele se aproximou e agarrou minha mão com força.
— Não me toque! — Tentei me soltar, mas o aperto dele era muito forte. Ele me arrastou em direção à escada.
— Sophia, volte para o seu quarto. — Ele disse sem olhar para trás.
Alessio me levou escada acima. — Querida, você está tensa. Durma um pouco. Eu preciso resolver alguns negócios da família no escritório, e pode ficar barulhento.
Ele beijou minha testa. — O quarto principal estará mais silencioso. Durma.
Eu assenti e arrastei meu corpo exausto escada acima.
Mas, ao chegar, percebi que tinha deixado meu telefone na mesa de centro da sala de estar. Ele poderia conter uma mensagem importante do meu contato do mercado negro.
Desci a escada na ponta dos pés, tentando pegá-lo em silêncio. Então, ouvi sons vindo do escritório.
Aproximei-me da porta, que estava ligeiramente entreaberta. Pela fresta, vi uma cena que fez meu sangue gelar.
Alessio estava sentado em sua cadeira de couro enquanto Sophia montava em seu colo, a saia levantada até a cintura. As mãos dele agarravam os quadris dela, seus corpos movendo-se em um ritmo desesperado.
Ela se inclinou perto do ouvido dele, sua voz um ronronar de exaustão satisfeita. — Aquela rodada na sala de treinamento só me fez querer mais... Você disse que a Blair foi descansar?
Ele ofegava pesadamente. — Ela não vai descer. Eu disse que tinha que trabalhar em alguns arquivos. Além disso. — Sua voz baixou. — Se alguém se atrever a nos interromper, incluindo ela, eu cuido disso.
Eu não conseguia mais ouvir. Cobri os ouvidos e corri para o banheiro, jogando água fria no rosto repetidamente.
Era inverno, mas eu não sentia o frio. Nada poderia ser mais frio do que meu coração.
Eu me retirei para o quarto e passei pela porta.
Este era o amor em que eu havia acreditado por oito anos. O amor verdadeiro, ao que parecia, era a coisa mais sem valor de todas.
Em todos aqueles oito anos, eu raramente havia entrado no escritório de Alessio, sabendo que ele não gostava que ninguém interferisse nos negócios confidenciais da família.
Mas agora, ele podia ficar nu com Sophia lá dentro. Que piada de mau gosto.
Talvez fosse pura exaustão, mas acabei adormecendo sem perceber, apenas para ser acordada pelo sobressalto da voz de Alessio.
Ele estava coberto de suor, sua respiração irregular, como se tivesse acabado de se libertar de um pesadelo. — Blair? — Ele tateou no escuro. — Você está aí?
Eu me sentei em seus braços. — Alessio, o que houve?
Os olhos dele estavam injetados de sangue, sua respiração descompassada. — Eu sonhei que você me deixava. Foi um inferno, Blair.
— Mas você ainda está aqui. Você ainda está aqui.
Eu abaixei a cabeça, as palavras que eu queria dizer presas na minha garganta. Eu não conseguia distinguir sua sinceridade da encenação, e eu queria dizer a ele que seu sonho logo se tornaria realidade.
Talvez o pesadelo o tenha feito sentir um medo genuíno de que eu fosse embora. Afinal, ele ainda não tinha conseguido o que queria de mim.
Na manhã seguinte, Alessio não saía do meu lado, seguindo-me para todo lugar.
Finalmente encontrei um momento em que ele estava distraído com os negócios da família e escapei da vila.
Fui ao bar escuro, onde meu contato já estava esperando.
— Senhora. — Ele disse em voz baixa, empurrando um envelope pardo na minha direção. — Seus documentos de identidade completos. Passaporte, carteira de motorista, cartões bancários. Eles estarão ativos em todo o mundo dentro de duas semanas.
Eu estendi a mão para o envelope.
Nesse instante, uma voz familiar veio de trás de mim.
— Com quem você está fazendo um acordo?