Ana Luiza Martinelli
Estava indo para a sala do Murilo quando a vi. Num blazer vinho, ela parecia dizer "sou poderosa e insuportável" ao mesmo tempo. A peça estava perfeitamente alinhada ao corpo magro e tenso. Seus saltos ecoavam pelo piso de mármore com a arrogância de quem acredita que cada passo molda o mundo.
Ela me viu.
Claro que viu. Heloíse nunca deixava de notar a presença de alguém principalmente se esse alguém era alguém que ela desprezava. E, por mais que fingisse estar acima disso, o desprezo dela por mim era tão presente quanto o perfume caro que usava.
— Ana Luiza — disse, com um sorriso que não alcançava os olhos, mas transbordava sarcasmo —, que bom te ver... por aqui.
Revirei os olhos automaticamente. Não respondi. Nem um "bom dia". Nem um "vai à merda". Porque, sinceramente, ela não merecia meu tempo nem minha energia. Segui em frente, mas não sem antes ouvir seu riso baixo, como quem vencia alguma guerra silenciosa.
Bati à porta da sala do Murilo com mais força do