Mundo ficciónIniciar sesiónLee Yong.
Meu chefe. Meu primo. Meu irmão. Meu melhor amigo… e, às vezes, meu filho. A gente cresceu junto, praticamente grudado. Temos a mesma idade, fomos criados lado a lado, estudamos nas mesmas escolas, aprendemos a andar a cavalo juntos e passávamos tardes inteiras competindo quem nadava mais rápido. Mais tarde veio o golfe ,que ele odiava, mas jogava só pra me provocar. Desde pequenos, sempre fomos diferentes. Ele era o certinho, o líder, o perfeccionista. Eu era o debochado, o impulsivo, o que arrumava confusão e ainda fazia piada depois. Mesmo assim, a gente se completava. Quando contei pra ele que era gay, achei que ia se afastar. Mas o Yong foi o primeiro a me apoiar. Sem hesitar, sem julgamento, sem aquele olhar torto que muita gente lança. Disse apenas: — “E daí? Você continua sendo o Hyun. E é isso que importa.” Naquele dia, ele se tornou mais que meu primo. Virou meu irmão de alma. E quando o pai dele adoeceu, e ele assumiu a presidência da Crystal Joias aos 25 anos, fez questão de me levar junto. Disse pros meus tios: — “Ou o Hyun vem comigo como vice-presidente, ou esqueçam que eu existo.” E eles aceitaram. Sem votação. Sem discussão. Foi a primeira cláusula que ele impôs como novo CEO. E até hoje, eu nunca deixei de ser grato por isso. O Yong é um homem incrível. Inteligente, focado, às vezes até demais. Tem uma mente brilhante pra negócios, uma frieza que impõe respeito e um senso de responsabilidade absurdo. O que ele tem de profissional, tem de desmiolado. O cara me dá muito trabalho. Não pode ver um rabo de saia. Coitada da Nayeon. E o pior é que sempre sobra pra mim, pra limpar as bagunças e as “escapadas” dele. Eu nunca sei se a Nayeon realmente não percebe… ou se finge que não vê. Ela é obcecada por ele. Aliás, todas as mulheres que ele se envolve acabam assim. Tenho que admitir: ele merece o crédito. É rico, bonito, poderoso. Só tem um defeito : Não pode ver uma mulher. E se for estrangeira, então… aí a coisa fica feia. Proteger o Yong é, basicamente, protegê-lo de si mesmo. E de certas “precauções” que os acionistas vivem tentando colocar ao redor dele. A senhorita Park foi uma dessas precauções. Uma mulher de quarenta e dois anos ,tudo fora do cardápio do Yong. Mais velha, reservada, muito séria e um tanto ranzinza. Colecionava gatos e plantas, e parecia encontrar mais alegria neles do que em qualquer interação humana. Tinha um gosto duvidoso para roupas : terninhos bege, sapatos quadrados e colares de bolinha que pareciam herança de alguma tia-avó. O perfume? Inesquecível, mas não pelos motivos certos: uma mistura de incenso barato com lavanda vencida. Nunca foi casada, nunca apareceu com namorado, pois ela gostava de meninas. Mas, como qualquer bom vice-presidente, nunca falei nada. Apenas observei e agradeci mentalmente, porque ela era imune ao charme do Yong. E, apesar de tudo, era excelente no que fazia. Organizada, disciplinada e dona de uma ética quase assustadora. Nada passava despercebido por ela. Foi a escolha perfeita para o cargo de secretária pessoal dele. Pelo menos eu não tinha problemas com secretária nem com nenhuma outra funcionária , os pais do Yong deixaram as coisas claras desde o começo: “Se te pegarem de gracinha com qualquer funcionária, volta pro Estados Unidos e será deserdado.” Eles toleravam erro, toleravam deslize, mas um escândalo? De jeito nenhum. Com isso, e com a senhorita Park no lugar, eu finalmente dormia tranquilo. Mas, do nada, a senhorita Park pediu demissão. Sem escândalo, sem aviso prolongado, apenas uma carta impecavelmente redigida e uma expressão indecifrável. Saiu como entrou: silenciosa, elegante e deixando um buraco difícil de preencher. Tentamos substituí-la, claro. Abrimos processo seletivo interno, depois externo. Foram semanas de entrevistas, testes e reuniões. Cento e vinte e sete currículos, trinta entrevistas, cinco finalistas… e nada. Nenhuma parecia à altura da senhorita Park. Ou eram bonitas demais e o Yong já se distraía só de olhar as fotos , ou não tinham o preparo necessário pro cargo. Foi quando a diretoria sugeriu buscar alguém da filial do Brasil. Na hora, algo dentro de mim gritou: armadilha. Eu sabia que aquilo era uma jogada perfeita pra fazer o Yong cair. Sabia que os acionistas estavam jogando sujo. Tentei contornar a situação de todo jeito. Coloquei na mesa todos os argumentos possíveis: o custo de trazer uma funcionária de outro país, o processo de adaptação, as diferenças culturais, o visto corporativo. Mas eles insistiram. Disseram que seria “um teste interessante”, que “faria bem pra imagem da empresa ter uma funcionária internacional”. Besteira. Eu sei o que eles queriam de verdade. Queriam ver o Yong fracassar. Queriam ver o homem perfeito perder o controle, cair na graça de uma estrangeira linda exatamente do jeito que ele gosta. Era uma armadilha disfarçada de decisão estratégica. E, claro, o destino fez questão de colaborar. E, adivinha quem passou com nota máxima? Anne Lopes. Brasileira, jovem, formada em Comércio Internacional, fluente em inglês e coreano. Portfólio impecável, histórico limpo, recomendação excelente tudo perfeito demais Quando mostrei a foto dela pro Yong ele nem prestou muita atenção na foto dela achei muito estranho fiquei com a pulga atrás da orelha e estava certo. O Yong fingiu desinteresse. Fez aquele teatrinho de sempre, olhando a ficha da Anne como se estivesse apenas analisando o currículo de uma funcionária qualquer. Mas bastou eu sair da sala por cinco minutos, e o danado correu pro computador pra bisbilhotar o I*******m da “funcionária brasileira”. Stalkou a vida dela inteira. Viagem, faculdade, café da manhã, cachorro — tudo. Descobri porque, assim que ele saiu da sala dele, fui verificar o computador. Velho hábito. Sempre faço isso quando ele finge ser mais profissional do que o normal. E, como sempre, estava certo. Histórico aberto, perfil pesquisado, curtidas discretas. O mesmo padrão de sempre: ele vai lá, investiga a vida da próxima “vítima” dele até decorar o nome dos amigos e o tipo de vinho favorito. Foi aí que entrei em alerta. Sugeri pra Nayeon uma viagem, pra ver se eles conseguiam se reconectar o relacionamento já vinha capengando fazia meses. Ela adorou a ideia. Disse que a viagem foi perfeita, que eles estavam se entendendo, que o Yong parecia mais carinhoso, mais presente. Falei comigo mesmo: “Finalmente esse casamento sai.” Mas bastou ele ver a Anne pessoalmente. O cara nem disfarçou. E a Armadilha ( apelido carinhoso que eu dei pra ela) também não colabora, e querida também quer ele, mal entrou e já quer “mostrar serviço “ — atenciosa demais…perfeita demais… bonita demais… Sempre com uma roupa acentuando suas curvas ,sempre com um perfume que gruda na sua cabeça, ela quer chamar a atenção do Yong e ele é fraco para isso. Quando sugeri que ela usasse uniforme, ele quase me demitiu! Agora eu passo a maior parte do meu tempo vigiando esses dois do que trabalhando. Mas eu não vou deixar o meu primo cair. Não vou deixar os acionistas derrubarem ele usando a secretária estrangeira como isca.






