Festa de criança é insana. Várias crianças corriam de um lado a outro vestidas de super-heróis, gritando, enquanto os pais bebiam sem se importar se o filho ia quebrar uma perna ou um braço, e as mães ficavam desesperadas. Eu apenas observava tudo horrorizado. Acho que não estou preparado para esse papel de pai.Finalmente a festa encerrou e a paz voltou à casa. Fábio Júnior dormiu, e meus amigos se juntaram a mim. Abrimos uma cerveja e ficamos conversando sobre assuntos aleatórios.— Como vocês aguentam? — perguntei enquanto abria outra cerveja.— Aguentam o quê? — minha amiga perguntou.— Um bando de crianças gritando de um lado a outro, fazendo a maior bagunça.— Isso faz parte da missão de ser pais — Fábio disse, sorrindo, e Tati concordou.— Isso não é pra mim.— Você diz isso porque ainda não tem o seu.Continuamos bebendo, e Fábio levantou e voltou com uísque, gelo de coco, Coca-Cola e energético.— Vamos relembrar os velhos tempos?— Isso aí, Fabão! — sorri animado.— Enzo, ma
Ana Luiza MartinelliAssim que desliguei a ligação, voltei para o quarto e minhas amigas me encararam.— Aposto que estava falando com o falecido que resolveu ressuscitar — Bea disse, e Rafa a olhou de cara feia.— Ei! Não fala do meu irmão.— Desculpa, Rafa, mas o seu irmão está parecendo uma mosca de padaria, *aff*! Ele acha que vai chegar, contar uma lorota qualquer e a minha amiga vai se render aos pés dele novamente. Duvido! A Ana está muito esperta e não vai cair em qualquer papinho.Bea e Rafa iniciaram uma pequena discussão, e eu apenas deixei as duas pra lá e resolvi escolher uma roupa para sair mais tarde.As duas pararam de discutir e me encararam.— Por que está tão quieta? — Rafa perguntou, e Bea me encarou.— Só estou escolhendo um look para a baladinha.— Amiga, eu amo sair, mas você já viu a hora?— Já, Rafa, não sou cega. Preciso de uma festa pra curtir, me jogar na pista, dançar até sentir que minhas pernas vão cair. Quero viver naquele ditado: “Mente vazia, copo che
— Uma piña colada, por favor — pedi ao barman.— Com certeza. Mas você tem cara de quem gosta de algo mais forte — disse ele, com um sorriso brincalhão no rosto.Levei um segundo para perceber que ele estava falando em português.— Você é brasileiro?— E muito observadora! Me chamo Caio, e você?— Ana Luiza. Mas pode chamar de Ana.— Prazer, Ana — respondeu, me entregando o drink. — Essa vai por minha conta.— Sério?— Sim. Não é todo dia que uma brasileira linda aparece por aqui.Dei uma risada e aceitei o copo.— Cuidado com o charme, Caio. Isso pode me conquistar.— Essa é a ideia, Ana.Ficamos ali conversando por um bom tempo. Caio era divertido, simpático e tinha um jeito leve de falar que me fez esquecer completamente dos dramas da minha vida.— Quer dar uma esticadinha depois dessa baladinha? — perguntou, de forma sugestiva.— Vai ficar pra próxima. Vou ligar para minhas amigas e voltar para o hotel.Me despedi dele, liguei para as meninas e avisei que estava a caminho. Elas as
— Não acredito… — murmurei.— Quem é aquele deus grego? — perguntou Rafa, arregalando os olhos.— É o Gabby. Meu irmão. — respondi, sorrindo.— Eita! Que o Gabriel ficou bonito assim? — Rafaela deu uma risadinha. — Quem diria que o fedelho ficaria tão...— Gostoso! Pode dizer, amiga. Meu irmão é um gato mesmo. Mas não chama ele de fedelho, vocês têm quase a mesma idade.— Eu sou mais velha — ela disse, revirando os olhos.— Está bom, senhora de sessenta anos.Me aproximei dele com um sorriso malandro e soltei:— Olha só… que lindo, o Gabby veio buscar a irmãzinha.Ele revirou os olhos e tirou os óculos.— Não enche, Ana. Tô de folga hoje e consegui vir, só por isso. E eu não queria que a mamãe viesse te buscar, porque teria que trazer o Nandinho.— Claro, claro. Mas bem que você estava com saudade de mim, admite.Ele me encarou com aquele jeitão sério de sempre, mas depois sorriu de leve.— Depois que você me ajudou a comprar meu carro, como eu poderia negar uma carona?— Sabia que me
O sol ainda nem tinha subido direito quando meus olhos se abriram com um estalo. Virei na cama com cuidado e olhei para o lado. Nandinho dormia profundamente, a respiração suave e ritmada, e o rostinho corado já não parecia tão quente como na noite anterior.Toquei sua testa com delicadeza. Estava fresquinha.Sorri, aliviada.Levantei devagar para não acordá-lo e fui direto para o banheiro. Lavei o rosto, prendi o cabelo de qualquer jeito num coque e desci as escadas pisando leve, quase flutuando. A casa ainda estava em silêncio, com aquele cheirinho de manhã misturado ao aroma discreto do sabão da cozinha. O tipo de paz que só as primeiras horas do dia conseguem oferecer.Chegando à cozinha, abri a geladeira e peguei os ingredientes para o mingau favorito do meu pequeno. Ele amava o de aveia com banana amassada e um toque de canela — receita de família que aprendi.Enquanto a aveia cozinhava no leite, cortei a banana com capricho e dei uma olhada nas mensagens do celular, mas não res
Depois de um tempo, Nandinho despertou sorrindo e pedindo para brincar. Disse que queria montar o quebra-cabeça dos dinossauros. Minha mãe o ajudou a se ajeitar no tapete da sala, e eu fui buscar as peças.Ficamos nós três no chão por um bom tempo, montando dinossauros, errando algumas peças, acertando outras e rindo das nossas confusões.— Esse aqui parece o titio Gabby! — Nandinho falou, apontando para um dinossauro de óculos.— Pior que parece mesmo — respondi, gargalhando.— Mas o titio é legal. Ele me deu aquele carrinho que faz barulho de verdade!— É, ele adora mimar você — disse minha mãe.— Ele me chama de “meu campeão” ou de “meu super-herói”. Eu gosto disso.— E você é mesmo, meu amor — falei, beijando sua bochecha.Terminamos o quebra-cabeça quase na hora do almoço. Levei Nandinho para o quarto para trocar de roupa, e ele pediu para vestir a camiseta do super-herói preferido dele. Depois de pronto, desceu correndo (não sem antes levar minha bronca de leve por não ter esper
Assim que cheguei em casa, fui recebida por um Nandinho eufórico correndo até mim, com os braços abertos.— Mamãããããe! — ele gritou, se jogando no meu colo.— Meu amor! — respondi, apertando aquele corpinho gostoso contra o meu.Depois de encher ele de beijos, me joguei no tapete da sala com ele. Pegamos os carrinhos, e montamos a pista maluca de obstáculos. — Mamãe, você é a melhor corredora do mundo! — Nandinho falou, rindo enquanto nossos carrinhos batiam um no outro.— Claro, né? Aprendi com o melhor piloto de todos: você! — brinquei, fazendo cócegas na barriga dele.Ficamos um bom tempo naquela farra até que minha mãe apareceu na porta da sala, sorrindo com carinho.— Vamos dar um tempinho agora, meu amor. A sua mamãe precisa descansar um pouco — ela disse.— Tá bom, vovó — ele respondeu, ainda com o rosto iluminado de felicidade.Nandinho pegou suas coisas para colorir e começou a se concentrar. Subi para o meu quarto, precisava me arrumar para o jantar com Enzo, mas confesso
O clima começou a mudar. O vinho, as risadas, os olhares que demoravam mais do que deveriam. A tensão entre nós era quase palpável, eletrificando o ar. Um calor subiu pelo meu corpo, fazendo meu coração acelerar sem permissão.O jantar, que deveria ser apenas uma conversa amigável, estava ganhando contornos perigosamente sexy. E eu precisava puxar o freio antes que acabasee acordando na cama dele ou em algum quarto de motel. Respirei fundo, decidida. Apoiei a taça na mesa e o encarei com seriedade.— Enzo, tenho algo sério pra te contar — comecei, sentindo minhas mãos suarem.Antes que ele pudesse responder, uma voz fria e cortante atravessou o ambiente, cortando a nossa conexão como uma lâmina afiada.— Que decepção, Enzo.Virei o rosto em direção à voz. E lá estava ela. Heloíse.Parada à beira da nossa mesa como uma estátua de arrogância, impecavelmente vestida, olhando para mim como se eu fosse a sujeira embaixo do sapato dela.— Decepcionada por ver meu filho recusar um jantar co