Eu me virei lentamente para ver o rosto pálido de Alessio, sua voz trêmula.
— Que acordo? — Ele perguntou novamente.
Meu coração falhou uma batida, mas forcei um leve sorriso, minha mente procurando freneticamente uma desculpa.
— Não é meu acordo. A galeria de uma amiga está procurando adquirir alguns colecionáveis europeus. Ela acabou de ligar e me pediu para ajudar a contatar um corretor.
Por um momento, ele apenas me encarou, como se não acreditasse totalmente em mim.
Então, de repente, ele me puxou para os braços e me tirou do chão.
No carro, Alessio estava em silêncio.
Lancei um olhar furtivo para o perfil dele. Sua mandíbula estava cerrada, reprimindo claramente algo.
— Blair. — Ele disse de repente. — O que tem acontecido com você ultimamente?
— O que você quer dizer?
— Você tem estado diferente desde que perdemos nossa filha. — Ele agarrou o volante. — Você mudou.
Fiquei nervosa, com medo de me entregar. — Eu não mudei.
— Então por que você está sempre fazendo coisas pelas minhas costas? — Ele parou o carro e se virou para me encarar. — Por que você me olha como se eu fosse um estranho? Por que você não me conta mais as coisas?
Ele de repente me puxou para um abraço, tão apertado que mal conseguia respirar.
— Eu tenho medo de te perder, Blair. — A voz dele tremeu. — Eu já perdi nossa filha. Não posso perder você também.
— Quando eu não consegui te encontrar na vila, eu fiquei apavorado. Por favor, prometa que você não vai simplesmente partir sem dizer uma palavra, ok?
— Você não vai me perder. — Eu menti, dando tapinhas nas costas dele.
— Sério? — Ele me soltou, olhando nos meus olhos. — Prometa.
— Eu prometo. — Ele beijou minha testa e ligou o carro novamente.
Eu sorri e assenti, precisando acalmar o homem furioso ao meu lado.
Mas eu sabia que esta seria a última mentira que eu contaria a ele.
Naquela noite, aconteceu o Gala Beneficente da família Greco.
Todos estavam lá. Políticos, parceiros de negócios, famílias aliadas. O salão de festas brilhava com lustres e taças de champanhe cintilantes.
Eu vestia o vestido mais simples e de cor lisa. A essa altura, eu não queria atrair nenhuma atenção.
Os convidados sussurravam constantemente no meu ouvido, dizendo-me a sorte que eu tinha, o quanto Alessio me mimava, chamando-me de objeto da inveja de todas as mulheres na sala.
— O jeito que Alessio olha para ela... é assim que o amor de verdade se parece.
Eu sorri amargamente. Amor de verdade. Talvez tenha havido um pouco, em um passado distante.
As luzes do salão de festas diminuíram, e um foco de luz atingiu o palco. Sophia surgiu, deslizando em um vestido dourado. Enquanto se aproximava de nós, ela levantou o braço para ajeitar o colar.
Eu o vi em seu pulso, uma tatuagem nova, pequena e delicada. Idêntica à que estava no braço de Alessio.
Ela percebeu meu olhar e me deu um sorriso triunfante e provocante.
Quando Alessio a viu levantar a mão direita, seu rosto empalideceu. Assim que Sophia começou a caminhar em minha direção, ele a agarrou e a tirou da sala.
Eu os segui discretamente até eles entrarem em uma sala privada atrás do salão. A porta estava entreaberta e eu peguei meu telefone.
— Você está louca? — Alessio parecia agitado. — Exibindo sua tatuagem aqui? Se a Blair descobrir...
— Descobrir o quê? — A voz de Sophia era sedutora. — Descobrir que você se importa mais comigo? Descobrir que você vai me engravidar com o verdadeiro herdeiro Greco?
— Sophia, você sabe que eu tenho que ser cuidadoso. Não é o momento certo...
— Quando será o momento certo? — Ela o interrompeu, a voz cortante. — Eu estou cansada de me esconder. Eu quero que todos saibam que eu sou sua mulher. Me engravide, Alessio. Me engravide agora mesmo.
— Me diga. — A voz de Sophia se tornou sedutora. — Quem é a sua número um?
— É você, boba. Você nunca mais precisa fazer essa pergunta. Blair é apenas uma ferramenta, um degrau para eu subir mais alto.
Meu telefone quase escorregou da minha mão. Meu estômago se revirou enquanto eu capturava cada palavra cruel de sua traição.
Eles continuaram a falar, mas eu não conseguia mais ouvi-los.
Eu parei a gravação e me afastei cambaleando.
De volta em casa, peguei minha mala. Eu empacotei todos os meus itens essenciais, deixando os papéis do divórcio, minha aliança de casamento e o pen drive com a gravação na mesa de cabeceira.
Duas horas depois, eu estava sentada no lounge do Aeroporto JFK, meu novo passaporte e cartão de embarque firmemente na minha mão.
Meu telefone tocou. Claro, era Alessio. Respirei fundo e atendi.
— Blair? Onde você está? Eu procurei por você em todo lugar.
— Estou a caminho de casa. — Eu contei minha mentira final. — Não estava me sentindo bem, então saí mais cedo.
— Você quer que eu volte e fique com você?
— Não precisa. — Olhei para as luzes da cidade. — Apenas cuide dos seus assuntos.
— Certo, querida. Eu tenho que lidar com uma traidora esta noite, então chegarei tarde. — Ele disse. — Descanse um pouco.
Então, ouvi a risada de Sophia, logo atrás dele.
— Eu te amo, Blair. — Ele disse.
— Adeus, Alessio. — Eu sussurrei, minha voz vazia.
Eu desliguei. Em seguida, quebrei meu chip ao meio e joguei os pedaços em uma lixeira do aeroporto.
Ao entrar no avião, eu finalmente me senti livre.