14. Otávio Nos Viu Juntos

Luciana

— Eu sabia, eu estou indo. — Eu me levantei, trêmula. — A-A gente pode se ver amanhã ou depois, ou...

— Espere, por que está indo embora assim? — Christofer obstruiu meu caminho com seu corpo e tocou meus ombros. Olhei para o pacote de chocolates sobre a mesinha para fugir dos olhos dele.

— Já falei. Não quero atrapalhar. — Eu disse e engoli seco. Ele analisou bastante minha atitude.

— Você nunca me atrapalha. — Ele disse. Christofer é um docinho, mas tem seus assuntos a resolver.

— Certo. Mas, eu vou indo e... — Ele direcionou meu rosto para que eu o olhasse.

— Eu não quero que vá. Ouviu bem? Eu gosto de ficar perto de você e te quero perto de mim.

Mordi o lábio. O que ele pensava que eu estava pensando? Por que estava dizendo aquelas coisas? Eu também gostava de ficar perto dele, gostava demais. E isso era perigoso. É muito arriscado se permitir qualquer aproximação com um cara tão concorrido e disputado.

Para uma garota envergonhada e tímida como eu, não existe essa hipótese.

— Mas, hoje você está ferido, eu quero que descanse. — Falei, irredutível. — Sem beijos.

— Você não pode ficar comigo só para me fazer companhia? — Christofer perguntou, aflito.

— E desde quando caras como você se contentam com apenas companhia? — Perguntei honestamente.

— O que quer dizer com “caras como eu”? — Christofer insistiu. Ele parecia cansado de lutar contra um estereótipo.

— Ah, você sabe. Eu vi ontem o impacto que você causa, e não quero que pare sua vida por causa os nossos encontros. Homens bonitos sempre estão bem acompanhados.

— Eu estou bem acompanhado. — Ele disse pacientemente.

Eu já estava ficando cansada, também. Cansada desse flerte infindável. Ele não sabia que essas brincadeirinhas poderiam acabar me deixando apaixonada? Eu, realmente, não estava no rol de garotas namoráveis para Christofer, e nem ele no meu. Apesar de lindo, namorá-lo devia ser um inferno. Além disso, ele devia estar acostumado a ficar com garotas lindas e extremamente gostosas. Então, por que ele ficava brincando e me fazendo achar que sou importante? Era cruel o que ele estava fazendo.

Um afago no ego.

Minha atenção era um afago no ego para ele?

— O que pensa sobre mim, Luciana? — Ele perguntou, depois de vários segundos de um incômodo silêncio.

Ah, de novo aquela pergunta. Eu não queria ofender Christofer dizendo o que eu pensava. Neste caso, eu preferia fugir da sinceridade, então ia contornar na resposta. Eu não ia dizer que ele estava brincando com minha ingenuidade.

— Acho que você é bem resolvido. — Amenizei. — Acho que não tem problemas em conseguir quem você quer.

— Eu não acho. — Ele olhou bem profundamente em meus olhos. Nem piscou.

— Bem, a questão é… — Continuei. — Você é um homem livre. Se você tivesse desaparecido ontem, ninguém ia poder me ajudar.

— Luci… — Ele uniu as sobrancelhas. — O que quer dizer?

— Eu descobri que preciso desesperadamente do Otávio. — Concluí, suspirando dolorosamente. — Assim, não vou mais precisar ficar até tarde bebendo para afogar minhas tristezas. Não vou precisar te colocar nos meus problemas e nem atrapalhar suas noites de pegação. Se eu tivesse um homem como Otávio em minha vida, eu teria uma auto-estima elevada e não iria deixar ninguém me ofender.

Christofer ouvia minhas com os olhos arregalados. Em seguida, ele revirou os olhos e me deu as costas, inquieto. Ele murmurou:

— Isso não tem nada a ver com meu irmão.

— Claro que tem. — Concluí, como se tivesse acabado de descobrir a roda. Tentei defender minha ideia e fui atrás dele. — Otávio é a pessoa certa para mim. Ele vai me proteger. Nunca mais vai acontecer nada desse tipo.

Christofer ficou com raiva.

— Eu também posso te proteger. — Ele reivindicou, com um olhar agudo em direção a mim. Até parei de segui-lo.

Poucas vezes vi Christofer irritado, e ele estava. Apesar de não ter elevado a voz, senti um arrepio e ruborizei. Ele queria que aquelas palavras entrassem na minha alma.

Eu não quero a proteção dele, apesar de ser extremamente grata. Quero a proteção de Otávio.

— Ah, Chris, você não me entende. — Suspirei, e ele não gostou.

— Não, não entendo. Por que gosta tanto assim dele?! — A pergunta de Christofer parecia ser para mim e para todas as outras pessoas que possam ter preferido Otávio a ele na vida. Isso devia incluir apenas um seleto grupo: os pais dele e eu. — Por que tem que ser ele?

— Ah, Chris… Eu não sei explicar. — Falei. Andei até a porta, pensando no quanto Otávio preenche todos os meus requisitos. Ele é meu número. Meus olhos se iluminaram ao pensar em minha paixão platônica. — Ele é tão responsável, sabe… Parece ser tão maduro, tão sério. Acho que ele cuidaria de mim muito bem.

— Eu também posso cuidar de você muito bem. — Christofer insistiu, parado na sala. Sua expressão era de alguém injustiçado.

Eu não consigo levar a sério essas coisas que ele fala. Por algum motivo, vejo Christofer como uma pessoa que eu preciso proteger e cuidar, não o contrário. O que é estranho, já que ele é mais velho que eu e já me salvou algumas vezes.

Não sei.

— Você não entende. — Balancei a cabeça em negação. Filhos, Christofer. Quero filhos, família. Tranquilidade. E acho que todo mundo que se interessa por Otávio quer isso. E quem deseja isso e se envolve com você pode até sonhar com isso, mas você não é esse tipo de cara. Você é jovem e lindo e ainda precisa aproveitar a vida.

Eu jamais diria isso.

Christofer andou até mim de um jeito diferente, e eu retrocedi até bater as costas na porta dele. Engoli em seco. Fui enquadrada novamente, e ele obstruiu minha saída apoiando os antebraços na parede.

— Não, não entendo. Por que não me explica? — Ele falou, com seu nariz colado ao meu. Quando ele fechou os olhos, fiquei sem ar.

— Droga, por que você tem sempre que apelar? — Indaguei. — Sabe que é difícil falar com essa proximidade.

— Diga, Luciana… — Ele insistiu, abaixando a cabeça para acompanhar meu olhar cabisbaixo.

Eu olhei para os lábios dele. Eram lindos. Eram muito beijáveis e estavam entreabertos. E, como eu já sabia o gosto, me deu vontade de experimentar de novo.

Inferno, ele não é um pedaço de carne.

— Droga, por que não me beija logo? — Grunhi, baixinho.

— Não, não vou beijar. — Ele disse. Eu estava morrendo de calor naquela situação. — Explique por que não consegue me enxergar como homem.

— Eu enxergo você como homem. — Desviei o olhar o máximo que pude, sem que ele conseguisse acompanhar dessa vez. Meu rosto queimava de rubor.

Por que ele estava colocando aquele assunto em pauta tão desavisadamente?

— Então, por que me rejeita? — Ele puxou meu rosto em sua direção, me forçando a encarar aqueles lindos olhos azuis sérios novamente.

— Não é isso… — Mordi o lábio inferior. Eu não sabia o que dizer, meu rosto estava quente demais. Eu só queria beijá-lo.

Eu o considerava muito novo, e cheio de oportunidades de errar.

Mas, eu também não merecia passar por essa fase?

— Eu quero você. — Ele revelou. Meu coração não pôde evitar de palpitar forte, e ele soube disso. Estava desesperado por uma resposta, e eu fechei meus olhos, me rendendo. Christofer uniu nossos lábios, finalmente. Foi um beijo mais doce do que eu pensei que seria. Nossos rostos se inclinaram em direções diferentes, eu senti a angústia dele através do beijo.

Acho que meu corpo começou a responder por si próprio e meus braços envolveram o pescoço dele. Christofer colou meus quadris ao seu corpo, aprofundando o beijo ainda mais. Seus dedos deslizaram pelo meu antebraço, notando o quanto eu estava arrepiada. Ele pegou meus pulsos e os uniu acima da minha cabeça, prendendo à parede com uma mão. Com a outra ele levantou minha perna.

Era incrível como meu corpo respondia naturalmente a cada ato dele, como se tivesse sido ensaiado. Os beijos dele desceram para o meu pescoço e eu gemi.

Senti algo duro na minha coxa, mas achei que era o celular no bolso dele.

Agora que meus lábios estavam livres, aproveitei para esclarecer:

— Você disse que não ia me beijar. — Eu comentei, somente para alfinetá-lo.

— Eu menti. — Christofer disse, depois me calou deslizando a língua ardorosamente pelo meu pescoço. A língua dele era tão quente que deixava uma marca gelada quando abandonava minha pele. E isso me dava muitos calafrios e me arrepiava absurdamente.

Se ele tocou meu pescoço, por que senti uma reação embaixo? Eu não sei explicar. Sei que me senti vulnerável e rendida. Eu queria deixar que ele controlasse tudo. Eu quis ficar nas mãos dele.

A respiração dele na minha pele úmida me deixou ainda mais arrepiada. Gemi de novo.

Ele ofegava muito forte, e parou todas as carícias. Também soltou meu pulso. Não entendi o que fiz de errado. Será que eu não devia ter gemido? Não sei. Foi incontrolável.

Ele continuou parado, somente recuperando o fôlego, respirando arduamente em meu pescoço.

— O que aconteceu? — Perguntei. — Por que parou?

— Nada. — Ele se afastou.

— Tem um negócio na sua pern… — Cobri o rosto depois de ver o volume na calça dele. — É seu pênis?!

Meu rosto queimava de vergonha. Não sou muito entendida do assunto, mas tinha bastante coisa ali. Perigoso.

— É. — Ele suspirou e virou-se de costas para mim ao notar meu susto. Permaneceu quieto por um tempo e eu fiquei perto de morrer por causa do acanhamento. — O que foi?

— Nada. — Murmurei, apoiando as costas à parede e tentando me recuperar do rubor. — É que… eu nunca vi isso antes.

— Desculpe. — Ele disse. Acho que Christofer tinha medo de me assustar. Ele respeitava o fato de eu ser virgem e ter medos. — Daqui a pouco passa.

— Ok. — Resfoleguei. Fiquei mais tranquila agora que ele tinha escondido aquela perversão dos meus olhos imaculados.

Apalpei meu rosário fortemente a ponto de machucar os dedos.

Respirei fundo e passei os olhos no apartamento dele, procurando minha bolsa. Eu não queria que Christofer pensasse que eu estava assustada, mas era involuntário eu querer fugir. Não é que eu não tenha gostado, é que… Eu precisava de tempo para digerir tudo. Nunca pensei que um homem pudesse ficar naquela situação por minha causa.

— Luci… — Ele suspirou, enquanto eu pegava minha bolsa. — Eu não quis te assustar, desculpe.

— Não é isso. — Coloquei a alça da bolsa em meu ombro e fui em direção à porta, evitando contato visual.

— Então o que é? — Ele segurou meu pulso. Estava fazendo muito isso ultimamente. Não sei se sou muito esguia ou se ele gosta muito de olhar nos olhos ao falar.

— Chris, eu… Eu quero ter essas experiências com alguém que goste de mim. — Falei, olhando nos olhos dele.

— Então não é um problema. Eu gosto de você. — Ele disse. Não teve nenhum apelo sexual em sua fala.

— Não desse jeito. — Murmurei, nervosa.

— De que jeito, Luciana? — Ele disse. — É tão difícil assim enxergar o que existe entre mim e você?

— Não existe nada. — Desviei o olhar e falei num choramingo. — Vou deixar bem claro: estamos nos encontrando, mas eu não quero fazer parte da sua lista, Christofer.

— Que lista? Você está me estereotipando, Luciana. Eu não sou um cafajeste.

— Ah, não? Por que quebraram seus instrumentos, então? — Eu precisei pegar um ar para continuar a falar. — Eu não curto esse tipo de cara, Christofer. Não gosto de homem galinha e você não me atrai.

— Eu não sou assim. — Ele uniu as sobrancelhas. — Não sei o que preciso fazer para te mostrar isso.

— Acho melhor a gente não se ver mais. — Suspirei. Eu ainda tremia.

— Eu vou me controlar mais. — Ele disse, triste. Ficou um pouco desesperado e eu senti em sua voz trêmula. — Prometo.

— Chris… — Respirei fundo. — Eu preciso pensar. Tudo isso é muito novo para mim, sabe? Qualquer situação que me tire da minha zona de conforto me faz querer me esconder na cama até o dia seguinte. E, com você, é uma novidade por minuto. Você é uma fonte inesgotável de surpresas. E eu tenho medo de novidades.

Christofer assentiu tristemente.

— Eu sei. Eu não quero apressar as coisas com você. Quero que saiba que estou aqui para qualquer coisa, não só para te beijar.

— Eu sei disso.

Eu abri a porta e dei uma piscadinha para ele, apesar de eu estar bem incomodada.

Ele é intenso demais e eu tenho medo do que eu possa sentir. Ele está me abalando de verdade.

Naquele dia eu já tinha beijado bastante. Na verdade, eu acho que não preciso mais de aulas de beijos. O próximo passo seria marcar o encontro com Otávio, e acho que poderíamos fazer isso à distância.

— Quando você volta? — Christofer perguntou, enquanto eu dava o segundo passo em direção ao corredor. — Eu vi que comprou um celular novo, eu… eu posso te ligar?

Ele estava me deixando apavorada. Quantas vezes eu ainda poderia ouvir a voz dele sem morrer de amores?

Preciso me policiar. Preciso lutar pela minha sanidade.

Mas, não consigo dizer "não" para ele.

— Pode. — Dei um beijinho no rosto dele para me despedir. A pele dele era tão uniforme e viçosa que eu quis beijar de novo, mas achei que não seria adequado.

— Eu posso te levar até sua casa. — Ele disse.

— Vou chamar o chofer. — Falei. Já tínhamos tido bastante contato naquele dia e eu precisava respirar um pouco. — Até mais e obrigada pela aula de hoje.

Antes que eu me afastasse o bastante, ele segurou meu pulso e me puxou para mais um selinho.

Eu gostava dos beijos dele, então permiti. Não devia, mas permiti.

Foi um selinho mais carinhoso, e ele afagou meus cabelos quando desfez o contato. Quando me afastei, comentei:

— Você está muito beijoqueiro.

Ele riu e eu tomei meu destino. Não dei nem dois passos quando notei que tinha um homem parado no corredor. E parecia estar nos olhando há algum tempo.

Otávio.

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